Por que no Brasil a TI de Hoje Não Está Pronta para os Desafios Amanhã
O Brasil é um país de contrastes. De um lado, temos uma população jovem e criativa, ansiosa por inovar e empreender; de outro, uma infraestrutura arcaica, que muitas vezes atua como um bloqueio invisível, sufocando ideias e travando o progresso. O Readiness Report da Kyndryl, lançado em 2024, é um espelho claro dessa realidade. Apesar de 95% dos líderes empresariais brasileiros afirmarem ter confiança em suas infraestruturas de TI, apenas 49% se sentem preparados para o futuro. Esses dados revelam um paradoxo evidente: temos a capacidade, mas falta-nos a prontidão.
Empreender no Brasil, especialmente em áreas menos desenvolvidas, é um exercício de resiliência. Startups de tecnologia, que poderiam impulsionar o país para um futuro mais digital e competitivo, enfrentam barreiras quase intransponíveis em regiões periféricas. A falta de conectividade, somada à ausência de políticas públicas robustas, cria um terreno hostil para a inovação. E esse não é um problema novo; é um ciclo vicioso que remonta a décadas de descaso com o desenvolvimento regional.
Enquanto países como a China e os Estados Unidos investem pesadamente em parques tecnológicos e infraestrutura de ponta, o Brasil caminha a passos lentos. Dados da Kyndryl apontam que 44% da nossa infraestrutura de TI de missão crítica está se aproximando ou no fim da vida útil. Isso coloca as empresas brasileiras em uma posição delicada, onde a vulnerabilidade tecnológica se torna um obstáculo ao progresso, e os altos custos de manutenção dos sistemas legados drenam recursos que poderiam ser investidos em inovação.
Olhando para o futuro, é impossível ignorar o papel crucial da inteligência artificial (IA) e do aprendizado de máquina no cenário global de negócios. No entanto, enquanto 84% das empresas brasileiras estão investindo nessas tecnologias, apenas 45% estão vendo um retorno positivo sobre o investimento. Essa discrepância entre expectativas e realidade revela um problema estrutural: falta de treinamento, ausência de uma base de dados sólida e uma cultura empresarial que ainda não compreendeu plenamente o potencial da IA. Como podemos esperar que o Brasil se torne uma potência tecnológica se a base não está devidamente construída?
A Kyndryl aponta também outro desafio crítico: o talento. Mais de 40% dos líderes empresariais no Brasil afirmam que a falta de habilidades tecnológicas está impedindo o progresso da modernização. Aí está o nó da questão: não adianta modernizar os sistemas se não há profissionais qualificados para operá-los e otimizá-los. A lacuna de habilidades em áreas como automação, IA e cibersegurança é gritante. Sem um investimento massivo em educação e treinamento, o Brasil continuará correndo atrás do prejuízo, sem nunca alcançar o patamar necessário para competir no mercado global.
Então, quais são as soluções? Primeiramente, é necessário um compromisso sério com a modernização da infraestrutura de TI. Isso significa alocar recursos não apenas para reparar o que está quebrado, mas para construir uma nova fundação que permita ao país crescer de forma sustentável. Além disso, o investimento em talento deve ser prioridade. É preciso formar uma nova geração de profissionais capacitados, aptos a lidar com as complexidades do futuro digital. Isso exige uma reforma profunda no sistema educacional, com ênfase em tecnologia, ciências da computação e inovação.
Outro ponto crucial é o alinhamento entre tecnologia e cultura empresarial. As empresas mais avançadas na transformação digital já perceberam que a TI não é apenas uma área de suporte, mas sim uma peça central na formação da cultura corporativa e no desenvolvimento de processos internos. Investir em tecnologia é, portanto, investir em pessoas. E as empresas que conseguirem integrar esse conceito terão uma vantagem competitiva significativa nos próximos anos.
Por fim, a questão da regulamentação não pode ser ignorada. Em um cenário onde 72% dos líderes brasileiros estão preocupados com ataques cibernéticos, a conformidade com leis de proteção de dados e regulamentações de segurança deve ser vista como prioridade. Isso não só protegerá as empresas de riscos futuros, mas também contribuirá para um ambiente de negócios mais estável e confiável.
O Brasil tem potencial para ser uma referência global em tecnologia e inovação. No entanto, enquanto continuarmos ignorando os desafios estruturais que enfrentamos, permaneceremos presos a um ciclo de promessas não cumpridas e oportunidades desperdiçadas. A hora de agir é agora.
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