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Sobe Aê! A primeira cerveja artesanal das favelas do Rio inaugura um novo capítulo do turismo comunitário e da economia criativa nas periferias

  • Foto do escritor: Ana Soáres
    Ana Soáres
  • 25 de nov.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 27 de nov.

O Rio de Janeiro testemunha o nascimento de um novo símbolo cultural. Não vem da Zona Sul turística, nem dos cartões-postais que estampam as vitrines internacionais. Surge do alto dos morros, dos becos vivos, das vielas férteis de histórias e afetos que há décadas sustentam a identidade da cidade. Nasce a Sobe Aê!, a primeira cerveja artesanal criada para representar, com autenticidade e orgulho, a vida das favelas cariocas.


Sobe Aê! A primeira cerveja artesanal das favelas do Rio
Divulgação

Idealizada por Renan Monteiro, fundador do Mirante Rocinha e do aplicativo Na Favela Turismo, a Sobe Aê! Já nasce com endereço certo e propósito declarado. Sua venda será exclusiva nos bares da Rocinha, Vidigal e PPG, garantindo que o lucro circule dentro das próprias comunidades. Um gesto simples, mas profundo, em um país onde o dinheiro gerado pela favela raramente retorna para ela.

Renan traduz o espírito da marca em uma frase que ecoa como manifesto. “A Sobe Aê! Nasce da experiência de receber visitantes no morro. É a resposta à pergunta do turista: ‘o que é daqui?’ Queremos oferecer algo real, bem-feito e que gere retorno para a comunidade.”

A fala revela um ponto crucial dos atuais debates sobre turismo comunitário. Segundo o Observatório de Turismo do Rio, o fluxo de visitantes em favelas aumentou 22 por cento nos últimos três anos. No entanto, apenas cerca de 8 por cento das iniciativas dirigidas ao turismo têm gestão local. O cenário é sintomático: o interesse existe, mas a renda nem sempre permanece com quem constrói a experiência.

A Sobe Aê! Se coloca justamente no sentido inverso, como uma ferramenta de reposicionamento social. Uma bebida pensada dentro da lógica da economia criativa das periferias, setor que, de acordo com dados do Sebrae de 2024, movimenta mais de 15 bilhões de reais por ano no Brasil, mas ainda é sub-representado nas políticas públicas.

O lançamento oficial, marcado para o dia 6 de dezembro, transforma-se em um acontecimento cultural. A programação inclui tour guiado pelo Mirante Rocinha, degustação da cerveja, exposição fotográfica sobre a criação da marca, bate-papo com o idealizador e apresentações musicais com artistas locais. Uma festa que não é apenas um evento comercial, mas uma celebração coletiva da potência criativa das favelas.

E, ainda que a produção inicial seja realizada em Nova Friburgo, o compromisso de futuro está claro.

“Apesar de ter sido elaborada em Nova Friburgo, nossa meta para o próximo ano é viabilizar a produção dentro da própria comunidade”, explica Renan Monteiro.

Ele reforça que o projeto “busca valorizar a cultura das favelas, gerar renda local e oferecer ao visitante um produto autêntico que conte histórias reais”.

A proposta é ousada. Uma cerveja que nasce com identidade territorial definida e que assume que sabor também é memória. Que receita também é pertencimento. Que rótulo também pode ser discurso político.

Sobe Aê! A primeira cerveja artesanal das favelas do Rio
Reprodução

Com a chegada da Sobe Aê!, o visitante ganha mais um motivo para subir o morro, não para observar de fora, mas para se conectar com narrativas produzidas por quem vive ali. E as comunidades conquistam mais uma oportunidade de transformar criatividade em desenvolvimento, autonomia e reconhecimento.

Talvez o Rio esteja diante de uma nova forma de patrimônio: aquele que tem espuma, história e afeto. Uma cerveja que nasce como produto, mas se apresenta como símbolo. E que deixa no ar uma pergunta urgente, que deve atravessar o poder público, o mercado e a própria sociedade:

Estamos prontos para reconhecer a potência econômica e cultural das favelas não apenas como cenário, mas como centro criador?

Se a resposta vier com a mesma ousadia da Sobe Aê!, o futuro promete ser, enfim, coletivo.

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