Fernando Collor: o retorno de um fantasma que nunca foi embora
- Ana Soáres
- há 6 dias
- 3 min de leitura
Atualizado: há 6 dias

Quando a manchete estampou os sites de notícias nesta sexta-feira, 25 de abril — "Ex-presidente Fernando Collor é preso em Maceió" —, a primeira reação de muitos brasileiros foi de confusão. “Essa notícia não é de 1992?” Não, leitor. É de 2025. E sim, é o mesmo Collor. O mesmo político que, há mais de 30 anos, simbolizou a esperança da redemocratização... e também o estopim da primeira grande decepção nacional no período democrático recente.
Collor foi preso às 4h da manhã, em Alagoas, enquanto seguia para Brasília para se entregar. A decisão partiu do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que rejeitou o último recurso da defesa e determinou a prisão imediata. Condenado a 8 anos e 10 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o ex-presidente foi encaminhado à sede da Polícia Federal em Maceió. Segundo o STF, ele recebeu R$ 20 milhões em propina entre 2010 e 2014, envolvendo contratos da BR Distribuidora com a UTC Engenharia.
A história é robusta, as provas também. Mas o incômodo maior talvez seja simbólico: por que demorou tanto?
Collor é um daqueles nomes que atravessam gerações. Para quem viveu os anos 1990, é impossível esquecer o confisco das poupanças, a inflação galopante e a imagem do presidente de jet ski, enquanto o povo agonizava economicamente. Para os mais jovens, talvez ele seja só um rosto perdido entre memes antigos e nomes que ainda circulam no noticiário, como Bolsonaro, Lula, ou Moro. Mas não se enganem: Collor nunca foi uma nota de rodapé.
Após sofrer impeachment em 1992, reapareceu como senador por Alagoas em 2007 e ocupou o cargo até 2023. Durante esse tempo, manteve-se confortável no jogo político, adaptando o discurso, fazendo alianças silenciosas e se mantendo estrategicamente fora dos holofotes. Mas sempre por perto. A tal “velha política” que, em ciclos, continua ditando os rumos da nação.
Se há algo que a prisão de Collor nos obriga a encarar é a persistência da impunidade e da memória seletiva. Foram necessários mais de trinta anos para que a Justiça alcançasse um ex-presidente condenado por esquemas de corrupção robustos — e isso sem contar as acusações anteriores, os escândalos abafados e os silêncios coniventes que o cercaram ao longo de sua trajetória.
E a pergunta que ecoa nas redes sociais e rodas de conversa não é se ele merecia ser preso — isso já está respondido pelo STF — mas por que ele permaneceu livre por tanto tempo? E mais: quantos outros ainda estão, circulando entre gabinetes, jantares políticos e campanhas milionárias?
O caso Collor serve como espelho para o Brasil — um espelho sujo, trincado e incômodo. Ele nos lembra que, por aqui, fantasmas políticos não são enterrados. Eles voltam, muitas vezes mais discretos, mais polidos, mas com as mesmas práticas.
A prisão do ex-presidente pode até parecer um marco de justiça. Mas também expõe a lentidão de um sistema que, quando finalmente age, já deixou estragos profundos demais. Afinal, 33 anos depois do impeachment, não é só Collor que envelheceu. O Brasil também.
E você, que está lendo este texto — jovem, mãe, estudante, trabalhador ou cidadão indignado —, talvez se pergunte: "Quem é esse cara mesmo?" Essa resposta está escrita na história recente do país. Mas o mais urgente agora é a outra pergunta: "Quem são os próximos?"
Comente, compartilhe, converse. Porque política se faz também com memória.
Comments