Por Manu Cárvalho

Nos últimos meses, imagens de filas gigantescas em cidades brasileiras tomaram as redes sociais. Centenas de pessoas aguardam pacientemente para participar do projeto World ID, uma iniciativa que promete uma revolução digital. Mas o que leva tantos brasileiros a aderirem à ideia de compartilhar algo tão íntimo quanto a íris dos olhos?
Entre os participantes, muitos descobrem o programa através de vídeos virais nas redes sociais. “Achei curioso no início, parecia algo saído de filme de ficção científica. Mas quando vi que estavam pagando em criptomoedas, fiquei interessada. Quem não quer uma grana extra, né?”, comenta uma participante enquanto aguarda sua vez de frente a uma das misteriosas “Orbes” — as câmeras que registram a íris.
O World ID foi lançado oficialmente no Brasil em novembro de 2024 e é parte de um projeto global que visa criar uma identidade única e intransferível, protegida contra fraudes digitais. Para isso, utiliza a íris — a parte colorida do olho — como identificador biométrico. Em troca, os participantes recebem uma quantia em criptomoedas, algo que tem atraído especialmente os jovens interessados nesse universo financeiro.
O projeto, liderado por Alex Blania e Sam Altman, CEO da OpenAI, ganhou notoriedade após viralizar em um vídeo do TikTok que mostrava uma jovem participando da operação no Brasil. Desde seu lançamento em 2023, o World busca criar uma "prova de humanidade" para diferenciar humanos de inteligências artificiais, utilizando o dispositivo Orb para registrar íris e gerar um World ID. Os participantes recebem worldcoins, a criptomoeda nativa do projeto, atualmente avaliada em US$ 2 por unidade.

Porém, nem tudo é consenso. A ideia de ceder informações tão íntimas para uma empresa privada — ainda que com um discurso de inclusão digital — tem levantado uma série de questionamentos. Em um artigo publicado recentemente, uma pesquisadora em segurança digital alertou sobre o risco de vazamento de dados. “Estamos falando de uma informação biométrica que é única para cada pessoa. Não é como uma senha que você pode trocar. Uma vez comprometida, a íris não pode ser substituída”, enfatiza.
Em países como Espanha, Portugal e Coreia do Sul, o World enfrenta proibições devido a preocupações com privacidade e tratamento de dados biométricos sensíveis. Especialistas destacam que, em caso de vazamento, os dados de íris poderiam gerar prejuízos significativos. Em resposta, o projeto afirma que os registros de íris são deletados após o escaneamento e substituídos por códigos criptografados, garantindo a segurança dos dados. No Brasil, a empresa busca colaborar com reguladores para esclarecer dúvidas.
No entanto, para muitos dos participantes, a possibilidade de ganhar dinheiro imediato supera quaisquer preocupações. Um estudante afirma que a ideia de “vender” sua íris não o incomoda. “Pra mim, é como um RG digital. Não vejo problema, ainda mais se isso me ajudar a entrar no mundo das criptos”, reflete.

Mas como funciona o processo? As pessoas se dirigem a pontos de coleta onde estão instaladas as Orbes. Esses dispositivos capturam uma imagem detalhada da íris, que é registrada em um banco de dados protegido por blockchain — a mesma tecnologia usada para dar segurança a criptomoedas. Em seguida, o participante recebe sua recompensa digital, que pode ser utilizada em transações financeiras ou convertida em dinheiro.
A adesão ao projeto no Brasil demonstra o quanto o tema da inovação digital atrai a população, mas também expõe as desigualdades no acesso à informação. Embora o World ID se apresente como uma solução futurista, ele também provoca debates sobre ética, segurança e direitos dos dados pessoais. Apesar dos desafios, o World atingiu 10 milhões de usuários globalmente e continua crescendo em economias emergentes como Argentina e Brasil.
E você, compartilharia sua íris em troca de recompensas financeiras? Qual é o preço da sua privacidade?
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