O papel do Brasil diante dos desafios climáticos contemporâneos: economia circular e bioeconomia como alternativa possível ou promessa vazia?
- Rafaela Grande

- 16 de jul.
- 4 min de leitura
Pais enfrentará mudanças radicais com relação ao meio ambiente e condições de vida
É cada vez mais urgente que o Brasil tome providências com relação ao meio ambiente. O caos já está instalado com relação às mudanças climáticas, e parece que a situação não tem volta. O que a população está fazendo para reverter isso? Será que as empresas estão de fato cumprindo o papel de ser sustentável, menos poluidor, e mais transparente?
Dados do IPCC (Painel Intergovernamental sobre mudanças climáticas) de 2019 indicam que o aquecimento do planeta pode causar uma redução nas safras de milho no Brasil em 5,5% a cada grau de aquecimento. Com a diminuição da produção de alimentos e o consequente aumento dos preços, muitas pessoas sofrerão com a questão da segurança alimentar, ou seja, com o acesso a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente e permanente.
A economia circular no Brasil continua em construção e possui algumas iniciativas legislativas importantes. O Projeto de Lei 1874/2022, que institui a Política Nacional de Economia Circular, foi aprovado no Senado e está em tramitação. Além disso, o Decreto nº 12.082/2024 instituiu a Estratégia Nacional de Economia Circular, visando a transição para um modelo mais circular de produção. Até quando as autoridades vão negligenciar tamanho problema que estamos vivenciando?

Segundo Yuri Borba, fotógrafo, ambientalista, bacharel em direito ambiental, “a economia circular é um modelo de produção e consumo que tem como objetivo reduzir o desperdício e otimizar o uso de recursos naturais, promovendo um impacto ambiental menor em comparação ao modelo tradicional chamado de economia linear (extrair → produzir → consumir → descartar). Essa economia representa uma abordagem estratégica e sustentável com grande potencial de benefícios ambientais para o Brasil, considerando especialmente a rica biodiversidade, os recursos naturais abundantes e os desafios de gestão de resíduos enfrentados pelo país”.
Redução da geração de resíduos - Em vez de descartar produtos após o uso, a economia circular propõe reutilização, reciclagem e reprocessamento, diminuindo significativamente o volume de lixo nos aterros e lixões — problema ainda comum em muitas regiões do Brasil.
Preservação dos recursos naturais - O Brasil é um dos países com maior riqueza em recursos naturais (como: água, madeira, minérios e biodiversidade). A economia circular reduz a extração e o uso excessivo desses recursos, promovendo modos de produção menos destrutivos ao meio ambiente.
Combate à poluição ambiental - A circularidade contribui para a diminuição da contaminação por plásticos, metais pesados e produtos químicos, que afetam diretamente biomas como a Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica.
Fomento à bioeconomia e inovação sustentável - Estimula o uso de materiais biodegradáveis, reaproveitamento de resíduos orgânicos, valorização de bio produtos e desenvolvimento de tecnologias verdes — especialmente relevantes para o agronegócio e as indústrias alimentícia e florestal no Brasil.
Enfrentamento às mudanças climáticas - A economia circular ajuda a reduzir emissões de gases de efeito estufa, ligadas à produção linear (extrair-produzir-descartar). Com práticas circulares, o Brasil pode avançar em compromissos como o Acordo de Paris, contribuindo para mitigar os efeitos do aquecimento global.
Geração de emprego verde e inclusão social - Muitas práticas circulares, como a reciclagem e a compostagem, geram oportunidades para cooperativas, catadores e negócios locais. Isso fortalece a economia local e promove uma transição justa e inclusiva.
Exemplos práticos no Brasil:
Cooperativas de reciclagem urbanas; Iniciativas de logística reversa (como de eletroeletrônicos e embalagens); Agricultura regenerativa e reaproveitamento de resíduos orgânicos; Projetos de eco design e moda sustentável. A ligação entre a economia circular e a bioeconomia no Brasil é forte e estratégica, pois ambas compartilham objetivos semelhantes de sustentabilidade, uso eficiente de recursos e redução de impactos ambientais.
O que é bioeconomia?
É a economia baseada na utilização sustentável de recursos biológicos renováveis — como florestas, biomassa, resíduos agrícolas e biodiversidade — para produzir alimentos, energia, materiais e produtos químicos. A bioeconomia é uma aliada poderosa da preservação ambiental no Brasil, especialmente por integrar ciência, tecnologia e uso sustentável da biodiversidade. Em vez de explorar a natureza de forma destrutiva, a bioeconomia propõe gerar valor com conservação, promovendo desenvolvimento econômico com responsabilidade ecológica. O Brasil abriga 20% da biodiversidade global (Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica etc.). A bioeconomia transforma essa biodiversidade em insumos para alimentos, cosméticos, fármacos e bioplásticos — sem destruí-la.
Redução do desmatamento - Ao criar renda com floresta em pé, a bioeconomia torna a conservação mais lucrativa do que o desmatamento ilegal.
Substituição de produtos poluentes - A bioeconomia promove o uso de bioprodutos em vez de derivados fósseis. Exemplos:
Biocombustíveis como etanol e biodiesel.
Bioplásticos compostáveis a partir de mandioca, milho ou cana.
Reaproveitamento de resíduos - Bioeconomia também inclui economia circular biológica: compostagem, biodigestores, reaproveitamento de bagaço, cascas, folhas etc.
Geração de emprego sustentável - Incentiva cadeias produtivas locais com baixo impacto ambiental, promovendo emprego e renda verde.
“Na minha visão, o Brasil está apenas começando a se mexer em relação à economia circular. Vemos o tema em eventos, rodas de conversa, mas ainda estamos distantes de uma implementação real, estruturada e com impacto de verdade.
Em países da Europa, o setor da moda já adota o chamado passaporte digital de produto, que obriga as marcas a informarem como cada item foi feito, quantos recursos naturais foram utilizados, e qual o destino mais adequado para o descarte. E mais do que isso: existe fiscalização, multas e sanções reais, inclusive para marcas de Fast Fashion que não se adequam aos critérios ambientais. Já no Brasil, o governo não está engajado como deveria. As ações relevantes vêm da própria sociedade civil: pequenos empreendedores, comunidades, coletivos e cidadãos que estão fazendo o possível com poucos recursos. A política pública, por enquanto, está ausente dessa transição. E aí fica o questionamento: como esperar que empresários e consumidores mudem seus comportamentos se nem o Estado está criando as condições básicas para essa mudança acontecer? Sem incentivo, sem regulação, sem fiscalização, a transição para a circularidade se torna muito mais lenta e desigual. Vale lembrar que a economia circular não é só uma pauta ambiental, ela também é uma oportunidade econômica. Ao repensar processos, reduzir desperdícios e reutilizar materiais, empresas economizam recursos e se tornam mais eficientes. É um modelo que beneficia o planeta, sim, mas também é vantajoso para os negócios”, conclui Camila Giestas, Pós-graduanda em gestão estratégica para negócios de moda pela FAAP.








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