Do lixo ao luxo: artista transforma o descarte em moda sustentável e sofisticada
- Rafaela Grande

- 6 de jul.
- 4 min de leitura
Precisamos falar sobre a realidade da sustentabilidade

Fernando Vianna, artista que desde os anos 90 transforma resíduos têxteis em peças únicas que sugerem novas possibilidades de existir e vestir, conversou com a Revista Pàhnorama sobre sua trajetória e sua nova exposição “Entre Linhas” que está no Parque das Ruínas, em Santa Teresa. De Londres ao ateliê em Santa Teresa, Fernando segue inventando começos, histórias e futuros feitos à mão. “Quem se define se limita”. Como diz a frase, ele não gosta de se definir, na verdade, se considera um artista plástico que usa moda, tecidos, pintura e qualquer outro material que aparecer para se expressar. Coloca a alma em tudo que faz e sua mensagem está nas entrelinhas.

A maior mudança que Fernando sentiu ao longo desses anos foi com relação ao “Fast Fashion”. Em sua opinião, uma massificação incrível, um esvaziamento de individualidade, uma busca obsessiva por “Likes”, seguidores e vendas altas a um custo baixo e mão de obra barata. Estes contribuíram para destruição da ousadia de experimentar, criar algo original sem medos de ser diferente e criativo. As tendências na visão de Fernando são os tecidos que estão sendo desenvolvidos, feitos de algas, materiais renováveis, também o Upcycling, reutilização de tecidos, materiais diversos e alternativos, e o retorno do artesanato, mas como artigo de luxo.
“O Upcycling é mais do que reciclar. É transformar algo descartado em algo novo, com significado, propósito e beleza”, afirma Fernando Vianna.
Para as novas gerações marcas que querem trabalhar com a sustentabilidade, ele recomenda evitar o “Fast fashion, os produtos com vida útil curta, reutilizar, reformar, comprar peças com mão-de-obra local, de pequenos negócios e produtores locais (slow fashion). Consumir grifes com pegada Eco, além de estar na moda, é uma mudança necessária. Usar tecidos e fibras naturais, evitar o poliéster e outros sintéticos como nylon, são importantes para o futuro do planeta.
Mas, o que é o upcycling? É a reutilização de materiais já existentes na criação de outro produto. Então, peças aparentemente inúteis se juntam ou se fundem com outros materiais para surgir algo novo. Na reciclagem (termo que era usado) existe a destruição completa para o surgimento de algo totalmente diferente. Como o pet (de garrafas plásticas) o alumínio, ferro… Estes materiais são transformados em matéria-prima para surgimento de novos produtos.
Com relação aos obstáculos enfrentados por Fernando quando começou a trabalhar com as sobras têxteis e peças danificadas em 1998 em Londres, o principal desafio foi a mudança de atitude de consumo:
“Embora tenhamos melhorado bastante e estarmos mais abertos, ainda temos apenas 3% do lixo têxtil destinados ao upcycling. É preciso começarmos a vender um estilo de vida mais coerente e menos poluente. Isto envolve mudanças de hábitos de consumo impostos por um mercado bilionário. “A cor da moda,” o “que se deve e não deve,” e o que ouvimos promovendo sempre o fast fashion”, enfatiza o estilista Fernando.
Outro desafio é orientar o consumidor nas compras conscientes, valorizando o reuso e as reformas. Ao promover a mão-de-obra local digna e justa, cria uma responsabilidade social também muito importante no cenário atual da sociedade e do País.
As principais técnicas e tecidos usados são as de fibras têxteis desenvolvidas com algas, celulose bacteriana, corantes naturais, bambu, cânhamo, modal, lempur (feito de Pinheiro-branco) cactos, entre outros. São fibras que requerem menos água, químicos e são biodegradáveis.
Fernando comenta que equilibra a criatividade com a responsabilidade ambiental em suas criações utilizando ao máximo, materiais já existentes, como roupas garimpadas para upcycling, peças danificadas, manchadas, tecidos vencidos, retalhos e sobras… O próprio material em si e defeitos de fábrica auxiliam na criação. Ao utilizar tecidos novos, ele opta por fibras naturais como algodão, linho, seda, cânhamo etc. Infelizmente Fernando ainda não oferece workshops em seu ateliê, mas está sempre presente na loja para explicações sobre o conceito para guias, clientes interessados, e estudantes de moda e áreas afins. Atualmente ele tem uma parceria com a loja de biojoias Maria Oiticica, e está sempre aberto para colaborações e apoio cultural.
No Brasil, Fernando fez duas exposições individuais. "Arte viva" no teatro Sérgio Porto em 2022. Agora está com a exposição "Entre linhas", que é uma retrospectiva de 25 anos no Upcycling. Em Londres participou de dois concursos, era no início de categorias de moda ecológica. Ganhou o primeiro lugar em peça única 2007 / premiação da Dell. No segundo, ficou em terceiro lugar. Ambas as peças estão na exposição “Entre Linhas” no Parque Gloria Maria (antigo Parque das Ruínas)

Nesta mesma época foi convidado por uma empreendedora canadense Jennifer para fundarem um projeto chamado Revamp. Era um pool de artistas (10) em diferentes áreas, que trabalhavam com roupas e acessórios de segunda mão doadas pela liga de combate ao câncer (Cancer Research UK), as doações viravam peças únicas totalmente diferentes e reinventadas. O desfile de lançamento foi na British library. Ficaram com uma exposição do grupo Revamp por um mês em Shoredich / Londres.
O trabalho realizado por Fernando impacta porque faz com que as pessoas olhem de uma forma diferente sobre reaproveitamento. As pessoas têm que começar a ver as coisas de outra forma quando se fala em consumo, principalmente de vestuário, responsável por 10% da emissão de CO2 no efeito estufa. O ateliê de Fernando fica em Santa Teresa na rua Paschoal Carlos Magno, 43. Lá as pessoas são atendidas com horário marcado. Atendem via Instagram, e em contato direto com o cliente via WhatsApp.
Fotos: Arquivo pessoal, Aurélio Aliosi e Eny Miranda







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