Saúde em Alerta: o avanço silencioso do fungo resistente nos hospitais europeus
- Ana Soáres
- 12 de set.
- 2 min de leitura
Um inimigo microscópico avança silenciosamente pelos corredores hospitalares da Europa. O nome pode soar estranho – Candidozyma auris, ou simplesmente C. auris –, mas um fungo resistente é uma ameaça, é real, crescente e já testou os limites de sistemas de saúde inteiros.

Entre 2013 e 2023, foram contabilizados mais de 4 mil casos do fungo nos países da União Europeia e do Espaço Econômico Europeu. O salto mais alarmante ocorreu em 2023, quando 1.346 novos registros surgiram em 18 países, segundo dados oficiais do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC).
“O C. auris espalhou-se em apenas alguns anos – desde casos isolados até se generalizar em alguns países. Isso mostra a rapidez com que pode se estabelecer nos hospitais”, alertou Diamantis Plachouras, chefe da equipe de Resistência Antimicrobiana do ECDC.
O fungo resistente invisível que desafia medicamentos
O C. auris não é uma ameaça qualquer. Ele resiste a diversos antifúngicos, sobrevive em superfícies hospitalares e equipamentos médicos, e encontra no corpo de pacientes críticos um terreno fértil para infecções graves. Para médicos e enfermeiros, é como lidar com um adversário que não apenas escapa aos tratamentos, mas também se esconde nos espaços mais inesperados.
A Espanha e a Grécia lideram o ranking europeu, com 1.807 e 852 casos ao longo da década. Itália, Romênia e Alemanha também somam números expressivos. Já Portugal, em 2023, registrou apenas quatro casos isolados – mas o alerta permanece, porque a falta de vigilância sistemática significa que os números reais podem estar subestimados.
Um desafio político e social
Mais do que um problema médico, a propagação do fungo expõe falhas estruturais. Apenas 17 dos 36 países analisados possuem sistemas de vigilância nacional para monitorar o C. auris. E só 15 elaboraram protocolos próprios para lidar com surtos. O resultado: atrasos na detecção, subnotificação e vulnerabilidade de pacientes.
A ausência de políticas de saúde coordenadas levanta uma questão inquietante: quantas vidas ainda precisarão ser ameaçadas até que governos assumam a gravidade do problema?
Lições de um inimigo global
O avanço do C. auris ecoa as lições recentes da pandemia de COVID-19. Uma ameaça invisível, quando ignorada, ganha velocidade e força. No caso do fungo, especialistas afirmam que há uma janela decisiva para impedir que a transmissão se torne incontrolável. Mas essa janela não permanecerá aberta por muito tempo.
“Apesar do aumento do número de casos, apenas uma parte dos países europeus está preparada para enfrentar surtos”, destacou o ECDC em relatório.
Refletindo
O que está em jogo não é apenas a contenção de um fungo hospitalar: é a capacidade das sociedades de responder a crises de saúde pública que já não respeitam fronteiras. Cada hospital europeu que falha no controle desse inimigo microscópico envia um alerta direto também para outras regiões do mundo, inclusive para o Brasil.
O C. auris nos lembra de que a saúde é uma responsabilidade coletiva. Quando a prevenção falha em um país, a ameaça se espalha a todos.
E a pergunta que ecoa é dura, mas inevitável: seremos capazes de aprender a tempo com este alerta, ou repetiremos o erro de subestimar um inimigo invisível até que seja tarde demais?
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