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Anna Wintour encerra uma Era como editora e deixa seu legado marcado na moda

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    Da redação
  • 12 de jul.
  • 4 min de leitura

Por Shayla Silva

Após 37 anos à frente da Vogue americana, Anna Wintour anunciou sua saída do cargo de editora-chefe no último 26 de junho. O fim de uma era? Com certeza. Mas também a celebração de um legado que moldou, provocou e redefiniu o jornalismo de moda como o conhecemos. De capas icônicas a decisões editoriais ousadas, Anna não apenas comandou a bíblia fashion dos EUA — ela transformou a moda em cultura pop. E vice-versa.

Início da jornada de Wintour na Vogue americana: de Londres a Nova York

Antes de desembarcar na redação da Vogue US, Anna já deixava sua marca na edição britânica. Mas foi em 1988, ao substituir Grace Mirabella, que ela virou do avesso a estética e o posicionamento da revista. Sua primeira capa? A modelo Michaela Bercu usando uma jaqueta de alta-costura da Christian Lacroix com uma cruz bordada e — pasmem — um jeans da Guess. 

Hoje, isso é mais que comum, mas na época — jeans na capa da Vogue? — era inimaginável. A imagem foi tão impactante que a gráfica ligou achando que era um erro da revista. Mas não: era só Anna começando sua revolução.

A modelo israelense Michaela Bercu, primeira capa de Anna na Vogue US, em 1988: Vogue/Reprodução
A modelo israelense Michaela Bercu, primeira capa de Anna na Vogue US, em 1988: Vogue/Reprodução

Uma ruptura no tradicionalismo fashion da revista

E ela não parou por aí. Nos anos seguintes, quebrou padrões ao colocar homens na capa (Richard Gere, em 1992), ao eleger Madonna como estrela de maio de 1989 — quando ainda se acreditava que apenas modelos "de passarela" deveriam estampar a revista — e ao colocar Naomi Campbell, uma mulher negra, na capa da icônica edição de setembro daquele mesmo ano. Em uma indústria ainda dominada por padrões eurocêntricos e limitantes, Anna foi vanguarda.

Em entrevista à WWD, a magnata da moda já declarou: “Só queria tornar o visual da revista mais descontraído, da forma como vejo as mulheres na rua”. Veja alguns de seus maiores feitos como editora da revista americana:

O protagonismo das celebridades

Se hoje capas de revistas são disputadas por atrizes e cantoras, agradeça a Anna Wintour. Foi sob sua liderança que a Vogue se tornou palco para ícones como Beyoncé, Serena Williams, Rihanna e Nicole Kidman. Anna entendeu antes de todos que moda e cultura pop caminham lado a lado — e que estilo também se faz no palco, no cinema e no tapete vermelho.

Madonna: Vogue/Reprodução
Madonna: Vogue/Reprodução

A primeira supermodelo negra a estampar a capa

Na edição de setembro  — a mais importante do calendário da revista — de 1989, Anna colocou Naomi Campbell na capa. Um marco. A supermodelo britânica se tornou a primeira mulher negra a protagonizar a Vogue US nesse período, em uma decisão que ajudou a abrir caminhos para a representatividade na indústria da moda.

Naomi Campbell: Vogue/Reprodução
Naomi Campbell: Vogue/Reprodução

A moda como plataforma política e social

Anna também foi responsável por expandir o papel da revista para além das tendências. Durante seu comando, a Vogue já se envolveu em pautas raciais, ambientais, políticas e LGBTQIAPN+. Em suas capas, figuras como Michelle Obama, Kamala Harris e Greta Thunberg. Um editorial de moda também pode — e deve — carregar opinião.

Michelle Obama: Vogue/Reprodução
Michelle Obama: Vogue/Reprodução

Nova roupagem para o Met Gala

Embora o Met Gala já existisse, foi Anna quem o transformou no maior evento da moda mundial, conhecido como o Óscar da Moda. Desde 1995, ela comanda a curadoria da noite mais glamourosa do calendário fashion, incluindo a lista de convidados e as temáticas. O evento se tornou uma plataforma multimilionária para arrecadação de fundos e promoção de moda como espetáculo.

Relevância para além do fashion

Wintour é assumidamente democrata e foi condecorada pelo Presidente Joe Biden no início deste ano, com a Medalha Presidencial da Liberdade, considerada a mais alta honra civil dos EUA. No Reino Unido também tem o título de dama, atribuído por Isabel II, em 2017, pelos serviços à moda. Ainda neste ano, Carlos III distinguiu-a como Companheira de Honra.

Influência na cultura pop

Anna não virou ícone só no mundo da moda como também se tornou parte da cultura pop. Seu personalidade rígida e sua autoridade editorial serviram de inspiração para O Diabo Veste Prada, livro escrito por sua ex-assistente Lauren Weisberger e adaptado para o cinema em 2006. 

O longa protagonizado por Meryl Streep, que vive Miranda Priestly — a cópia fictícia de Wintour —  e Anne Hathaway virou um clássico de sucesso, tanto que temos uma sequência a caminho. Além disso, a personagem Edna Moda, de Os Incríveis, também é frequentemente associada à imagem de Anna: cabelo curto com franja reta, óculos, uma personagem direta e um olhar afiado para moda e inovação.

Miranda Priestly: Reprodução/IMDb
Miranda Priestly: Reprodução/IMDb

Met Gala

Mais que anfitriã, Anna é a alma do Met Gala. Desde que assumiu a organização do baile beneficente do Metropolitan Museum of Art, o evento arrecadou mais de 300 milhões de dólares para o Costume Institute. 

É ela quem aprova pessoalmente a lista de convidados, define as temáticas anuais e coordena a experiência como um todo. Nomes como Rihanna, Sarah Jessica Parker, Zendaya, Gisele Bundchen e Pharrell Williams são presenças frequentes. Casas de moda aproveitam a oportunidade para desfilar suas criações no tapete vermelho mais requisitado. 

Legado na moda e próxima fase da Vogue americana

Respeitada e temida em igual medida, Anna sempre teve um papel de “rainha-mãe” entre os designers. Desde os anos 90, a chefona da Vogue deu luz a novos designer como Alexander McQueen (1969-2010), John Galliano ou Stella McCartney. Além disso, ela ajuda a impulsionar estilistas emergentes por meio de um fundo do Conselho de Designers de Moda da América, criado em parceria com a Vogue em 2003.

Sua presença em desfiles de iniciantes é quase uma “bênção profissional”. Além disso, ela é peça-chave nas principais semanas de moda da Alta-Costura, sempre se sentando na primeira fila, minutos antes das luzes se apagarem — a pontualidade e autoridade eram suas marcas registradas.

Mesmo deixando o posto de editora-chefe da edição americana, Anna segue como diretora editorial global da Vogue e da Condé Nast, supervisionando diversas publicações de prestígio como GQ, Vanity Fair e AD. O próximo passo? A nomeação de uma nova liderança para a Vogue US, tarefa nada fácil diante do legado construído.

Aos 75 anos, Wintour não está se aposentando, apenas mudando de papel. Mas sua influência já está eternizada, não apenas nos arquivos da moda, mas em toda uma geração que aprendeu com ela que vestir é também comunicar. E ninguém soube fazer isso com tanta firmeza e sofisticação quanto Anna.


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