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INCÊNDIO NO MINISTÉRIO DA IGUALDADE RACIAL

  • Foto do escritor: Da Redação
    Da Redação
  • há 11 horas
  • 3 min de leitura
Explosão no Ministério da Igualdade Racial expõe falhas estruturais e alerta para riscos na gestão pública

Brasília amanhece tensa. O céu ainda carrega a névoa fina da fumaça que saiu, horas antes, de dentro da subestação de energia do Ministério da Igualdade Racial. O que seria mais uma manhã de expediente na Esplanada torna-se, de repente, um retrato doloroso das fragilidades que insistem em atravessar o Estado brasileiro. A explosão que deixa ao menos 30 feridos hoje, 25 de novembro, não é apenas um acidente técnico. É um lembrete brutal de que vidas seguem em risco dentro das próprias estruturas que deveriam protegê-las.

O incêndio provoca correria, evacuação urgente e triagem em massa. Uma vítima está em estado gravíssimo, com queimaduras em aproximadamente 60% do corpo. Outras duas sofrem intoxicação por fumaça. Vinte e sete pessoas são atendidas por inalação de fuligem, um número que revela o alcance do incidente. Os corredores do ministério, símbolo de políticas de reparação histórica e de um país que tenta enfrentar seu racismo estrutural, tornam-se cenário de dor e incerteza.

INCÊNDIO NO MINISTÉRIO DA IGUALDADE RACIAL
Reprodução | Itatiaia - Créditos: João Rosa

Equipes do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal trabalham sem pausa. O prédio é esvaziado em poucos minutos, enquanto os agentes tentam conter o fogo e impedir novos focos. A cena repete uma coreografia que Brasília conhece bem e que infelizmente não deveria fazer parte da rotina de nenhum órgão público: sirenes, isolamento, funcionários assustados, informação em gotas.

Interlocutores do ministério relatam que a explosão atinge uma subestação localizada em área técnica do prédio. Até o momento, a principal hipótese é de falha elétrica. Essa possibilidade levanta perguntas incômodas sobre manutenção, fiscalização e protocolos de segurança em prédios federais. Dados do Tribunal de Contas da União divulgados no último relatório de auditoria predial, referente a 2024, já apontavam que cerca de 40% das unidades administrativas da União apresentam algum grau de risco estrutural ou elétrico.

Especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que incidentes como o de hoje não surgem do nada. São, em geral, resultado de um acúmulo de negligências invisíveis. A pesquisadora de infraestrutura pública da UnB, Ana Clara Medeiros, explica que curto-circuitos em subestações internas estão entre as principais causas de incêndios em prédios públicos. E acrescenta que falhas na atualização de sistemas elétricos podem potencializar tragédias.

Esse é um capítulo que se soma a outros que o país testemunha recentemente. Em julho, um incêndio atinge a sede de outro órgão da Esplanada, e os laudos preliminares também falam em falhas técnicas. Em um Brasil que busca construir políticas de igualdade racial mais sólidas, um episódio como este ganha peso simbólico. O Ministério da Igualdade Racial é, afinal, uma das pastas mais recentes e mais demandadas do governo federal. Carrega a responsabilidade de atender e formular políticas para uma população que representa 56% dos brasileiros. Justamente por isso, qualquer fragilidade estrutural ali se converte rapidamente em fragilidade política.

Funcionários relatam que a evacuação ocorre em clima de desorientação, mas também de solidariedade. Um servidor, que prefere não ser identificado, resume assim: Hoje a gente saiu correndo, mas não deixou ninguém para trás. Para quem trabalha com igualdade racial, isso não é só um princípio de trabalho, é um princípio de vida.

O ministério ainda não divulga detalhes sobre o impacto administrativo da explosão ou sobre possíveis paralisações. Técnicos avaliam se outras áreas foram comprometidas. A Polícia Federal acompanha o caso para descartar qualquer outra hipótese além da falha técnica.

No fim do dia, ficam as imagens, o cheiro de queimado no ar e a certeza de que este não pode ser apenas mais um acidente registrado na Esplanada. Fica também a lembrança de que estruturas frágeis não coexistem bem com promessas grandiosas. É preciso garantir que os prédios onde políticas públicas são gestadas sejam tão protegidos quanto as vidas a que essas políticas se destinam.

A explosão no Ministério da Igualdade Racial abre uma ferida que ainda vai exigir investigação técnica e transparência pública. Mas abre também uma conversa urgente sobre o que é, de fato, prioridade no orçamento federal. Se a vida corre risco no próprio coração administrativo do país, o que isso diz sobre o que acontece fora daqui?

A pergunta que fica é simples e cortante: quantas explosões mais serão necessárias para que a segurança pública, a manutenção predial e a vida dos servidores deixem de ser tratadas como nota de rodapé do Estado brasileiro?


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