Evandro Okàn: o renascimento de um artista guiado pela ancestralidade
- Da redação

- 4 de set.
- 3 min de leitura
No último domingo, 31 de agosto, em pleno Central Park, em Nova York, um anúncio feito sob música, memória e emoção marcou a 39ª edição do Festival SummerStage. O cantor, compositor e diretor artístico até então conhecido como Evandro Fióti revelou ao público e ao mundo o nascimento de uma nova era em sua carreira: a partir de agora, ele será Evandro Okàn.
Nome como manifesto
Evandro, nome dado por sua mãe, Dona Jacira, significa “homem bom”. Okàn, em iorubá, significa “coração”. Unidos, os dois termos se transformam em um enunciado que é ao mesmo tempo poético e político: “homem de coração bom”.
Não se trata apenas de uma mudança estética ou de marketing. É um gesto de reconexão com a ancestralidade, de afirmação identitária e de resistência contra os estigmas que historicamente recaem sobre homens negros no Brasil e no mundo.
“Essa mudança para Okàn veio após uma reflexão profunda sobre quem sou. Quando minha mãe revelou o significado do meu nome, percebi que ela sabia do meu caráter e do meu coração. Busco agora afirmar essa conexão profunda com minha essência e com minha ancestralidade. Minha sensibilidade e vulnerabilidade são minhas potências, e seguirei honrando o legado de meus ancestrais”, afirmou o artista em entrevista.

Um show como ritual
O espetáculo, intitulado “Adupé, Honra Ancestral”, foi mais que um concerto: foi um ritual artístico inspirado na espiritualidade negra, especialmente nas energias de Iansã, Ogum e Obaluaê. Com direção criativa do próprio Evandro, a apresentação atravessou fronteiras sonoras, entrelaçando MPB, funk e soul com referências à diáspora musical negra e reverências a nomes como Sam Cooke, Marvin Gaye e bell hooks.
Na filosofia Sankofa, que inspira o trabalho, o passado não é um lugar esquecido, mas um território de aprendizado: é olhando para trás que se compreende o presente e se projeta o futuro. Foi nessa linha que Evandro apresentou dois singles inéditos em homenagem à sua mãe, que irão integrar seu próximo álbum, previsto para o verão de 2026.
Uma das canções, “Se Acolhe”, traz a participação de Dona Jacira em sua última gravação em vida. Um gesto de despedida e, ao mesmo tempo, de permanência.
A dimensão coletiva
O SummerStage é um dos maiores festivais de música ao ar livre dos Estados Unidos, reunindo, nesta edição, 70 apresentações em 13 parques de Nova York. A participação de Evandro não apenas levou a música brasileira a um dos palcos mais relevantes da cena global, mas também abriu espaço para discutir a potência das vozes negras no cenário cultural.
Ao assumir o nome Okàn, o artista amplia o debate sobre identidade, memória e futuro — temas cada vez mais urgentes em um país que insiste em naturalizar desigualdades, mas que também pulsa resistência por meio da arte.
Um convite a reconhecer nossa ancestralidade
Na canção e na palavra, Evandro nos lembra que não basta existir: é preciso se nomear, se reconhecer e se honrar. O gesto de adotar o nome Okàn é um grito contra estereótipos, mas também um sopro de ternura em tempos ásperos.
E fica a pergunta: quantos de nós ainda carregamos nomes, histórias e legados que não ousamos assumir? O palco de Nova York pode ter sido o ponto de partida, mas a travessia que Evandro Okàn inaugura é também um chamado para que olhemos para nossas próprias raízes — e para o futuro que queremos plantar a partir delas.







Comentários