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A Democratização do Crédito no Brasil: Desafios e Limitações

  • Foto do escritor: Eduardo Mello
    Eduardo Mello
  • 28 de ago.
  • 5 min de leitura

Nos últimos anos, a discussão sobre a democratização do crédito no Brasil deixou de ser um tema restrito aos círculos acadêmicos e passou a ocupar o dia a dia de milhões de famílias e empresas. Em um país historicamente marcado por juros altos e grande parte da população afastada dos mecanismos de investimento, a busca por alternativas seguras, acessíveis e previsíveis tornou-se central para quem deseja conquistar bens ou ampliar o patrimônio. A realidade de milhões de brasileiros — muitos deles com histórico de inadimplência registrado em órgãos como SPC e Serasa — cria uma barreira significativa para entrar em linhas de crédito tradicionais, como financiamentos e empréstimos bancários.

crédito
Milhões de brasileiros com histórico de inadimplência

Nesse cenário, modalidades alternativas como o consórcio vêm se destacando, justamente por oferecerem um acesso mais inclusivo, independentemente da situação financeira do participante.

Um levantamento comparativo recente feito em conjunto com três institutos de consultoria em investimentos analisou os 12 principais instrumentos de investimento e aquisição de crédito no mercado brasileiro. Foram avaliados fatores como tempo para acesso ao recurso, custo em juros ou taxas, retorno esperado, liquidez, previsibilidade, complexidade e risco. O resultado surpreende: o consórcio, tradicionalmente visto apenas como forma de planejamento de compra de bens, desponta como a opção mais estratégica quando tratado como investimento.

O papel da Selic no tabuleiro

O ponto de partida para compreender o cenário é a taxa Selic, que influencia diretamente o custo do crédito no Brasil. Quando a taxa está elevada, modalidades como financiamentos e empréstimos bancários tornam-se mais caros, uma vez que os juros cobrados acompanham a referência básica da economia.

A taxa Selic acaba se tornando uma balança para o momento e futuro de investimentos, ela é determinante para a atratividade de quase todos os investimentos de renda fixa. Títulos públicos, CDBs e LCIs/LCAs se valorizam ou perdem fôlego conforme a Selic oscila. Quando está em alta, favorece investimentos conservadores, garantindo retorno superior à inflação. Por outro lado, quando recua, pressiona o investidor a buscar alternativas mais ousadas — como ações, fundos imobiliários e até mesmo criptomoedas —, que oferecem maior rentabilidade, mas também carregam mais risco.

É nesse contexto que o consórcio ganha relevância. Como não está diretamente atrelado à Selic, mas sim às regras internas de cada grupo e ao valor do bem, ele se apresenta como alternativa menos volátil. A previsibilidade de custos — sem juros, apenas taxas administrativas — coloca o modelo em vantagem quando comparado a outros mais voláteis.

O economista Ricardo Amorim costuma resumir essa equação de forma simples: “O financiamento é a solução da impaciência, mas, em períodos de juros altos, o consumidor paga muito caro por essa urgência”.

Na contramão, o consórcio aparece como uma alternativa interessante: não há cobrança de juros, apenas a taxa de administração. Isso o torna atraente em ciclos de Selic elevada, especialmente para quem não tem pressa imediata. O consultor financeiro Marcelo D’Agosto reforça essa visão ao afirmar que o consórcio é “uma excelente forma de adquirir bens de alto valor, desde que o consumidor esteja preparado para esperar a contemplação”.

Tempo e agilidade no acesso ao recurso

Se a ausência de juros é um diferencial, o tempo de espera é o calcanhar de Aquiles do consórcio. O investidor precisa lidar com a incerteza sobre quando será contemplado, seja por sorteio ou por lance. O prazo médio, segundo dados de mercado, gira em torno de um ano e meio para quem participa com disciplina, embora possa ser mais longo.

Enquanto isso, financiamentos e empréstimos liberam o recurso praticamente de forma imediata, o que explica sua preferência para quem busca rapidez, ainda que a um custo maior. Como alerta Samy Dana, professor da FGV, “no financiamento, a pressa pode sair cara, já que o consumidor muitas vezes paga o dobro ou mais do valor original do bem”.

Nos investimentos clássicos, a liquidez também varia. Poupança e ações permitem acesso instantâneo, enquanto a previdência privada pode engessar o recurso por décadas. Aqui, o investidor precisa alinhar seu perfil ao horizonte de tempo: quem pode esperar encontra melhores oportunidades de retorno.

Segurança e previsibilidade

Outro ponto crucial na democratização do crédito é a segurança. Investimentos atrelados ao Tesouro Direto ou a títulos bancários como CDBs, LCIs e LCAs oferecem previsibilidade e cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), o que os torna atrativos para perfis conservadores.

A Morningstar, referência internacional em análise de fundos, recomenda sempre a busca por instrumentos de baixo custo e previsíveis, o que explica a popularidade dos ETFs no Brasil. Para o consultor Otávio Paranhos, ETFs são “uma forma simples de investir de maneira global e diversificada, desde que se evite modismos e se mantenha a disciplina”.

Ainda assim, esses investimentos exigem algum grau de conhecimento financeiro e, em muitos casos, valores iniciais que afastam parte da população. É nesse ponto que o consórcio volta a se destacar: com parcelas acessíveis, ele oferece a qualquer brasileiro a possibilidade de planejar a compra de um bem sem barreiras ligadas a renda mínima ou histórico de crédito.

Rentabilidade e risco: lados da mesma moeda

O levantamento mostra que o consórcio pode gerar cerca de 30% de lucro na revenda da carta contemplada, superando inclusive investimentos sofisticados quando analisado sob a ótica de custo-benefício. Embora não tenha liquidez imediata, a previsibilidade do processo e a segurança da regulamentação do Banco Central conferem solidez à operação.

No outro extremo, criptomoedas aparecem como a alternativa mais arriscada. Elas ocupam lugar de destaque em rentabilidade e liquidez, mas derrapam em segurança e previsibilidade. São, portanto, instrumentos voltados a um público restrito, disposto a tolerar perdas em troca de eventuais ganhos expressivos.

Ações, fundos imobiliários e ETFs figuram no meio do caminho. Têm boa liquidez, risco moderado a alto, e podem funcionar como complemento de carteira para quem já assegurou uma base sólida em renda fixa ou consórcio.

Inclusão e acessibilidade: quem pode participar?

Outro ponto essencial da democratização do crédito é a facilidade de acesso. A poupança continua sendo o instrumento mais popular: exige pouco conhecimento, não cobra taxas e aceita qualquer valor. Mas sua baixa rentabilidade limita o poder de transformação.

Essa característica explica o crescimento contínuo do consórcio no setor, especialmente entre classes médias e populares, onde a inadimplência é mais comum. O economista Eduardo Moreira resume: “O consórcio é vantajoso para quem busca disciplina financeira e quer fugir dos juros altos. É uma ferramenta de inclusão, porque não exclui quem já enfrentou dificuldades financeiras”.

O que dizem os números

Na pontuação consolidada, que comparou os 12 instrumentos em 13 critérios diferentes, o consórcio ficou isolado na liderança. Na sequência, vieram Tesouro Direto, CDBs e até a poupança, que, apesar da baixa rentabilidade, ainda brilham pela segurança e simplicidade. O financiamento, por sua vez, ocupou as últimas posições, perdendo espaço como alternativa de investimento, embora continue sendo solução imediata para quem não pode esperar.

Ranking Final Consolidado

1.    Consórcio (138)

2.    Tesouro Direto (111)

3.    Poupança / CDB (110)

4.    LCI/LCA (100)

5.    Cripto / FIIs (99)

6.    ETFs (96)

7.    Ações (92)

8.    Previdência (87)

9.    Fundos de Investimento / Financiamento (77)

A Democratização do Crédito no Brasil

 

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