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[CRÍTICA] THE ROSES: ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE – AMOR, RANCOR E A ARTE DE SE DESPEDIR

  • Foto do escritor: Manú Cárvalho
    Manú Cárvalho
  • 25 de ago.
  • 4 min de leitura

LUZ, CÂMERA, CRÍTICA! — Por Emänoelly Rozas


THE ROSES: ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE
Reprodução/ 20th Century Studios

Há filmes que não se contentam em apenas contar uma história; eles se infiltram no coração do espectador, provocando riso, desconforto, dor e um certo tipo de catarse que só o cinema consegue proporcionar. The Roses: Até que a Morte os Separe, dirigido por Jay Roach e roteirizado por Tony McNamara, é exatamente esse tipo de obra. Com estreia marcada para 28 de agosto de 2025 e duração de 1h45, o longa se constrói como uma comédia dramática ácida e irresistível, explorando os limites do amor conjugal, a decadência dos afetos e a tênue linha entre cumplicidade e guerra doméstica. O elenco, estrelado por Olivia Colman, Benedict Cumberbatch e Andy Samberg, é um espetáculo à parte, e transforma uma trama que poderia cair no melodrama em um verdadeiro estudo de personagens, repleto de nuances.


Desde o início, fica claro que não estamos diante de uma simples comédia romântica ou de uma típica sátira de casamentos. Ao contrário: o filme se propõe a mergulhar naquilo que há de mais contraditório nas relações humanas, colocando lado a lado o amor profundo e o ódio devastador. Olivia Colman, em uma das atuações mais complexas de sua carreira, dá vida a Margaret Rose, uma mulher que se equilibra entre a doçura e a ferocidade. Sua interpretação é magnética: ela nos faz rir, nos comove e, em muitos momentos, nos perturba. Ao seu lado, Benedict Cumberbatch interpreta William Rose, um homem meticuloso, racional e profundamente frustrado, que vê no casamento tanto a prisão quanto o reflexo de si mesmo. O embate entre esses dois gigantes da atuação é o coração pulsante do longa, e cada diálogo, cada silêncio, é carregado de tensão.


Jay Roach conduz a narrativa com inteligência rara. Conhecido por seu talento tanto em comédias escrachadas quanto em dramas políticos, aqui ele equilibra os dois universos, criando uma obra que faz rir mesmo quando a situação beira a tragédia. O roteiro de Tony McNamara é afiado, sarcástico e extremamente humano. Em diversos momentos, a plateia se vê rindo de situações cruéis, como se fosse impossível escapar do desconforto. Essa mistura de riso e dor é justamente o que torna The Roses tão fascinante: o filme não busca agradar, mas confrontar, colocando um espelho diante do espectador e perguntando se, por trás de toda relação amorosa, não existe também uma sombra de destruição.


THE ROSES: ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE
Reprodução/ 20th Century Studios

O timing cômico de Andy Samberg surge como uma válvula de escape essencial. Ele interpreta um advogado de divórcio caricato, mas surpreendentemente lúcido, que transita entre a comédia leve e a ironia amarga. Sua presença quebra a dureza das discussões entre Colman e Cumberbatch, mas sem jamais diluir a seriedade do tema. Pelo contrário: suas falas funcionam como uma espécie de comentário metalinguístico sobre a própria condição humana — somos todos ridículos quando tentamos racionalizar o irracional que é amar.


Visualmente, o filme é exuberante. A direção de arte aposta em cenários elegantes, quase sufocantes, que traduzem a sensação de aprisionamento dos protagonistas. A casa dos Roses, palco principal da história, torna-se quase um personagem: cada sala, cada detalhe arquitetônico, cada objeto parece carregar as memórias de um amor que já foi vivo, mas agora apodrece diante de nossos olhos. A fotografia, marcada por tons quentes em contraste com sombras pesadas, reforça essa ambiguidade entre calor afetivo e frieza emocional.


O que realmente dá força a The Roses é sua capacidade de alternar entre o íntimo e o universal. O espectador acompanha de perto as pequenas crueldades de Margaret e William, mas, ao mesmo tempo, reconhece nesses personagens algo que transcende a ficção: o medo da solidão, o desejo de ser compreendido, a dificuldade em abandonar aquilo que já não faz sentido. O título brasileiro, Até que a Morte os Separe, não é apenas uma referência ao ritual do casamento, mas uma ironia cruel sobre até onde estamos dispostos a levar uma relação para não admitir o fim.


THE ROSES: ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE
Reprodução/ 20th Century Studios

Em sua essência, o filme é um estudo sobre a degradação do amor — não de maneira cínica, mas de forma honesta e corajosa. Ele não romantiza nem demoniza o casamento; apenas o expõe em sua complexidade, mostrando que, por trás de cada promessa de eternidade, existe a possibilidade de desgaste. Nesse sentido, The Roses dialoga tanto com clássicos do cinema sobre relacionamentos quanto com a vida real de qualquer espectador que já tenha amado, brigado e se perguntado se vale a pena continuar.


Ao final, o público sai do cinema com sentimentos misturados: riso, incômodo, empatia, talvez até um certo alívio por reconhecer que não está sozinho nessa montanha-russa de afetos. É justamente essa riqueza emocional que faz do longa uma experiência marcante. Olivia Colman e Benedict Cumberbatch brilham em atuações que certamente figurarão entre as mais lembradas do ano, enquanto Andy Samberg acrescenta leveza sem perder a profundidade. Jay Roach, por sua vez, entrega um trabalho maduro, sofisticado e, acima de tudo, humano.


The Roses: Até que a Morte os Separe não é apenas um filme sobre casamento; é um filme sobre pessoas. Sobre como nos destruímos e nos reinventamos dentro das relações. Sobre como o amor pode ser tão sublime quanto devastador. Sobre como, no fim, rir e chorar são apenas dois lados de uma mesma moeda. E é por isso que ele merece ser visto, discutido e lembrado.


Nota final: ⭐⭐⭐⭐ (4,5/5)

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