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Almir França: costurando o futuro da moda sustentável

  • Foto do escritor: Rafaela Grande
    Rafaela Grande
  • há 3 dias
  • 4 min de leitura

Do ateliê à passarela, uma visão que une estética e respeito ao planeta


Sabemos que a moda está em tudo a nossa volta, no dia a dia. Conversando com o estilista Almir França, a Revista Pàhnorama, conheceu um pouco mais sua trajetória. Desde criança ele já tinha vocação para a costura, pois é sobrinho de uma mulher que dedicava parte de seu tempo à costura, confeccionando peças para seus clientes.


Almir França
Almir França - Créditos: Denilson Vieira

Trabalhou no comércio e em fábricas no Rio de Janeiro, incluindo a Nova América de tecidos, onde atuou como office boy, responsável por transportar pranchas de desenho no departamento de design da tecelagem. Almir conheceu diversas marcas visualizando a possibilidade de atuar no departamento de criação ou no processo de produção. Considera essa trajetória um aprendizado que o diferencia tanto na área da moda quanto na educação inclusiva.

Sua paixão pela criação de roupas, impulsionada por necessidade e desejo de autoafirmação, o levou a se tornar estilista. Apesar de outras aspirações, o "fazer roupa" era essencial para sua sobrevivência e realização pessoal. Começou a trabalhar cedo, assinando coleções e abrindo sua própria loja aos 25 anos, superando dificuldades financeiras e familiares.

Ele começou a trabalhar com reaproveitamento e tecidos alternativos por necessidade e sobrevivência. Sua primeira coleção nasceu dessa realidade, usando tecidos fora de estação e com defeitos, com foco em vendas e não em seguir tendências. A pessoa destaca a conexão da moda brasileira com a ancestralidade, o uso de retalhos e bordados, e a importância de reconhecer essa base. A roupa se tornou uma ferramenta de ativismo e expressão, inspirada pelo uso da vestimenta como forma de protesto e denúncia social.


Modelo usa criação de Almir em desfile em Santa Teresa
Modelo usa criação de Almir em desfile em Santa Teresa - Créditos: Denilson Vieira

O estilista começou a praticar a sustentabilidade há 16 anos, após a morte de sua mãe, quando costurou roupas para seus irmãos com lençóis. Ao longo da carreira, ele também utilizou a criatividade para reaproveitar roupas encalhadas em empresas, ressignificando as para venda ou promoção. A sustentabilidade, reside nesse reaproveitamento e na criação de novos usos para materiais.

A moda é muito mais do que apenas roupas: é arte, artesanato, comportamento e uma indústria complexa que engloba diversas áreas do conhecimento. No Brasil, a moda ainda não é reconhecida como uma ciência e não recebe o apoio necessário, como políticas públicas e incentivos à educação e à indústria. Essa falta de reconhecimento impede o avanço da moda como ferramenta de construção de identidade e desenvolvimento social.

Discute – se uma mudança de crença sobre o "lixo", argumentando que ele é a matéria-prima do mundo moderno. O foco é na necessidade de prolongar a vida útil de roupas e outros objetos, em vez de descartá-los. A solução proposta envolve repensar o uso e a função das roupas, combatendo a compra impulsiva e sem propósito. A mensagem crítica é o excesso de roupas acumuladas, contrastando com a falta de acesso para outros, e enfatizando a importância de dar nova vida aos itens existentes.

Almir critica como as grandes marcas de moda usam a "moda sustentável" e o artesanato. Argumenta-se que essa prática é uma tentativa de lidar com o excesso de produção e descarte, explorando o artesanato sem realmente resolver os problemas de sustentabilidade ou valorizar o trabalho artesanal.

A moda sustentável pode inspirar outras áreas de design. No entanto, o uso de práticas como "upcycling" (Absacla) por grandes marcas é criticado por não resolver o problema do descarte de roupas e por explorar o artesanato tradicional para fins comerciais, sem valorizar adequadamente os artesãos. A produção em massa de roupas gera um grande volume de desperdício, e essas práticas não são a solução.

Almir critica a superficialidade na busca por sustentabilidade e reaproveitamento, especialmente no mundo da moda e do consumo. Ele aponta para a hipocrisia de quem adota práticas como brechós e veganismo sem mudar sua mentalidade consumista geral. O desafio é romper com o pensamento condicionado e ver além do óbvio, ressignificando objetos e materiais descartados.

Acredita que o impacto do seu trabalho reside na reflexão sobre o destino dos resíduos. Ao buscar soluções para um resíduo têxtil específico, não se limita à peça individual que tem em mãos, como uma calça ou um vestido, mas considera a escala de uma tonelada do mesmo produto, descartada a cada minuto no país. É sobre essa dimensão que deseja se debruçar. Desta forma, impactará a sociedade ao apresentar soluções para as toneladas de resíduos que, até o momento, representavam um desafio para a gestão e o descarte adequados.

O estilista organiza um grupo que está engajado em diversas atividades: participa de conferências estaduais sobre direitos humanos, atua na produção e nas discussões sobre políticas públicas; cria um podcast com alunas; inaugura a primeira loja Ecomoda em Santa Tereza para venda de produtos; e está desenvolvendo um texto para um decreto estadual que incentive empresas a apoiarem projetos como o deles.

A Associação Ecomoda de moda sustentável recebe doações de materiais têxteis (tecidos, linhas, roupas) de diversas fontes. Esses materiais são usados para oficinas de moda. A organização também trabalha com empresas que doam uniformes, transformando-os em novos produtos que as empresas compram de volta, garantindo a sustentabilidade financeira. O ideal é que as pessoas "criem" suas roupas, pensando em como elas podem ser transformadas e reaproveitadas, indo além da função inicial. Isso promoveria uma moda mais sustentável e criativa, reduzindo o consumo excessivo e o desperdício.

Será inaugurada uma loja física, a Casa Cômoda, localizada na Rua Paraíso, número 8, em Santa Tereza. A inauguração está prevista para a primeira semana de setembro.

Almir sente grande entusiasmo em criar moda, aprimorando-a, conquistando espaço e explorando suas possibilidades. Aprendeu a construir roupas ao longo dos anos, a fim de que possa desconstruí-las e reconstruí-las, até que se transformem por completo.

Existem dois perfis no Instagram: @almirfranca e @ecomoda.rio. Nestes perfis, você pode adicionar, acompanhar os projetos, fazer perguntas e enviar mensagens.

 

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