LUZ, CÂMERA, CRÍTICA! — Por Manu Cárvalho
Nota: ★★★½

Desde sua primeira aparição nos cinemas, o Capitão América se consolidou como um dos pilares do Universo Cinematográfico Marvel (MCU). Com a aposentadoria de Steve Rogers, interpretado por Chris Evans, o manto foi passado para Sam Wilson, vivido por Anthony Mackie. Capitão América: Admirável Mundo Novo marca a estreia de Wilson como o novo Sentinela da Liberdade nas telonas. Mas será que essa nova fase faz justiça ao legado do herói?
O filme tinha o potencial de entregar uma história inovadora, que respeitasse o legado do herói enquanto explorava as complexidades sociais e políticas de um mundo em constante transformação. No entanto, problemas de roteiro, uma execução apressada e um antagonista pouco desenvolvido fazem com que essa nova fase do Capitão fique aquém do esperado. Com uma produção conturbada e escolhas narrativas questionáveis, Admirável Mundo Novo se torna um capítulo morno no MCU.

O MCU já demonstrou que pode entregar narrativas mais maduras e densas dentro do gênero de super-heróis, como em Capitão América: O Soldado Invernal e Pantera Negra. Ambos os filmes souberam equilibrar a ação e a política de maneira eficiente, criando histórias que transcendiam o comum dentro do universo dos heróis. Infelizmente, Admirável Mundo Novo parece seguir um caminho diferente, optando por uma trama sem profundidade e com mensagens subdesenvolvidas.

Uma produção marcada por turbulências
Antes mesmo de sua estreia, o filme já enfrentava rumores sobre uma produção conturbada. Relatórios indicam que Admirável Mundo Novo passou por refilmagens extensivas e ajustes de roteiro de última hora. Um membro da equipe técnica revelou que houve indecisão sobre a direção criativa, incluindo a introdução e remoção de vilões durante a pós-produção, o que resultou em custos adicionais e frustrações no set.
Essa instabilidade se reflete no produto final. A história parece desconexa, os temas são introduzidos sem grande aprofundamento e a obra dá a sensação de ter sido remendada para atender diferentes expectativas do estúdio. O mesmo aconteceu com Thor: Amor e Trovão, que sofreu com uma direção inconsistente e falhas na edição, tornando-se um dos filmes mais divisivos do MCU.
O próprio diretor, Julius Onah, teve que enfrentar pressões do estúdio para alterar sequências importantes e incorporar elementos que, na prática, pouco acrescentam à narrativa principal. Essa falta de visão coesa faz com que o filme pareça um mosaico de ideias que nunca se concretizam completamente.

Representatividade e o peso do manto
A passagem do escudo para Sam Wilson não é apenas uma mudança de protagonista, mas uma afirmação poderosa sobre representação. Nos quadrinhos e no cinema, o Capitão América sempre foi um símbolo de justiça e esperança, mas agora ele também carrega o peso das expectativas de um país diverso, muitas vezes dividido.
A série Falcão e o Soldado Invernal explorou brilhantemente essa transição, mostrando como a sociedade americana reage à ideia de um Capitão América negro. O próprio Sam Wilson tem dúvidas sobre assumir o papel, e seu encontro com Isaiah Bradley, um supersoldado negro que foi apagado da história, reforça a importância desse momento para a representação no MCU. No filme, esse debate continua, mas de forma mais superficial do que na série, deixando um potencial desperdiçado.
Nos quadrinhos, Sam Wilson enfrentou desafios semelhantes, sendo constantemente questionado por não ser "o verdadeiro Capitão América" por alguns setores da população. O filme poderia ter se aprofundado nessa temática, mas optou por abordá-la de maneira mais rasa.
Além disso, a discussão sobre o que significa ser um herói nos dias atuais é apenas arranhada. O mundo que Sam herda é bem diferente daquele de Steve Rogers, e sua jornada deveria refletir esse novo contexto. O MCU teve a chance de criar um filme que explorasse de forma mais realista a dinâmica política global, mas optou por seguir um caminho menos ousado.

Anthony Mackie e seu novo Capitão América
Mackie tem carisma e entrega um Sam Wilson confiante, ainda que o roteiro não o ajude a desenvolver completamente a profundidade de seu personagem. A atuação é comprometida e carrega emoção genuína, mas os conflitos internos de Sam poderiam ser melhor explorados. Seu dilema sobre assumir o manto, presente na série, aqui se transforma em uma simples aceitação do papel sem grandes resistências.
Bucky Barnes, vivido por Sebastian Stan, também marca presença, mas seu papel no filme é reduzido. O que foi uma das melhores dinâmicas de Falcão e o Soldado Invernal se torna apenas um elemento coadjuvante, sem grande impacto. Nos quadrinhos, Bucky também assumiu o escudo temporariamente após a morte de Steve Rogers, e sua versão do Capitão América tinha uma abordagem mais brutal e pragmática.

Vale a pena assistir?
Capitão América: Admirável Mundo Novo é um filme que parece ter medo de ousar. Embora traga momentos promissores, sua execução carece de foco e profundidade. Mackie tem potencial para continuar no papel, mas precisa de um material mais forte para brilhar verdadeiramente. Para quem esperava um filme que marcasse a nova era do Capitão, a decepção é inevitável.
No fim das contas, Admirável Mundo Novo é um reflexo da atual fase do MCU: uma tentativa de reinvenção que tropeça na execução. Falta a grandiosidade que marcou filmes como O Soldado Invernal, falta o impacto emocional de Pantera Negra e falta a inteligência estratégica de Guerra Civil. O filme tenta se equilibrar entre a nostalgia do passado e a necessidade de um futuro diferente, mas no processo, acaba sem identidade própria.

A representatividade de Sam Wilson como Capitão América é um marco, e isso não pode ser ignorado. Contudo, a Marvel precisa compreender que não basta mudar um nome ou um rosto para que uma história tenha impacto. É necessário um roteiro forte, direção competente e ousadia para desafiar as expectativas. Caso contrário, o personagem pode acabar se tornando apenas uma nota de rodapé na história do MCU, algo que seria uma grande injustiça para a trajetória de Sam Wilson.
A pergunta que fica é: qual será o próximo passo para o Capitão América no MCU? Com Guerras Secretas no horizonte e um possível retorno de Steve Rogers sempre pairando como um fantasma, Sam Wilson precisa de uma história que faça jus ao seu escudo. Se o futuro seguir o mesmo caminho de Admirável Mundo Novo, o risco é que o herói perca sua relevância antes mesmo de consolidá-la.
No final, o que deveria ser um novo começo para o Capitão América se torna apenas mais um capítulo esquecível em um MCU que parece não saber para onde está indo.
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