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[CRÍTICA] Missão: Impossível – O Acerto Final: o adeus de Ethan Hunt é adrenalina pura com alma e memória

  • Foto do escritor: Manu Cárvalho
    Manu Cárvalho
  • há 6 dias
  • 4 min de leitura

LUZ, CÂMERA, CRÍTICA! — Por Manu Cárvalho


Missão: Impossível – O Acerto Final
Missão: Impossivel - O Acerto Final (Foto: reprodução/ Paramount Pictures / Skydance)

Poucas franquias conseguem envelhecer com a dignidade que "Missão: Impossível" ostenta. Iniciada em 1996, com o charme dos filmes de espionagem clássicos, a série protagonizada por Tom Cruise não apenas sobreviveu ao tempo — ela o desafiou a cada novo capítulo, elevando o nível da ação cinematográfica e a exigência física de seu astro. Agora, em 2025, chegamos a um momento simbólico: "Missão: Impossível – O Acerto Final" carrega no título um peso quase existencial para os fãs e para o próprio Ethan Hunt. É a promessa de um desfecho. Mas será mesmo o fim?


Com direção novamente a cargo de Christopher McQuarrie, este suposto último episódio não é apenas uma tentativa de fechar um ciclo com chave de ouro. É uma declaração: de amor ao cinema de ação, ao espetáculo físico, ao herói que salta sem dublê de penhascos reais porque ainda acredita que salvar o mundo é uma missão pessoal. E, mais do que isso, é um lembrete de que o impossível só existe até alguém ir lá e fazer.


Desta vez, a ameaça é invisível, intangível, mas assustadoramente real: uma inteligência artificial chamada "The Entity", que ultrapassou barreiras digitais para se infiltrar nas defesas mais protegidas do planeta. Ethan e sua equipe enfrentam não só um novo tipo de inimigo, mas o dilema moral do controle, da manipulação da verdade, da vigilância e da confiança em um mundo cada vez mais desumanizado. O roteiro abraça o zeitgeist de 2025 sem parecer panfletário. O medo de que nossas próprias criações se voltem contra nós — essa ideia tão comum na ficção científica — aqui assume contornos quase filosóficos.


Missão: Impossível – O Acerto Final
Missão: Impossivel - O Acerto Final (Foto: reprodução/ Paramount Pictures / Skydance)

O que sempre diferenciou “Missão: Impossível” de outras franquias de ação, como “007” ou “Jason Bourne”, é o senso de comunidade. Ethan Hunt, embora central, nunca age sozinho. E aqui, a equipe está mais afiada do que nunca: Benji (Simon Pegg), com seu humor e coração; Luther (Ving Rhames), como a bússola moral e técnica; e agora Grace (Hayley Atwell), uma adição que rouba cenas com carisma, destreza física e camadas emocionais inesperadas. Há também antagonistas novos, e todos parecem ter saído diretamente da cabeça de um roteirista que entende que vilões precisam ser tão memoráveis quanto heróis.


A construção narrativa de McQuarrie opta por algo ambicioso: o filme tem quase três horas de duração (170 minutos, para ser exato), mas não tropeça no ritmo. Ao contrário, ele respira. Permite que cenas de ação alucinantes convivam com momentos de silêncio, de pausa, de dúvida. E é nesses instantes que enxergamos um Ethan diferente — mais velho, mais cansado, mais humano. A ideia de que esta pode ser sua última missão o assombra, e Tom Cruise transmite essa dualidade com uma entrega comovente. Sua obstinação física — escalar, correr, saltar de paraquedas, pilotar helicópteros — é conhecida, mas aqui, o que marca é o olhar. O silêncio antes de agir. A hesitação que nunca vimos antes.


Missão: Impossível – O Acerto Final
Missão: Impossivel - O Acerto Final (Foto: reprodução/ Paramount Pictures / Skydance)

É inevitável falar das cenas de ação: há uma sequência subaquática que beira o insano em um submarino russo, um embate em cima de um trem que homenageia Hitchcock e “Missão: Impossível 1”, e uma coreografia aérea com biplanos vintage que já entra para a história da franquia. Nada disso seria tão eficaz se a direção de fotografia não fosse tão competente, se a trilha sonora não acertasse em cada compasso, se o timing da montagem não fosse cirúrgico. Há uma coesão estética e sensorial em cada cena que torna “O Acerto Final” um deleite para os olhos e ouvidos.


Mas não é só técnica. Este é um filme sobre memória. A memória do que foi construído em quase trinta anos de cinema. Há referências sutis a momentos dos filmes anteriores — olhares, frases, objetos. Há homenagem, mas não repetição. É como se McQuarrie e Cruise soubessem que o público que acompanha a franquia desde os anos 90 merece mais do que nostalgia: merece evolução.


Talvez o maior mérito de “O Acerto Final” seja a forma como lida com o envelhecimento de seu protagonista sem torná-lo caricatural ou substituível. Ethan Hunt não é um super-herói. Ele sangra, falha, cansa. Mas ainda assim escolhe continuar. Porque acredita em algo maior. Porque sabe que, enquanto estiver vivo, alguém precisa correr atrás da verdade. É nessa crença que o filme encontra sua potência emocional. E é nesse terreno que a jornada de Ethan deixa de ser apenas uma série de cenas espetaculares para se tornar um conto sobre legado.


Missão: Impossível – O Acerto Final
Missão: Impossivel - O Acerto Final (Foto: reprodução/ Paramount Pictures / Skydance)

O roteiro evita cair no sentimentalismo fácil. Sim, há emoção — e não falta quem vá derramar uma lágrima discreta —, mas tudo é dosado com precisão. É como se a própria linguagem do filme tivesse sido moldada para nos lembrar que esta é, sim, uma despedida... mas não um lamento. É uma celebração. De todos os saltos impossíveis, das máscaras arrancadas na última hora, dos minutos finais em contagem regressiva. Dos amigos que viraram família. E, acima de tudo, do cinema que se faz com suor, coragem e convicção.


É curioso pensar que “Missão: Impossível” tenha resistido ao tempo justamente porque nunca se propôs a ser “realista”. O exagero sempre foi parte do charme. O que mudou é que hoje, num mundo saturado de efeitos digitais e heróis gerados em CGI, ver Tom Cruise correr de verdade, cair de verdade, pilotar de verdade, tornou-se revolucionário. É o velho tornando-se novo. É o humano lembrando ao espectador por que o cinema é, acima de tudo, uma experiência física, sensorial, coletiva.


Se “O Acerto Final” for, de fato, o último capítulo, que bela maneira de se despedir. Se não for, e apenas estiver preparando o terreno para um novo ciclo — com novos protagonistas, talvez —, também cumpre sua função. Mas o que fica, ao apagar das luzes, é um suspiro. Daqueles que a gente solta quando sai do cinema de alma lavada, com o coração disparado, mas estranhamente em paz.


⭐ NOTA: 4,5 de 5 estrelas

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