Orgulho com vista para o mar: quando luxo vira palco de resistência no Pride Month
- Da redação
- 23 de jun.
- 4 min de leitura
Em um Brasil ainda desigual e hostil para corpos dissidentes, o Fairmont Rio transforma sua hospitalidade em manifesto durante o Mês do Orgulho LGBTQIAPN+, com ações culturais, visibilidade e o show de Diego Martins como ápice de uma celebração que vai além do arco-íris.

"Quando cheguei ao hotel e vi a bandeira ali, tremulando imensa na fachada, chorei. Era como se dissesse: você pertence aqui."
O relato de Carla Mendes, 37 anos, mulher trans e advogada, não está estampado em outdoor, mas reverbera mais alto que qualquer marketing. Neste mês de junho, em meio a um Brasil tensionado por discursos conservadores e retrocessos sociais, o Fairmont Rio de Janeiro Copacabana faz mais do que uma campanha: constrói espaço de existência. E existência é o mínimo para quem passa a vida inteira tendo que pedir permissão para ser.
Na cobertura do hotel, a icônica Infinity Pool se prepara para receber o show do ator e cantor Diego Martins, rosto da nova geração de artistas LGBTQIAPN+ que misturam arte, afeto e resistência. A apresentação, marcada para o dia 27 de junho, às vésperas do Dia Internacional do Orgulho, promete não ser apenas entretenimento — mas uma afirmação pública de liberdade e pertencimento, em um dos cartões-postais mais emblemáticos do país.
Enquanto grande parte do Brasil LGBTQIAPN+ ainda enfrenta medo, invisibilidade e violência, uma rede de iniciativas culturais, simbólicas e econômicas busca afirmar o que já deveria ser óbvio: existir com dignidade é um direito inegociável.
Um ato de orgulho — e de reparação
O Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo há mais de 15 anos consecutivos, segundo levantamento da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais). Em 2024, foram 135 assassinatos, a maioria de mulheres trans negras e periféricas. Além disso, a violência simbólica segue em alta: discursos de ódio, evasão escolar por bullying, desemprego estrutural e religiosidade excludente ainda moldam o cotidiano de milhares.
Por isso, quando um hotel de luxo como o Fairmont Rio abraça o Mês do Orgulho com uma programação extensa — que vai de drinks temáticos a descontos para membros do movimento Rio de Cores, passando por ações visuais na fachada —, o gesto extrapola o marketing. É um manifesto de hospitalidade como ferramenta de justiça social.
“Acolher a diversidade não é só abrir a porta, é garantir que ninguém tema atravessá-la”, diz Netto Moreira, gerente geral do Fairmont. Com mais de duas décadas na hotelaria de alto padrão, ele defende que luxo e inclusão não apenas podem conviver — como devem.
Um palco para o amor e para a arte
O show de Diego Martins, que viveu o personagem Kelvin na novela Terra e Paixão, da Globo, será o ápice da programação. Com um repertório autoral que mistura MPB, pop e uma estética que desafia normas de gênero, Diego representa uma nova fase da música brasileira — afetiva, politizada e performática.
“Estar no Fairmont, cantando para corpos livres, visíveis e celebrados, é uma forma de devolver ao Rio parte do amor que me construiu. A arte é o meu jeito de existir, de curar e de revidar com beleza”, afirma o cantor em entrevista à Revista Pàhnorama.
O espaço, geralmente reservado a eventos privados, ganha um novo significado com o evento: vira território de afirmação, e não exclusão. Um palco onde a diversidade brilha sem medo — e com vista para o mar.
Visibilidade é só o começo
A decoração da fachada com a bandeira LGBTQIAPN+ durante todo o mês de junho, e as iluminações especiais nos dias 27 e 28, são gestos simbólicos, mas carregados de impacto. Na era das redes sociais e da cultura visual, tornar-se cenário é também tornar-se voz.
E não é apenas estética: os bares do hotel, como o Spirit Copa Bar, apresentam drinks temáticos como o Drink Andy — uma homenagem à irreverência queer e ao artista Andy Warhol. São pequenos rituais de pertencimento que fazem diferença para quem, por séculos, teve que se esconder.

Turismo e inclusão: um novo paradigma?
A união entre experiências de luxo e ações afirmativas ainda é rara no Brasil, mas ganha força. A Accor, rede à qual pertence o Fairmont, integra o ranking LGBTQ+ 101, promovido pelo Instituto Mais Diversidade e pela revista Fórum de Turismo LGBT. Ainda assim, é preciso ir além das datas comemorativas.
“É fácil pendurar a bandeira em junho. Difícil é manter os compromissos em julho, agosto, setembro...”, provoca a ativista e empresária trans Julianna Monteiro, fundadora da Rede Transforma Turismo, que atua com inclusão real no setor. Ela elogia a iniciativa do Fairmont, mas lembra:
“Visibilidade importa, mas representatividade no corpo funcional, nas lideranças e na cadeia produtiva é o que muda vidas.”
Orgulho não é um tema, é um direito
Se há algo que o Mês do Orgulho nos lembra é que amar, ser, existir — ainda são, para muitos, atos de coragem. Mas também de alegria. De dança. De beleza. E sim, de celebração. Porque como diz o poeta trans Lucas Veiga, “nem todo orgulho nasce da dor; alguns brotam da arte de continuar”.
O Fairmont, com sua vista deslumbrante, seu serviço cinco estrelas e agora, com uma programação que abraça corpos historicamente marginalizados, dá um passo importante. Não resolve todas as injustiças. Mas ajuda a construir uma narrativa onde o luxo também é espaço de afeto, liberdade e afirmação.
E se todo lugar fosse um lugar seguro?
É a pergunta que fica. E que deveria ecoar não apenas nos corredores de um hotel, mas nos lares, nas escolas, nos parlamentos e nas praças. Porque enquanto houver medo de andar de mãos dadas, de usar uma roupa, de ser chamado pelo nome certo, a celebração ainda será também denúncia.
Mas que bom que, por uma noite em Copacabana, ao som de Diego Martins e sob luzes de arco-íris, a liberdade brilhou sem disfarce. Que ela se espalhe. Que vire rotina. Que seja permanente.
Se um hotel cinco estrelas pode escolher ser mais do que um destino — pode ser voz, pode ser ponte —, o que impede nossas casas, escolas, empresas e governos de fazerem o mesmo?
Porque ser acolhido não é privilégio. É direito. E, em 2025, isso já deveria estar estampado em todas as fachadas do Brasil.
Serviço:
Show de Diego Martins no Fairmont Rio
Data: 27 de junho de 2025
Horário: 20h às 22h
Local: Infinity Pool – Fairmont Rio de Janeiro, Copacabana
Reservas: (21) 2525-1232
Couvert Artístico: R$ 45
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