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Favelismo: a revolução que brota do morro e pode mudar o Brasil

  • Foto do escritor: Ana Soáres
    Ana Soáres
  • 20 de mai.
  • 4 min de leitura

Entre a teoria e a prática, Gê Coelho lança um novo olhar sobre as favelas brasileiras: sujeitos históricos, criativos, potentes. A favela não pede mais licença – ela propõe, escreve e autografa o próprio futuro


Gê Coelho
Créditos: Divulgação

Você já parou para pensar que talvez a próxima revolução brasileira não venha do Congresso, das universidades ou das ruas asfaltadas das capitais, mas dos becos, vielas e escadarias que formam os morros do Brasil? Pois se prepare para conhecer o Favelismo, um novo "ismo" que pode ressignificar tudo o que entendemos por política, economia e organização social.

No próximo domingo, 25 de maio, às 15h, a Livraria Travessa de Botafogo vai tremer — e não será por causa de nenhum tremor de terra. Vai ser por causa do lançamento de Favelismo – a revolução que vem das favelas, livro de estreia de Gê Coelho, historiador, mestre em Filosofia, ativista antirracista e, acima de tudo, favelado com orgulho.

A favela como sujeito histórico: chegou a hora de escutar

Nascido e criado numa favela, Gê Coelho é aquele tipo de figura que entra na sala e muda o ar. Sem precisar levantar a voz. Fala com calma, mas com a força de quem conhece a ausência do Estado, o preconceito velado (e escancarado), a luta diária por direitos que a Constituição diz que são garantidos — mas que nunca chegam.

Seu livro é mais do que uma publicação: é uma proposta política radical, no melhor sentido da palavra. “O favelismo é uma teoria política que reconhece a favela como um sujeito histórico, coletivo e ativo na produção de conhecimento, cultura e transformação social”, explica.

Gê Coelho lança um novo olhar sobre as favelas brasileiras
Créditos: Divulgação

E não é exagero. Estima-se que as favelas brasileiras abrigam cerca de 17 milhões de pessoas e movimentam mais de R$ 200 bilhões por ano. Isso mesmo. Duzentos. Bilhões. Com “b”. E, ainda assim, seguem sendo tratadas como “carentes” em vez de potentes.

A força que brota do chão batido

A proposta de Gê é bonita, ousada e necessária. O livro nasceu de sua dissertação de mestrado, aprovada na UFRJ, e carrega nas páginas a experiência de quem venceu (e ainda vence) barreiras estruturais. Gê entrou tardiamente na escola. Foi considerado aluno de “baixo rendimento”. Ouvia que a universidade não era lugar pra ele. Só que era. Ele entrou. E brilhou.

Mas o que poderia ser uma trajetória pessoal de sucesso vira, nas mãos de Gê, um convite coletivo: que outros possam trilhar esse caminho sem tropeçar em tantas pedras. Que a favela seja vista como fonte de conhecimento legítima, não apenas como “objeto de estudo”.

Favelismo é projeto, e já começou

E não pense que o autor fica só na teoria. Atua na Favela Seguros, empresa que levou proteção financeira a territórios invisibilizados pelo sistema bancário tradicional. Ajudou a fundar o partido Frente Favela Brasil. Participa da Frente Nacional Antirracista. Ele age onde as políticas públicas hesitam.

“O que o favelismo propõe”, diz Gê, “é uma mudança de lugar: a favela não está à margem — está no centro. Tem valores, saberes, práticas que podem reorientar o Brasil. Solidariedade, autogestão, afeto coletivo... tudo isso já acontece no cotidiano favelado. Só que não é reconhecido”.

Crítica e construção: o Brasil possível

No Brasil, menos de 1% da população favelada fala uma segunda língua estrangeira. Mesmo assim, a exigência de proficiência em idiomas continua como barreira de acesso na pós-graduação. “Isso é racismo institucionalizado”, denuncia. “A universidade brasileira ainda é um reduto elitista que repele os corpos negros e periféricos”.

Mas o favelismo não se propõe a destruir por destruir. A ideia é construir junto.

“Não quero que o favelismo vire mais uma religião ideológica. Quero que ele inspire. Que as pessoas conheçam, debatam, adaptem”, diz.

A favela, segundo ele, não é uma página em branco esperando para ser escrita por alguém de fora. Ela já está escrevendo. E escrevendo bem.

O autógrafo como ato político

No domingo, quando Gê Coelho abrir sua caneta e começar a assinar as primeiras páginas de Favelismo, mais do que um evento literário, o que vai acontecer na Travessa de Botafogo é um ato político-afetivo-histórico.

Cada autógrafo é um grito silencioso: "eu existo, penso, produzo". Cada olhar trocado com os leitores será uma troca de esperanças. Cada página vendida é uma semente plantada em solo fértil. E que ninguém se engane: o morro pode não ter jardim, mas já está florido.

Porque no fim das contas...

...a favela nunca precisou de salvação. Precisa é de espaço, de respeito, de voz ativa nos rumos do país. O que Gê propõe com o favelismo é algo raro no Brasil: um projeto de futuro nascido do presente real, que não ignora a dor, mas também não se limita a ela.

Se você ainda acha que a favela é sinônimo de violência, carência e desorganização, talvez seja hora de abrir um livro. Ou melhor: abrir o Favelismo. Pode ser que ele te ensine o que muitos doutores ainda não aprenderam.

SERVIÇO

Lançamento do livro “Favelismo – A revolução que vem das favelas”

Domingo, 25 de maio

A partir das 15h

Livraria Travessa de Botafogo – Rua Voluntários da Pátria, 97

176 páginas – Geração Editorial

R$ 49,00 (impresso) / R$ 36,00 (e-book)


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