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Ansiedade Profissional: O Impacto da Automação na Geração de Jovens Recém-Formados

  • Foto do escritor: Ana Soáres
    Ana Soáres
  • 11 de ago.
  • 4 min de leitura

São 7h32 da manhã no Jardim Ângela, bairro periférico de São Paulo. O café de Lorena Barros da Silva, 28 anos, recém-formada em Administração, esfria na mesa enquanto ela atualiza, pela terceira vez na semana, o perfil no LinkedIn. A cada rolagem, mais um anúncio de vaga exige "domínio em inteligência artificial aplicada" ou "experiência com automação de processos". Nenhuma dessas habilidades foi ensinada na faculdade — e todas parecem ser pré-requisitos para existir no mercado de trabalho que a espera.

Impacto da Automação na Geração de Jovens Recém-Formados

"Eu me formei achando que ia disputar vagas com outras pessoas. Mas percebi que estou competindo com softwares", diz, num riso que mais parece um suspiro.

O pano de fundo

A revolução industrial do século XXI não é feita de fumaça e aço, mas de códigos e algoritmos invisíveis. E ela avança rápido. Segundo relatório de 2024 do Fórum Econômico Mundial, 44% das tarefas hoje desempenhadas por humanos serão automatizadas até 2030. A transição não é gradual: ela é abrupta, silenciosa e implacável.

No Brasil, um levantamento da Fundação Getulio Vargas aponta que mais de 6 milhões de empregos formais poderão ser substituídos por automação e inteligência artificial nos próximos cinco anos. Profissões de nível superior, antes vistas como refúgio contra o desemprego estrutural, agora estão no radar da obsolescência, o que gera, ainda mais, ansiedade profissional.

O impacto psicológico

O cenário não afeta apenas as planilhas econômicas; ele mexe profundamente com a saúde mental. Uma pesquisa conduzida em 2023 pela Organização Internacional do Trabalho revelou que 71% dos jovens recém-formados sentem "ansiedade extrema" em relação à estabilidade profissional. Entre eles, 54% afirmam temer que seu diploma "não valha nada" em menos de uma década.

Ansiedade Profissional

A psicóloga e pesquisadora Mariana Prado explica:

“Estamos diante de uma geração que cresceu ouvindo que o caminho era estudar, se formar e conquistar um bom emprego. Só que, ao chegar lá, encontram um mercado onde a régua mudou sem aviso prévio. Isso gera um sentimento de traição institucional.”

Quando o currículo perde a validade

Um estudo da McKinsey & Company estima que o "prazo de validade" das competências técnicas caiu para menos de cinco anos. Ou seja: o que você aprende na graduação pode se tornar obsoleto antes mesmo do primeiro aumento salarial.

Essa compressão do tempo útil do conhecimento cria um ciclo de ansiedade permanente: os jovens não têm apenas que conquistar um emprego, mas reaprender a trabalhar continuamente, sob o risco constante de serem superados por máquinas que não dormem, não erram e não pedem férias.

Histórias que se repetem

Lucas Henrique, 25 anos, engenheiro recém-formado, foi contratado por uma multinacional de logística. No segundo mês, viu um software de roteirização substituir metade das funções que ele havia sido treinado para executar.

“Não fui demitido, mas meu papel mudou completamente. Hoje passo mais tempo alimentando o sistema do que tomando decisões. É como se eu fosse o estagiário da própria máquina”, diz.

Situações assim não são exceção: são a nova normalidade.

A promessa e o perigo da IA

Defensores da automação argumentam que novas tecnologias criam mais empregos do que destroem, citando exemplos históricos como a mecanização agrícola. No entanto, especialistas alertam que o intervalo entre a destruição de postos e a criação de novos é crítico — e pode deixar uma geração inteira sem espaço.

Além disso, a qualidade desses empregos é incerta. Muitos tendem a ser temporários, terceirizados e fragmentados, reforçando um cenário de precarização que já afeta milhões de trabalhadores jovens no Brasil.

O custo invisível: saúde mental

Estudos recentes publicados na Journal of Occupational Health Psychology indicam que a incerteza profissional crônica aumenta em até 40% o risco de transtornos de ansiedade. O fenômeno é potencializado pelas redes sociais, onde a comparação constante com pares bem-sucedidos — ou com imagens idealizadas desse sucesso — cria um ciclo de autossabotagem emocional.

“É a versão corporativa do FOMO (medo de ficar de fora). Só que, nesse caso, o medo é de ficar para trás no mercado antes mesmo de conseguir entrar nele”, explica a psiquiatra Lúcia Mendes, especialista em saúde mental do trabalho.

Possíveis saídas — ou pelo menos um respiro

  • Educação contínua acessível: Programas públicos e privados de requalificação devem ser gratuitos ou subsidiados para jovens em início de carreira.

  • Regulação da automação: Leis que exijam períodos de transição para tecnologias que substituem funções humanas podem amortecer o impacto.

  • Redes de apoio e saúde mental: Universidades e empresas precisam oferecer suporte psicológico voltado para as pressões do mercado automatizado.

O que está em jogo

Mais do que empregos, está em disputa a própria noção de propósito para uma geração. Se a promessa de que “o estudo garante o futuro” se desfaz, será necessário reinventar o contrato social que sustenta a vida profissional no século XXI.

Lorena, a jovem do começo desta reportagem, encerra nossa conversa com uma frase que ecoa a urgência dessa reinvenção:

“Eu não tenho medo das máquinas. Tenho medo de que ninguém se importe com quem ficou para trás.”

Se a automação é inevitável, a escolha não é entre aceitar ou resistir, mas entre permitir que ela nos molde ou decidir, coletivamente, como moldaremos o mundo que ela está criando.

A questão é: teremos coragem de colocar as pessoas — e não os algoritmos — no centro dessa equação?

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