Quando o funk carioca invade o tradicional palco do Theatro Municipal
- Renata Freitas
- 23 de jul.
- 3 min de leitura
A comemoração dos 55 anos do Dia Nacional do Funk em grande estilo

O Dia Nacional do Funk é comemorado no dia 12 de julho, que teve sua origem no tradicional Baile da Pesada e foi oficializado pela Lei 14.940/2024, que institui o Dia Nacional do Funk. O Baile da Pesada foi criado em 12 de julho de 1970, na tradicional casa de shows Canecão, no Rio de Janeiro, pelos DJs Ademir Lemos e Big Boy. Comandava a abertura da cultura da Black Music no país, com soul, funk americano e hits nacionais como Tim Maia e Cassiano. Considerado um fenômeno cultural que iniciou a ponte entre a música da periferia e as elites da Zona Sul. Inaugurou-se, então, o Movimento Black Rio, um movimento de contracultura que misturava funk, soul e samba e afirmava a identidade negra brasileira. Entre as décadas de 1980 e 1990, aconteceu a transição para o funk carioca, com o surgimento do funk nas periferias, que ficou marcada por DJs como DJ Marlboro, que popularizaram a batida acelerada e introduziram o MC. Passando pelas equipes de som como Soul Grand Prix e Furacão 2000, traduziram o impacto do Baile da Pesada nas comunidades, organizando eventos que eram verdadeiros ecossistemas culturais com batidas, dança, moda e estética periférica. Até os dias atuais, que temos o Funk consagrado internacionalmente como cultura brasileira de alto nível, só nos resta reconhecê-lo como tal, também. E, nesse intuito é que se realizam eventos como o que aconteceu na noite do dia 21 de julho, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em comemoração aos 55 anos desse movimento.
Dia Nacional do Funk no Theatro Municipal Foto: arquivo pessoal

Rogério Fernandes, diretor-executivo da Casa Funk-se, centro de referência de cultura e educação antirracista a partir do funk, é quem produz esse evento de importância simbólica inegável. Ver o tradicional palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro ser invadido por dançarinos funkeiros em toda a sua diversidade é, no mínimo, emocionante. Aquele mesmo espaço que ocupa, no imaginário coletivo, o lugar do erudito quase inalcançável da elite cultural e intelectual, por uma noite abrigou a batida inconfundível do funk carioca e seu humor irreverente, para dizer o mínimo. E, se pensarmos no patrono do Teatro, reverenciado na própria arquitetura do local e lembrado em toda produção artística teatral, o deus Dionísio, entenderemos que nada poderia fazer mais sentido que a subversão do Funk invadindo a suntuosidade de uma construção centenária inspirada na Ópera de Paris.
Segundo Rogério, em discurso emocionado ao final do evento, vitória gigante para o movimento funk e seus trabalhadores incansáveis, que mantêm viva a tradição por gerações, apesar da ausência completa de políticas públicas para a manutenção dessa expressão cultural genuinamente brasileira. Em seu perfil do Instagram, destaca que a comemoração é exclusiva para esses trabalhadores em diversas frentes, desde equipes de som, DJs, MCs, dançarinos, produtores até pesquisadores e imprensa dispostos a contribuir positivamente com o movimento. E nós, da Revista Páhnorama, tivemos a honra de participar desse momento.
Naldo Benny e Ellen Cardoso no Dia Nacional do Funk no Theatro Municipal Foto: arquivo pessoal
O evento contou com um espaço para a interação da imprensa com nomes importantes da cena, na entrada do Theatro, aos pés de sua escadaria deslumbrante. Após esse momento, todos foram direcionados à Sala de Espetáculos, a Grande Sala, para o início das apresentações. Grupos de dançarinos, que viveram a experiência do Funk desde sua origem até os dias atuais, se apresentaram por décadas demonstrando sua evolução no ritmo e nos movimentos. Então, a alegria toma conta do palco e da plateia, uma sensação que, acredito, tomou a todos, no reconhecimento da importância desse dia para a cultura carioca e brasileira.
Nomes importantes foram citados e celebrados, com destaque a Abdullah Figueiredo, cantor do primeiro funk em português e compositor de outros grandes sucessos, precursor na cena. Mas, para além de destacar agentes imprescindíveis, o produtor do evento ressalta que as possíveis disputas de subgêneros ou sobre quem começou primeiro, precisam acabar e dar espaço à união de todos para o fortalecimento desse movimento, mais necessário do que nunca, para a resistência e sobrevivência de nossa história.
Dançarinos no palco do Theatro Municipal no Dia Nacional do Funk - Foto: arquivo pessoal
Comments