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Noite dos Enredos 2026: samba, homenagens e emoção na Cidade do Samba

  • Foto do escritor: Ana Soáres
    Ana Soáres
  • 9 de ago.
  • 3 min de leitura

Entre Batuques e Memórias: A Noite em que o Samba Parou para Reverenciar Seus Mestres


Noite dos Enredos 2026: samba, homenagens e emoção na Cidade do Samba
Créditos: Eduardo Hollanda/Liesa

Um minuto de silêncio que falou mais alto que qualquer surdo

O som grave dos tambores cessou. As luzes, até então pulsantes, suavizaram. E em meio a 8.600 corações comprimidos na mesma respiração, um minuto de silêncio cobriu a Cidade do Samba, no Rio de Janeiro, na última sexta-feira (8). Era a reverência a Arlindo Cruz, mestre do samba, cria do Cacique de Ramos, cuja voz e poesia marcaram gerações. Ao lado dele, também foi celebrado Bira Presidente, fundador do mesmo bloco lendário e guardião de uma tradição que moldou o que conhecemos como samba carioca.

Não era só um evento. Era um ritual coletivo, onde cada palma, cada lágrima, cada verso era parte de uma liturgia popular. A Noite dos Enredos não apenas apresentou os sambas que irão ecoar na Sapucaí no Carnaval 2026 — ela reafirmou a memória viva de um patrimônio imaterial brasileiro.

O Cacique abre a roda

Foi o Cacique de Ramos quem deu o tom da noite dos enredos 2026. Fundado por Bira Presidente e berço de Arlindo Cruz, o bloco abriu com uma roda de samba que incendiou o público antes mesmo da primeira apresentação oficial. Entre refrões imortais e improvisos que lembram quintal de subúrbio, o calor humano se somou ao calor físico: mais de cinco toneladas de alimentos arrecadadas para instituições carentes. Um samba que mata a fome — no corpo e na alma.

Do Lula à Rita Lee: enredos que são espelhos do Brasil

Cada escola teve 12 minutos para encantar, provocar, emocionar. Um desfile antecipado de narrativas:

  • Acadêmicos de Niterói, estreante no Grupo Especial, escolheu retratar a trajetória de Lula, numa mistura de política e afetividade popular.

  • Mocidade Independente mergulhou na irreverência e genialidade de Rita Lee, traduzindo rock em samba com liberdade criativa.

  • Paraíso do Tuiuti evocou o misticismo de uma vertente religiosa afro-cubana, enquanto a Unidos da Tijuca reacendeu a voz potente e marginalizada de Carolina Maria de Jesus.

  • Vila Isabel exaltou as vertentes culturais de Heitor dos Prazeres, com Salgueiro prestando tributo à grande carnavalesca Rosa Magalhães.

  • Mangueira resgatou a figura lendária de Mestre Sacaca, enquanto a Portela apresentou a história de Príncipe Custódio, unindo passado e presente em um canto orgulhoso.

Noite dos Enredos 2026: Entre homenagens e encontros

A noite ainda guardava surpresas: Mestre Ciça foi celebrado pela Viradouro em vida, a Imperatriz Leopoldinense vestiu-se da ousadia cênica e musical de Ney Matogrosso, e a Grande Rio trouxe o pulsar do Manguebeat, misturando maracatu, rock e frevo em linguagem carnavalesca.

A campeã Beija-Flor encerrou as apresentações oficiais encarnando o maior candomblé de rua do mundo, o Bembé do Mercado, num transe coletivo que misturou música, dança e devoção.

Um final com cheiro de quintal

Se a noite já era histórica, o encerramento elevou o encontro à categoria de lenda. O Grupo Fundo de Quintal, casa e cátedra de Bira Presidente, convidou Teresa Cristina, Sombrinha e Dudu Nobre para um tributo que foi mais que show — foi herança passada de mão em mão.

“Samba não é só música. É memória, é resistência, é um jeito de existir”, disse Teresa Cristina no palco, arrancando aplausos que mais pareciam ondas.

O que está por vir

O Rio Carnaval 2026 já tem data marcada: 15, 16 e 17 de fevereiro, com as seis melhores voltando para o Sábado das Campeãs, no dia 21. Mas a Noite dos Enredos mostrou algo que transcende datas: a força de uma cultura que, mesmo diante da velocidade e da pasteurização da indústria do entretenimento, insiste em celebrar a raiz, o corpo e a voz do povo.

Entre luzes de LED e transmissões ao vivo, ainda há espaço para o momento em que tudo para — e a cidade, inteira, escuta o som do silêncio. É nesse intervalo que a gente entende: o samba não é do passado, ele é a nossa forma mais antiga e mais moderna de dizer que seguimos vivos.



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