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[CRÍTICA] Babygirl: Nicole Kidman se entrega em um thriller erótico que divide opiniões

  • Foto do escritor: Manú Cárvalho
    Manú Cárvalho
  • 5 de fev.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 14 de fev.

LUZ, CÂMERA, CRÍTICA!Por Manu Cárvalho Nota: ★★★½

Nicole Kidman e Harris Dickinson
Nicole Kidman e Harris Dickinson em "Babygirl" (Foto: reprodução/Courtesy Everett Collection)

Provocador, intenso e, por vezes, desconfortável. Assim é “Babygirl”, o novo longa dirigido por Halina Reijn, que nos convida a mergulhar em um thriller erótico que flerta com os limites do desejo e do poder. Estrelado por Nicole Kidman, no papel de Romy Mathis, e Harris Dickinson, como Samuel, seu jovem estagiário, o filme não tem medo de explorar as nuances da vulnerabilidade e da dominação. Mas, para além de suas ousadias, será que “Babygirl” entrega um retrato que realmente faz jus à complexidade dos temas que aborda?


Uma premissa que provoca reflexões

A trama gira em torno de Romy, uma poderosa CEO de tecnologia que, apesar de todo o seu sucesso profissional, sente-se emocionalmente distante e presa em um casamento sem paixão. Sua vida dá uma guinada quando Samuel, um jovem estagiário cheio de carisma e charme, entra em cena. O que começa como uma atração silenciosa logo evolui para uma relação repleta de tensão sexual, jogos de poder e exploração emocional.


O filme é audacioso em suas escolhas narrativas. Ele não aborda apenas a atração entre uma mulher mais velha e um homem mais jovem, mas também mergulha em questões de consentimento, desejo reprimido e dinâmicas de poder dentro de um ambiente corporativo. A proposta, no papel, é intrigante e estimulante. No entanto, na prática, senti que o filme entrega um resultado misto: provoca reflexões, mas hesita em ir fundo nas discussões que propõe.

Romy (Nicole Kidman) se envolve com Samuel (Harris Dickinson), um homem mais jovem em 'Babygirl'
Romy (Nicole Kidman) se envolve com Samuel (Harris Dickinson), um homem mais jovem em 'Babygirl' — (Foto: reprodução/Courtesy Everett Collection)

Nicole Kidman: magnética, mas carregando o filme sozinha

Nicole Kidman, como era de se esperar, brilha no papel de Romy. Sua performance é cheia de nuances, trazendo ao personagem uma combinação fascinante de força e fragilidade. Kidman nos apresenta uma Romy ao mesmo tempo imponente e vulnerável, uma mulher que tenta desesperadamente manter o controle enquanto sucumbe aos seus próprios desejos. Há uma dor latente em sua atuação que ultrapassa os diálogos e é traduzida com maestria.


Por outro lado, senti que Harris Dickinson, embora competente como Samuel, carece de magnetismo. Ele interpreta bem o papel do jovem sedutor e enigmático, mas falta profundidade para tornar o personagem memorável. Em muitos momentos, parece que Kidman está carregando o filme sozinha – e isso não é exatamente uma crítica a ela, mas sim à falta de equilíbrio no roteiro e nas atuações.


Direção e estética: um banquete visual de Babygirl

Halina Reijn faz um trabalho primoroso na construção da atmosfera do filme. A paleta de cores é fria, quase clínica, refletindo o mundo controlado e restritivo em que Romy vive.


Mas, à medida que ela se envolve com Samuel, o visual do filme se torna mais quente e envolvente, espelhando a intensidade emocional e sexual da relação dos dois.


As cenas íntimas, que já geraram muitos comentários, são filmadas com uma mistura de ousadia e delicadeza. Reijn evita a vulgaridade, focando na conexão emocional e na tensão entre os personagens, em vez de recorrer ao erotismo explícito. Ainda assim, algumas cenas podem ser desconfortáveis para o espectador – e acredito que esse desconforto faça parte da proposta do filme de desafiar e provocar.


Babygirl
Cena do filme Babygirl (Foto: reprodução/Courtesy Everett Collection)

Narrativa: uma história que promete mais do que entrega

Apesar de sua estética impecável e da performance magnética de Kidman, “Babygirl” sofre com a falta de profundidade narrativa. A premissa é fascinante, mas o roteiro parece hesitar em explorar as complexidades dos temas que aborda. Questões como a diferença de poder entre os personagens, os dilemas éticos da relação e o impacto emocional das escolhas de Romy são apenas superficialmente discutidos.


O filme parece mais interessado em criar momentos de impacto visual e emocional do que em desenvolver uma narrativa coesa e envolvente. Para uma obra que promete explorar as nuances do desejo e do poder, senti que faltou coragem para realmente mergulhar na psique dos personagens e nas implicações mais profundas de suas ações.


Por exemplo, o conflito interno de Romy é apresentado, mas nunca explorado com profundidade. Somos levadas a entender que ela luta contra seus próprios desejos e as pressões sociais, mas o filme hesita em nos mostrar mais sobre sua história, suas motivações ou os efeitos das decisões que toma. E Samuel, por sua vez, embora misterioso e sedutor, é pouco desenvolvido. Quem ele realmente é? O que o motiva? O roteiro não responde, deixando o personagem como um enigma vazio.


Essa falta de ousadia narrativa também afeta o ritmo do filme. Após um início promissor e tenso, a história perde força no meio, com cenas que parecem repetitivas ou que não avançam a narrativa. A tensão sexual, que é o motor do filme, vai se diluindo, e o clímax – ou a falta dele – deixa a sensação de que algo ficou inacabado.


A divisão entre crítica e público

Desde sua estreia, “Babygirl” tem dividido opiniões. Críticos como os do The Australian elogiaram a coragem de Kidman em assumir um papel tão desafiador e destacaram o filme como uma obra provocativa, ideal para discussões sobre poder e desejo. Por outro lado, veículos como o The Guardian criticaram o filme por não ir além da superfície, chamando-o de “um thriller que promete transgressão, mas acaba domesticado demais para deixar uma marca”.


Entre o público, a divisão é igualmente perceptível. Algumas espectadoras apontam identificação com os dilemas de Romy, enquanto outras enxergam no filme uma tentativa estética que não se sustenta narrativamente. É um daqueles casos em que o filme não é para todas, mas encontra seu público entre aquelas que apreciam obras que desafiam as normas convencionais.


Babygirl
Babygirl (Foto: reprodução/Courtesy Everett Collection)

Reflexões provocadas pelo filme

Apesar de seus tropeços, “Babygirl” tem o mérito de trazer questões provocadoras para o centro da conversa. O filme não apenas questiona as dinâmicas de poder em relações íntimas, mas também explora os desejos femininos de uma forma raramente vista no cinema. Romy não é retratada como uma vilã ou uma vítima, mas como uma mulher multifacetada, com desejos que muitas vezes entram em conflito com seu papel na sociedade.


A narrativa também toca em um ponto sensível: a maneira como o poder e o controle moldam nossas relações. Romy, uma mulher poderosa em sua carreira, mas emocionalmente vulnerável em sua vida pessoal, reflete o peso das expectativas impostas às mulheres. A relação com Samuel é quase uma metáfora para o desejo de escapar dessas pressões, mesmo que temporariamente.


Conclusão: um filme que divide e provoca

“Babygirl” é, sem dúvida, um filme que divide opiniões – e talvez esse seja um de seus maiores méritos. Esteticamente impecável, com uma performance magnética de Nicole Kidman, a obra sofre com uma narrativa que parece ter medo de ir mais fundo. Para algumas espectadoras, será uma provocação fascinante; para outras, uma experiência frustrante e insatisfatória.


Se você está disposta a assistir a um filme que flerta com questões complexas sem necessariamente resolvê-las, “Babygirl” pode ser uma experiência intrigante. Mas, se espera uma história mais coesa e emocionalmente rica, talvez seja melhor ajustar suas expectativas antes de embarcar nessa jornada.


No final das contas, mesmo com suas falhas, “Babygirl” nos lembra que o desejo – e as histórias que o cercam – continuam sendo um dos terrenos mais férteis e desafiadores para o cinema. E só por isso, já vale a pena a conversa.

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