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[CRÍTICA] Tron: Ares - Quando o digital invade o real, mas esquece o coração

  • Foto do escritor: Manú Cárvalho
    Manú Cárvalho
  • 8 de out.
  • 3 min de leitura

LUZ, CÂMERA, CRÍTICA! — Por Manú Cárvalho

Tron: Ares
Foto: Divulgação/Walt Disney Studios Motion Pictures

Em 9 de outubro de 2025, Tron: Ares desembarca nos cinemas com a promessa de colocar inteligência artificial e ambição humana frente a frente. Sob a direção de Joachim Rønning e com roteiro de Jesse Wigutow, o filme reúne Jared Leto, Greta Lee e Evan Peters em um espetáculo visual que questiona: estamos prontos para conviver com nossos próprios códigos?


O enredo nos leva de volta à mitologia Tron: Ares, um programa avançado, emerge da realidade digital e caminha pelas ruas, armado de questionamentos sobre propósito, poder e liberdade. O arco principal se constrói na colisão entre humanos e seres criados por humanos e, com isso, expande o universo criado décadas atrás com uma ambição explícita de tangenciar dilemas existenciais.


Jared Leto interpreta Ares com uma restrição dramática que surpreende ou melhor, com uma contenção que tenta equilibrar a aura de programador frio com traços emergentes de consciência. Ele não cai no exagero típico de vilões robóticos: sua trajetória floresce em nuances, ainda que o roteiro não ofereça tantos momentos íntimos quanto poderia. Greta Lee, como Eve Kim, se destaca ao trazer uma figura humana empenhada na salvação daquilo que ela mesma ajudou a criar, construindo dúvidas e gás emocional. Evan Peters, por sua vez, faz de Julian Dillinger um antagonista tecnocrático, um homem que conjuga ambição com megalomania ainda que falte densidade para tornar sua vilania memorável.


Tron: Ares
Foto: Divulgação/Walt Disney Studios Motion Pictures

Visualmente, Tron: Ares é um show. A entrada dos programas no mundo real é acompanhada por efeitos refinados, luzes neon reluzentes e sequências digitais que dialogam com o passado da franquia. O Grid que existe em pixels e circuitos ganha textura palpávele isso é um triunfo. O design de produção, a direção de arte e a fotografia (associada ao veterano Jeff Cronenweth) constroem um mundo híbrido, entre concreto e código, entre passo humano e salto tecnológico.


Mas, por mais que o filme impressione pela estética, ele tropeça quando tenta equilibrar espetáculo com substância. O terceiro ato, em especial, se perde em batalhas grandiosas que parecem funcionar mais como vitrines tecnológicas do que como resoluções dramáticas. Há quase uma epidemia de cenografias onde o conflito humano se torna secundário. Críticos já apontaram que Tron: Ares “fala alto, mas não escuta o que está sendo dito”, visualmente ousado, mas narrativamente deserto em algumas passagens.


O maior mérito do filme está, sem dúvida, no risco de trazer os programas para a vida material e tangível. Quando Ares interage com ruas, prédios e corpos, há uma beleza inquietante nessa transição. A cena em que ele revive, após apagado, caminha por uma rua vazia iluminada por pontos de LED é quase poética um momento de fusão entre máquina e mito. Nessas pausas, o longa flerta com grandeza.


A trilha sonora de Nine Inch Nails assinada por Trent Reznor e Atticus Ross, dá o tom ideal: reverbera tensão, sintetiza a urgência cibernética e acrescenta oscilação emocional sem exageros. Em vários momentos, a música funciona como um terceiro protagonista, empurrando o filme para além da superfície.



Tron: Ares
Foto: Divulgação/Walt Disney Studios Motion Pictures

Mas o fato é que Tron: Ares peca por ambição comedida. O roteiro, estruturado para agradar fãs da franquia e novos públicos, recorre a conveniências nas transições dramáticas. As motivações políticas de Dillinger têm lampejos de profundidade, mas muitas vezes se perdem em diálogos expositivos ou em corte visual. A relação entre Ares e Eve, potencialmente central, ganha momentos de tensão, mas falta um fio condutor consistente para que se torne verdadeiramente memorável.


Há elogios merecidos: o filme acerta ao não subestimar o público geek; ao resgatar o conceito de “código que vira carne”; ao honrar a estética Tron com ousadia moderna. Os efeitos são fluídos, o ritmo flerta com o épico, e há cenas que colam na retina como programas marchando por avenidas, desenhando sombras e silhuetas digitais que se desfazem no ar.


Mas há também desilusões inevitáveis: personagens coadjuvantes surfarão pouco no corte final; certas mudanças abruptas de foco tornam o enredo fragmentado; o conflito emocional maior qual é o limite entre criador e criatura? É só esboçado. Em alguns momentos, Tron: Ares se assemelha mais a um show tecnológico do que a um filme com alma.


Para quem mergulhou no universo Tron desde a década de 80, há nostalgia e reverência suficientes para encantar. Para novos espectadores, há brilho, barulho e promessa. Mas para quem espera que esse retorno sugira algo mais além da luz digital, o filme tem sabor misto: um espetáculo honesto que esquece, às vezes, de nos convidar a sentir.


No fim, Tron: Ares volta a nos lembrar por que nos apaixonamos pelo universo Tron. Ele ousa trazer o código ao mundo real, celebra a estética digital, provoca reflexões no limiar entre máquina e homem. Mas, para ser verdadeiramente marcante, precisava ousar mais no humano, escavar mais nas dúvidas. Nota final: ⭐⭐⭐⭐

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