As Meninas Entraram em Campo: A Caravana que Está Reescrevendo a História do Futebol Feminino no Brasil
- Da redação
- 16 de jun.
- 4 min de leitura
De Duque de Caxias a Brasília, a Caravana do Futebol Feminino Petrobras atravessa o país com um chamado urgente: dar às meninas brasileiras o direito de sonhar – e de jogar. Uma jornada que mistura memória, resistência e futuro.

No meio de uma quadra empoeirada na periferia de Duque de Caxias, uma menina de 11 anos, com tranças presas por elásticos coloridos, chuta uma bola com força. O chute é firme, decidido. Ao lado, a mãe filma sorrindo e diz: "Ela quer ser igual à Marta." Pela primeira vez, aquela menina vê seu sonho reconhecido como possível. Pela primeira vez, ela vê o futebol como também seu lugar. Essa cena é apenas uma entre milhares que estão prestes a se repetir nas 24 cidades por onde a Caravana do Futebol Feminino Petrobras passará até dezembro de 2025.
Com Elas, o Futebol Feminino do Brasil Vai Mais Longe
Por trás do slogan potente, está uma movimentação histórica. Mais que uma ação de marketing ou uma simples promoção esportiva, a Caravana é uma intervenção política e cultural. Um grito sobre rodas, cruzando o Brasil para dizer que as mulheres sempre jogaram futebol – o que faltava era deixarem ser vistas.
A proposta é clara: aproximar o público das jogadoras, das histórias e do potencial transformador que o futebol tem quando se veste de inclusão e representatividade. É também uma preparação simbólica e emocional para a Copa do Mundo de Futebol Feminino de 2027, que será realizada em solo brasileiro.
“A gente sempre teve craques, mas nunca teve plateia. Agora a plateia está se formando. Isso muda tudo”, afirma a ex-jogadora e comentarista Luana Maluf, que participa da primeira etapa da caravana no Rio de Janeiro.
As Cidades, os Campos e os Caminhões: Futebol para Todos os Terrenos
A estrutura da Caravana impressiona. Um caminhão multiuso – com painéis interativos, telões imersivos, cabine de inteligência artificial e jogos coletivos – funciona como arena, palco, sala de aula e museu. Cada cidade recebe, durante uma semana, atividades em escolas públicas, clubes de base, praças e projetos sociais. As oficinas mesclam prática esportiva com discussões sobre gênero, empoderamento e resistência histórica das mulheres no futebol.
A próxima parada será em Vitória (ES), onde a ex-jogadora Tânia Maranhão dará uma clínica especial. Já em Salvador (BA), haverá uma homenagem às pioneiras do futebol baiano, muitas das quais foram proibidas de jogar nos anos 40 por leis que consideravam o futebol um "esporte impróprio para o corpo feminino".

A História Que Nos Negaram
Durante 38 anos, o futebol feminino foi proibido no Brasil por decreto-lei. A justificativa era "proteger a feminilidade". O texto dizia: “Às mulheres não se permitirá a prática de esportes incompatíveis com as condições de sua natureza.” Só em 1979 a proibição caiu. Mesmo assim, as estruturas seguiram hostis.
“Eu jogava escondida dos meus pais. Tinha vergonha porque diziam que menina boleira era coisa de homem. Hoje vejo minha filha treinando com apoio da escola e da cidade. É emocionante”, conta Eliane Souza, 42 anos, mãe de uma adolescente que participa da Caravana em Belo Horizonte.
A memória dessas mulheres é parte vital da proposta. Cada cidade visitada coleta depoimentos e histórias para compor um acervo audiovisual da memória oral do futebol feminino no Brasil. Em 2026, esse material deve ser transformado em uma exposição nacional.
Futebol com Tecnologia, Cultura e Afeto
Um dos pontos mais visitados da Caravana é a Cabine IA – Amiga Virtual, onde o público pode conversar com uma inteligência artificial treinada para responder sobre a história do futebol feminino com uma linguagem afetuosa e pedagógica.
Outro destaque é o Photo Opportunity, onde o visitante escolhe até quatro jogadoras da seleção e tira uma selfie virtual ao lado delas. Há também o Super Pong, jogo coletivo de inspiração retrô que atrai desde crianças até avós.
A ideia, segundo os organizadores, é mostrar que o futebol feminino não é apenas esporte: é cultura, é pertencimento, é formação de identidade coletiva.
Petrobras e a Responsabilidade de Patrocinar o Futuro
O investimento da Petrobras na Caravana é parte de um projeto mais ambicioso. A empresa planeja concluir, até 2026, a construção do primeiro centro de treinamento exclusivo para futebol feminino do país, em Araraquara (SP). A iniciativa inclui alojamentos, campos, departamento médico e estrutura profissional de alto rendimento.
“Estamos falando de legado. Patrocinar mulheres no esporte é também patrocinar equidade, saúde, representatividade e oportunidades reais”, afirma Alessandra Teixeira, gerente de Patrocínios da Petrobras.
Segundo dados da CBF, o número de meninas federadas cresceu 56% desde 2019. Mas ainda é apenas 1 para cada 20 atletas homens. É esse abismo que a Caravana busca encurtar, formando uma nova geração de torcedoras, atletas, treinadoras e gestoras do futebol.

Quem Inspira Também Quer Jogo
As jogadoras da seleção brasileira, como Bia Zaneratto, Ary Borges e Antonia, aparecem nos vídeos imersivos exibidos na Caravana. Em narrativas curtas e tocantes, elas falam de suas infâncias, da falta de patrocínio, da resistência e dos sonhos.
“Quando eu era pequena, diziam que eu nunca ia vestir a camisa da Seleção. Hoje eu visto. Mas quero que nenhuma menina precise ouvir isso de novo”, diz Antonia, lateral da Seleção Brasileira, em uma das instalações.
O Que Está em Jogo
A Caravana do Futebol Feminino Petrobras é mais do que um projeto. É uma aposta política sobre o que queremos ser como nação. Se queremos um país onde meninas possam sonhar sem pedir desculpas. Onde a arquibancada vibre por todas, não só por alguns. Onde o futebol, finalmente, seja um campo de todas.
Em tempos de retrocessos e ataques aos direitos das mulheres, apostar no futebol feminino é um ato de coragem e de futuro. É sobre isso que trata a Caravana. E talvez, sobre isso também, devesse tratar o Brasil inteiro.
Serviço:
Saiba mais em: www.caravanadofutebolfeminino.com.br
Acompanhe nas redes: @caravanadofutebolfeminino
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