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O outro lado das injeções milagrosas: a experiência de Paulo Pimenta com o Mounjaro

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    Da redação
  • há 1 dia
  • 4 min de leitura

Hoje (02), abrimos espaço para um testemunho em primeira pessoa que desnuda o outro lado desse fenômeno. Paulo Pimenta, 41 anos, pai de dois filhos, casado, comunicador com 22 anos de experiência, fundador e diretor-executivo da @soubpmcom, decidiu expor publicamente sua história em um post que soa mais como um alerta do que como testemunho.

Mounjaro
Unsplash

Nos últimos meses, as chamadas “injeções da magreza” ganharam os holofotes. O Mounjaro (tirzepatida), aprovado pela Anvisa em 2023, tornou-se símbolo de esperança para milhares de brasileiros em luta contra o sobrepeso e doenças associadas como diabetes, hipertensão e colesterol alto. Nas redes sociais, multiplicam-se vídeos de antes e depois, promessas de autoestima renovada e de uma vida mais saudável. Mas por trás dos números que impressionam e dos corpos transformados, há histórias que não costumam ocupar espaço na vitrine digital: os relatos de reações graves e inesperadas.

Nascido em Niterói e morador do Rio de Janeiro, Paulo tem uma trajetória consolidada: já foi produtor de telejornais na TV Globo, atuou na redação de Nova York, integrou por oito anos a equipe de comunicação da Petrobras, coordenou a comunicação interna da Odebrecht e, mais recentemente, construiu sua própria agência, referência em comunicação estratégica. Mas, neste relato, o profissional de sucesso cede espaço ao paciente que enfrenta as consequências de um tratamento que prometia ser solução.

Um choque no corpo: do sonho da cura ao pesadelo da reação

 “Busquei ajuda médica porque o sobrepeso já tinha deixado de ser apenas uma questão estética. Hipertensão, colesterol alto, triglicerídeos em níveis alarmantes. A tirzepatida apareceu como a solução rápida e eficiente. Mas o que parecia ser o início de uma nova vida se transformou em dias de desespero.”

 Assim começa o relato de um paciente que, no fim de agosto, deu início ao tratamento com o Mounjaro. A primeira dose foi aplicada em 27/08. Menos de 24 horas depois, seu corpo deu sinais de alerta: tremores, calafrios, extremidades roxas, náusea intensa. “Cheguei ao ponto de não conseguir beber nem água sem sentir que ela voltaria”, descreve.

No dia seguinte, os sintomas se intensificaram. Enjoo constante, vômitos, diarreia, desidratação. Uma tomografia revelou hiperdilatação do estômago. O diagnóstico foi categórico: reação adversa grave ao Mounjaro. A solução emergencial exigiu um dos procedimentos mais invasivos e traumáticos para o paciente: uma sonda nasogástrica para drenar alimentos e gases acumulados.

 Internação, sondas e o tempo que não passa

“Fiquei internado na semi-intensiva de sexta para sábado. Recebi alta, mas no domingo precisei voltar, ainda pior. Estou com medicação venosa contínua, glicemia monitorada de quatro em quatro horas, hemogramas diários às quatro da manhã. Durmo mal. E, claro, tudo isso pesa no corpo e na mente.”

 

A tirzepatida, de ação prolongada, permanece no organismo por semanas. Isso significa que o corpo segue reagindo mesmo dias após a aplicação. E que a espera pela melhora se torna um exercício de paciência e resistência.

 

O hype das injeções e o silêncio sobre os riscos

 


Reprodução | Instagram @elainemedspa


O Brasil é um dos maiores mercados de medicamentos injetáveis de emagrecimento do mundo. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) informa que mais de 70 mil cirurgias bariátricas foram realizadas em 2023, e a estimativa é de que o consumo de medicamentos como o Mounjaro e o Ozempic tenha crescido acima de 300% em farmácias de alto padrão no último ano.

 

Uma promessa muito sedutora: perda peso rápida, controle doenças metabólicas e evitar complicações futuras. Mas especialistas alertam: não existe milagre sem risco.

 

Em entrevista ao Fantástico, em junho, a endocrinologista Dra. Cintia Cercato, ex-presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), foi enfática:

 

“São medicamentos sérios, com potencial de mudar a vida de muita gente. Mas exigem acompanhamento médico próximo. Cada organismo reage de forma diferente. E banalizar seu uso é brincar com fogo.”

 

Entre o corpo e o mercado: quem lucra com essa corrida?

 

O preço médio de uma caixa de Mounjaro gira em torno de R$ 1.200 a R$ 1.800 no Brasil. O tratamento, de uso contínuo, pode ultrapassar R$ 20 mil ao ano. As farmacêuticas celebram lucros bilionários. Em 2024, a Eli Lilly, fabricante da tirzepatida, divulgou que as vendas do Mounjaro cresceram 120% no primeiro semestre.

 

Enquanto isso, histórias como a de Paulo escancaram a face mais crua dessa indústria: vidas reais submetidas a riscos pouco discutidos em meio ao entusiasmo coletivo pelo “remédio do momento”.

 

Mounjaro: uma escolha que não pode ser solitária

 

Paulo deixa um recado:

 

“Mesmo com acompanhamento médico, os efeitos colaterais foram graves e inesperados. Não use sem orientação. Conheça os riscos. E busque emergência aos primeiros sinais.”

 

É um convite a repensarmos como sociedade a pressa pelo emagrecimento, a glamourização das soluções rápidas e o peso de um mercado que transforma o corpo em produto.

 

Em tempo

 

Quantas dessas histórias ainda precisam ser contadas para que o debate sobre saúde, obesidade e estética vá além da pressa por resultados e da lógica do consumo? O Mounjaro pode ser, sim, um aliado poderoso para alguns. Mas também pode ser um alerta para todos nós: até que ponto estamos dispostos a arriscar o corpo em nome de um padrão?



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