Virginia Fonseca e a CPI das Bets: moletom, Deus e muita performance
- João Guedes
- 14 de mai.
- 3 min de leitura
Virginia Fonseca prestou depoimento na CPI das Bets na última terça-feira, 13, em Brasília, e deu o que falar nas redes sociais. A influenciadora chegou de moletom, com o rosto da filha estampado e uma garrafinha de água rosa na mão. Ou seja: com a estética da inocência. Nada é por acaso.

A CPI das Bets, que deveria investigar práticas predatórias das casas de apostas online, virou um grande espetáculo. Um teatro midiático com plateia, selfies e até pedidos de abraço para esposa e filha. Porque, claro, quando se trata de proteger o povo brasileiro, nada como uma boa gravação para o feed.
Virginia, estrela do “Sabadou” no SBT e também das propagandas da “Esportes da Sorte”, afirmou que jogava com uma conta especial para influenciadores. Sim, aquelas contas mágicas, turbinadas, que fazem parecer que ganhar dinheiro apostando é fácil como tomar um shot de whey protein. E ninguém achou isso problemático. Passou batido, como se manipular a percepção dos seguidores fosse uma simples escolha estética — tipo decidir se o filtro vai ser o “Paris” ou o “Tokyo”.
Durante o depoimento, Virginia soltou um “Que Deus abençoe nossa audiência e bora pra cima”. Frase digna de influencer no close certo, mas um tanto destoante num contexto onde se discute o impacto de jogos de azar sobre famílias endividadas. Falar em Deus enquanto se lucra com a esperança e o desespero dos outros é, no mínimo, uma contradição com filtro.
Vamos aos fatos:
1. Promoção de apostas com público vulnerável
Virginia foi chamada para explicar sua participação em campanhas milionárias de sites de aposta. A audiência dela? Milhões de pessoas, incluindo menores de idade. A CPI tenta entender se ela ajudou a naturalizar o jogo como uma prática divertida e sem riscos. Spoiler: não é.
2. A tal “cláusula da desgraça”
Os parlamentares perguntaram se existia um contrato que previa ganhos proporcionais às perdas dos seguidores — algo conhecido como “cláusula da desgraça”. Virginia disse que não, mas confessou que poderia ganhar 30% a mais se dobrasse o lucro da empresa. Mas, claro, isso não tem nada a ver com perda dos usuários, né?
3. Contas manipuladas
Ela também revelou que não apostava com a própria conta, mas com perfis enviados pelas próprias casas de aposta. Tudo já carregado com dinheiro. Assim é fácil ganhar e sorrir para a câmera. A sensação que passa? Que é simples e lucrativo. A realidade? Uma multidão iludida.
4. A desresponsabilização como estratégia
Virginia até disse que alertava sobre os riscos. Mas quando confrontada com os impactos sociais, soltou um clássico “não tem como socorrer todo mundo”. Influenciar, pode. Acolher, já é demais.
5. Arrependimento? Nunca nem vi
No final, ela disse que talvez vá pensar se continua com essas parcerias. Talvez. Pensar. Num país com recordes de endividamento e vício em jogo, o mínimo seria um pedido de desculpas com substância — não uma promessa vaga de reflexão.
E tudo isso aconteceu enquanto senadores pediam vídeos, faziam elogios, e tentavam sair bonitos na fita — ou no story. A CPI virou um palco para políticos performarem empatia e influencers performarem desinformação.
O resultado?
Mais curtidas, mais polêmicas, menos respostas. Apostas, jogadas e ironias à parte, o que vimos foi menos investigação e mais entretenimento disfarçado de fiscalização. E nisso, Virginia segue sendo expert.
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