Despedida de uma voz marcante da MPB: Velório de Nana Caymmi no Rio de Janeiro
- Ana Soáres
- há 5 dias
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Nesta sexta-feira (2), o coração do Rio de Janeiro bate mais devagar. A cidade se despede de um dos maiores nomes da música popular brasileira: Nana Caymmi. O velório da cantora, que faleceu na noite de quinta-feira (1º), acontece a partir das 8h30 no Theatro Municipal do Rio, no Centro da cidade — um dos palcos mais simbólicos da cultura nacional, à altura da trajetória de uma artista que atravessou décadas e gerações.

A cerimônia é aberta ao público, e o enterro será realizado às 14h no Cemitério São João Batista, em Botafogo, zona sul da capital. Desde as primeiras horas da manhã, fãs, admiradores, familiares e personalidades da cultura e da política se reúnem para prestar homenagens à intérprete que eternizou canções como Resposta ao Tempo, Beijo Partido e Doce Presença.
Nana morreu aos 84 anos, após quase um ano internada na Casa de Saúde São José, também em Botafogo. Segundo boletim divulgado pela instituição, a causa da morte foi disfunção de múltiplos órgãos, decorrente de uma internação prolongada para tratar uma arritmia cardíaca. Ela havia sofrido uma overdose de opioides dias antes, como revelou seu irmão, o também músico Danilo Caymmi.
A notícia da morte foi confirmada pelo perfil oficial da artista no Instagram e rapidamente mobilizou o país. Políticos, artistas e fãs de todas as idades compartilharam mensagens de luto, respeito e agradecimento por sua contribuição à música e à identidade cultural brasileira.
Filha de Dorival Caymmi, um dos pais fundadores da música brasileira moderna, e Stella Maris, Nana nasceu em 1941, no berço da tradição musical da Bahia, mas foi no Rio de Janeiro que construiu sua carreira e firmou sua voz como um símbolo de sofisticação, melancolia e força. A cantora colecionou prêmios e reconhecimentos, mas também polêmicas: suas opiniões políticas dividiam fãs, especialmente por seu apoio declarado ao ex-presidente Jair Bolsonaro e críticas públicas a nomes como Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil.
Mais do que polêmicas, no entanto, fica o legado artístico. A discografia de Nana Caymmi é uma das mais respeitadas do país. Sua interpretação profunda, carregada de emoção e maturidade, transformava qualquer letra em algo íntimo, quase confessional. Com mais de 30 álbuns lançados, ela fez história na MPB, transitando com liberdade entre o samba-canção, o bolero, a bossa nova e o jazz.
Nana completou 84 anos na última terça-feira (29), em estado delicado de saúde. Amigos próximos relataram que, mesmo internada, manteve sua lucidez e espírito combativo. Sua sobrinha, a cantora Alice Caymmi, publicou uma mensagem emocionada nas redes sociais: “Dor indescritível. Nana foi uma fortaleza, uma mestra, uma luz que jamais se apagará”.
Neste dia de despedida, o Theatro Municipal se transforma em templo de reverência a uma das vozes mais expressivas da nossa história. E para quem não puder comparecer, a memória de Nana Caymmi continuará viva nas canções que embalam os corações de norte a sul do país — e agora, mais do que nunca, em cada silêncio carregado de saudade.
“A música dela não termina com a morte. Ela permanece como uma janela aberta para o que há de mais humano em nós: o amor, a dor, a esperança e o tempo.”
Você já escutou Nana hoje? Se ainda não, talvez seja a hora de apertar o play e permitir que sua voz continue ecoando. Porque, como disse a própria Nana certa vez, “a canção nunca morre.”
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