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Entrevista com o escritor Raimundo Carrero

  • Foto do escritor: Leañ Souza
    Leañ Souza
  • 18 de set.
  • 5 min de leitura

Raimundo Carrero de Barros Filho (Salgueiro, 20 de dezembro de 1947) é um jornalista, professor e escritor brasileiro, reconhecido principalmente por sua contribuição à literatura contemporânea do estado de Pernambuco e também do Brasil. Como jornalista e membro da Academia Pernambucana de Letras, trabalhou por mais de 25 anos no Diário de Pernambuco, onde desempenhou inúmeras funções, incluindo as de crítico literário e editor-chefe da redação. Paralelo à sua carreira na imprensa, Carrero construiu uma trajetória sólida na literatura, publicando romances, contos e ensaios que lhe renderam diversos prêmios nacionais, dentre eles o Prêmio José Lins do Rego e o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras. Além da sua extensa produção literária, Raimundo Carrero tem uma forte atuação destacada na formação de novos escritores. É fundador e coordenador de oficinas de criação literária, pelas quais já passaram autores que hoje ocupam lugar de destaque no cenário literário brasileiro, como Ariano Suassuna. As suas obras costumam explorar os conflitos humanos, o sertão nordestino, a religiosidade e os conflitos psicológicos, em uma linguagem densa e profundamente trabalhada. Acompanhem essa entrevista rica em conteúdos históricos e culturais aqui na sua Revista Pàhnorama.


Raimundo Carrero
Créditos da imagem: Rascunho - Reprodução

Entrevista feita com o escritor Raimundo Carrero



O que o levou a se dedicar à literatura?


"Eu sou um homem de muita fé e fui formado dentro de uma família pautada pela ética e retidão. Meu pai foi um homem extraordinário, cuja sua força e exemplo marcaram toda a minha trajetória. A família, sem dúvida, foi o alicerce essencial para que eu me tornasse quem eu sou hoje. Desde a minha infância, encontrei nos livros uma paixão duradoura. E foram os clássicos da literatura que mais despertaram minha atenção e fizeram que eu despertasse o meu olhar para o mundo."


Qual foi a obra que mais representou desafios em sua carreira?


"A obra que mais me trouxe desafios para ser publicada foi “A minha alma é irmã de Deus”, obra essa que narra a história de Camila, uma jovem que sonha em se tornar santa para desfilar no exército das onze mil virgens do paraíso. A obra começa numa tarde de domingo, no Recife, em que ela conhece a seita "Os Soldados da Pátria por Cristo", criada pelo pastor e músico Leonardo, o qual passa os dias tocando saxofone pelas calçadas. Juntos, eles pregam maravilhas religiosas em meio à miséria, à bebida e ao misticismo do local. Essa vida errante muda drasticamente quando o pastor desaparece, deixando Camila entregue ao completo abandono. Transformada em “lixo social”, ela passa a dormir nas ruas, sendo coberta apenas por papéis e papelões, sem encontrar abrigo nem mesmo nas ruínas e casas desabitadas. Sua trajetória, marcada pela fé e pela degradação, ergue-se como uma metáfora contundente do homem contemporâneo. Essa obra mostra o lado sombrio da religião, mostrando como a igreja pode ser usada não apenas como espaço de fé, mas também como instrumento para práticas nocivas e opressivas. Tive muitas incertezas na publicação desta obra, mas o meu trabalho é mostrar que nem tudo que reluz é ouro, apesar das minhas indagações."


Como o senhor avalia o atual cenário da literatura brasileira na atualidade?


"A tecnologia alcançou muitas pessoas e elas estão sendo auxiliadas pela modernidade atual. Digo que esse é o melhor e mais importante momento da literatura brasileira. Nunca antes tantos leitores tiveram acesso a obras de maneira tão ampla e imediata. A tecnologia fortalece e amplia a circulação das ideias. E isso é muito bom."


Há algum tema que o senhor não gosta de falar?


"Eu poderia muito bem guardar repulsa pelo gênero humano, pois as minhas obras são voltadas às preocupações com as condições deploráveis da humanidade, como a violência, a corrupção e à falta de amor. Estamos todos aqui passando por dificuldades nesse mundo e não temos soluções imediatas para resolvê-las. Mas de todo modo, eu não guardo nenhum sentimento repulsivo pelo ser humano. Tenho compaixão por todos. Se eu pudesse, não falaria sobre essas questões. Mas todos estamos inseridos nesse contexto e não posso deixar de expor essas situações que refletem a realidade vivida por muitos através da minha escrita."


O senhor escreve para o leitor contemporâneo ou para um legado?


"Eu escrevo para aquelas pessoas que estão dentro no meu raio de ação, como por exemplo, os meus amigos e vizinhos, pois para a posteridade, a qual não sei se ela existirá, não tenho vontade de deixar algum tipo de legado."


A maior recompensa para você é o ato de escrever ou a recepção do público por suas obras?


"Uma coisa engloba a outra. O ato de escrever é muito sério. E isso provoca uma grande alegria, mas não significa que eu não tenha expectativas para o leitor. Eu crio, invento e faço. Claro que o leitor entra como o centro de tudo e ele é muito importante para mim. O leitor é a essência das minhas obras. O que importa para mim é o que eu coloco no papel. A apreciação pelo público é algo tido como consequência do que eu escrevo."


Qual conselho você dá para aqueles que querem se iniciar na carreira literária?

"Que tenham seriedade em tudo o que forem fazer. Se não acreditam no que fazem, então não escrevam. Temos que crer em nosso potencial e levá-lo muito a sério, pois nós estamos exprimindo emoções, sentimentos e denunciando as mazelas humanas para outras pessoas, que são compostas dessas prerrogativas e que acompanharão aquilo que nós iremos expor de forma literária."


O que o senhor espera para as próximas gerações?


"Espero que tudo no momento atual melhore. Precisamos aceitar as mudanças que virão e nos atentarmos a elas. Não quero que tudo aquilo deixado por escritores de outrora seja perdido no mar do esquecimento, mas que sejam lembrados e repassados para as gerações seguintes, pois a cultura e história viva devem ser preservados."



Mensagem de Raimundo Carrero para os leitores da Revista Pàhnorama


"A mensagem que eu deixo para os leitores da Revista Pàhnorama é que acreditem piamente naquilo que estão fazendo. Mantenham sempre a beleza e as artes no geral, pois são elas que irão salvar a espécie humana de muitas coisas ruins. Precisamos refletir também que sem o Divino, tudo se torna impossível. Creiam em Deus e em vocês! Quero agradecer ao Leañ Souza pela entrevista. É um jovem que está se iniciando na área da comunicação e da escrita através do jornalismo. Acreditem nele, pois é um momento significativo para o desenvolvimento do seu trabalho."


“Este conteúdo é de propriedade intelectual exclusiva do autor. Sua reprodução, cópia ou modificação é permitida apenas mediante autorização expressa, sendo a mesma protegida integralmente através da Lei nº 9.610/98, o seu uso indevido estará sujeito às medidas legais cabíveis.”

Leañ Souza – Colunista da Revista Pàhnorama

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