Por que a era de ouro das novelas das nove da Globo não se repete
- João Guedes
- 31 de mar.
- 2 min de leitura
Se a Record teve sua era de ouro com novelas que marcaram época, como ‘A Escrava Isaura’ (2004) e ‘Chamas da Vida’ (2008), a Globo também viveu um período triunfal na teledramaturgia. No entanto, ao analisar o cenário atual das novelas das nove, fica evidente que essa fase de grande sucesso ficou no passado. Produções como ‘Celebridade’(2003), ‘Páginas da Vida’(2006),‘Caminho das Índias’(2009), ‘Senhora do Destino’ (2004) e ‘Avenida Brasil’ (2012) são exemplos de tramas que conquistaram o público. Eram mais acertos do que erros. O que aconteceu com a maior produtora de folhetins da América Latina?

É verdade que as plataformas de streaming, a internet, as redes sociais e o YouTube mudaram o consumo de entretenimento, mas isso não justifica a escassez de boas histórias no horário nobre da Globo.
João Emanuel Carneiro perdeu o fôlego criativo? E Gloria Perez, após o fracasso de ‘Travessia’(2022), também entrou nessa crise? Todo autor tem direito a errar, mas com ‘Mania de Você’ (2024), JEC parece ter se perdido completamente. Colocar a protagonista traindo o namorado e a melhor amiga em pleno horário nobre, em um país machista, já não parecia uma boa ideia desde o início. Para piorar, o romance entre Viola (Gabz) e Rudá (Nicolas Prattes) careceu de química e desenvolvimento, enquanto Mavi (Chay Suede) conquistou a torcida do público e desestabilizou a trama. Até o núcleo de Ísis (Mariana Ximenes), que prometia ser um dos pontos altos da novela, acabou se perdendo.

O aumento de remakes nos últimos anos não é coincidência. Falta criatividade nas novelas das nove. O sucesso de ‘Beleza Fatal’, de Raphael Montes, é um exemplo de que há espaço para novos autores. Mas, além de boas ideias, a emissora precisa de um gerenciamento mais firme das sinopses. Não basta confiar no potencial dos escritores, é essencial ter alguém nos bastidores que realmente entenda de novela e saiba intervir quando necessário. No passado, Silvio de Abreu desempenhava esse papel, apagando incêndios e garantindo a qualidade das tramas. Hoje, sob a gestão de José Villamarim, a dramaturgia da Globo perdeu força. Das cinco novelas sob seu comando, duas (‘Travessia’ e ‘Mania de Você’) foram fiascos, e outras duas (‘Pantanal’ e ‘Renascer’) foram remakes. Agora, com ‘Vale Tudo’, a emissora caminha para a terceira adaptação consecutiva de um clássico do passado.
O horário das nove patina, enquanto as novelas das seis e das sete, mesmo sem grandes novidades, ao menos apresentam números positivos. A Globo perdeu a ousadia de apostar no novo e, pior ainda, desaprendeu a fazer o básico: um folhetim simples, mas bem contado, como sabia fazer antes, para entreter o público de maior audiência da faixa mais nobre da televisão.
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