“O Esquema Fenício”: Wes Anderson tropeça na própria simetria e transforma cinema em vitrine de loja vintage
- Ana Soáres

- 24 de mai.
- 2 min de leitura
Por uma crítica com faro para o que é ouro e o que é só latão polido

Wes Anderson já foi um cineasta. Hoje, é um designer de interiores com câmera na mão. E “O Esquema Fenício” é sua mais recente instalação de luxo: rebuscada, meticulosamente organizada, e, no fundo, vazia como uma mala de grife esquecida na esteira de bagagem do existencialismo cinematográfico.
Vamos ao que interessa: Sim, o filme é esteticamente irretocável. Cada quadro é um pôster pronto para Instagram de cinéfilo aspiracional. E não falo isso com desprezo — Anna Pinnock (direção de arte) e Robert Yeoman (fotografia) entregam uma sinfonia visual que faria até Stanley Kubrick levantar uma sobrancelha de interesse. Mas beleza, meu caro leitor, não sustenta um filme. E é aqui que o castelo de cartas coloridas de Anderson desmorona com barulho de porcelana fina quebrando.
“O Esquema Fenício” tenta vender profundidade emocional, mas entrega um PowerPoint de aforismos sobre redenção, família e finitude. Benicio Del Toro até se esforça em tornar Zsa-Zsa Korda — esse magnata amaldiçoado por sua própria megalomania — em algo além de uma caricatura. Mas não há espaço para humanidade quando o roteiro se ajoelha diante da estética como um fã diante do altar de um culto de Instagram.
A tentativa de enfiar Stravinsky e Bach na mesma partitura emocional não é genial, é desesperada. Wes quer nos convencer que seu protagonista está entre o fogo e a redenção, entre o caos dissonante e a harmonia barroca. Mas a verdade é que Korda — e o próprio filme — nunca saem do lugar. É uma jornada interior encenada com a frieza de uma vitrine da Harrods: bela, mas que ninguém pode tocar.
E a narrativa? Uma colagem de ideias que parecem ter saído de brainstorms onde ninguém ousou dizer "isso não faz sentido". A tal “empreitada financeira hermética” que move o título do filme é um pretexto frouxo para uma sucessão de esquetes montadas como peças de teatro pastelão. Explosões? Envenenamentos? Visões com Bill Murray de Deus e Dafoe de anjo? Soa interessante, mas tudo tem o mesmo peso, a mesma entonação. Até a morte parece coreografada por um diretor de comercial de perfume francês.
O elenco — com talentos como Tom Hanks, Riz Ahmed e Bryan Cranston — está preso num compasso metronômico, como bonecos de cera animados por IA. E quando até Michael Cera parece ter mais carisma do que o protagonista, temos um problema. Um problema de direção, de propósito e, principalmente, de excesso de controle.
“O Esquema Fenício” é Wes Anderson no piloto automático, tentando se reinventar trocando o filtro sépia por um verde petróleo. O que antes era charme virou cansaço. O que antes era estilo virou farsa. Anderson transformou o cinema em um showroom de suas obsessões — e esqueceu que o público ainda espera por alma.




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