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Ricos, pobres e variações

  • Foto do escritor: Marcelo Teixeira
    Marcelo Teixeira
  • há 2 dias
  • 2 min de leitura
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Certa vez, o publicitário Washington Olivetto (1951-2024), num papo informal com amigos, teria dito que o mal do Brasil é que existem quatro classes sociais: o rico-rico, o pobre-pobre, o pobre-rico e o rico-pobre. À mesma época, a escritora Martha Medeiros aproveitou o burburinho que a fala causou e publicou uma oportuna crônica no jornal “O Globo”.


Resolvi surfar na onda porque, pelo que observo, a declaração de Olivetto permanece atual e decerto permanecerá por um bom tempo neste Brasil de colonização escravagista e sem consciência de classe.


Vamos começar pelo pobre-pobre, ou seja, a pessoa que nasceu carente de todo e qualquer tipo de seguridade social e é obrigada a viver sempre no fio da navalha, ou seja, com dinheiro contado, ganhando baixos salários, vítima de saúde e educação de baixa qualidade etc. Muitas vezes, o pobre-pobre, infelizmente, acaba descambando para a criminalidade ou se tornando refém dela, como vemos constantemente.


O rico-rico é aquele ser humano que tem muito dinheiro e faz questão de utilizar a riqueza que possui para gerar empregos, fomentar a cultura, participar de iniciativas que visam à promoção do bem-estar social etc. Não quero citar nomes, mas conheço casos de pessoas ricas e famosas que, por iniciativa própria, mantêm centros culturais, bancam a educação dos filhos de empregados em escolas de boa qualidade... São aquelas pessoas que perceberam que a fortuna que possuem deve ser colocada para circular em benefício do maior número de gente possível.


O pobre-rico é aquela pessoa que, apesar de não nadar em dinheiro e do orçamento muitas vezes apertado, gosta de estudar e aprender, de participar de iniciativas sociais, cuida da família, não deixa a peteca cair e segue em frente, lutando, dentro de seus limites, para que todos tenha uma vida bacana. Creio que é o que há em maior número. Eu me considero um pobre-rico e garanto que muitos que me leem se identificarão com o que estou dizendo.


Por fim, o pomo da discórdia: o rico-pobre. Quem é ele? É aquela pessoa que, por ter um bom padrão de vida, se acha melhor do que os outros. Por isso, é arrogante, mesquinha, ranzinza, se incomoda com o progresso material alheio, não zela pelo patrimônio público etc. Como bem observa a Martha Medeiros, o rico-pobre, no restaurante, pede o vinho mais caro, mas destrata o garçom; vive viajando para o exterior, mas não comparece à reunião de pais da escola dos filhos; abre a janela do carrão SUV que pilota e atira pela janela o saco de pipoca, o maço de cigarros amassado, a lata de cerveja e sabe lá Deus mais o quê. E é também aquele que passa a mão pela cabeça do filho caso ele cause um acidente automobilístico ou danifique, por pura falta de educação, o patrimônio alheio.


Lutemos para que o pobre-pobre deixe de sê-lo, para que o pobre-rico seja cada vez mais rico de cultura, engajamento e criatividade e para que o rico-rico não leve a culpa pelas diatribes cometidas pelo rico-pobre. Este, um dia, deixará de existir.


Marcelo Teixeira

 

 

           

 
 
 

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