Gina Garcia canta Gal Costa e recebe Kell Smith em São Paulo
- Ranielson Cambuim
- há 3 dias
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Atualizado: há 3 dias
EXCLUSIVO

Na última sexta-feira (2), o Blue Note São Paulo foi palco de uma noite emocionante. A cantora paulistana Gina Garcia prestou uma vibrante homenagem à inesquecível Gal Costa (1945–2022), encantando o público com interpretações marcantes. O show contou com a participação especial de Kell Smith e, nos bastidores, Gina concedeu uma entrevista exclusiva à Revista Pàhnorama.
Revista Pàhnorama: Bom, primeiramente é uma honra estar aqui diante de você e fazer essa entrevista. Gina, por que Gal Costa?
Gina Garcia: Por que Gal Costa? Porque Gal Costa me compôs como cantora. Eu comecei a cantar em 87, profissionalmente. E antes disso eu ficava ouvindo todos os álbuns dela dos anos 80, que são os que eu amo, que estão justamente retratados aqui no meu repertório. Eu escolhi pra fazer, foi muito difícil. Escolhi porque eu tive que deixar muita coisa de fora, porque Gal gravou de A a Z, de todos os ritmos, vários compositores, né? Mas eu escolhi as coisas do meu coração pra ter essa memória afetiva de eu como fã ouvindo tudo aquilo que eu via de Gal, vendo os fãs da Gal também ouvirem as coisas que eu fiz, que eu acho que é nesse lugar que a gente vai chegar.
RP: Foi preciso ter alguma autorização, da família, de assessor, de empresário etc., para você conseguir fazer esse show?
GG: Não, na verdade, pra isso você não precisa. Você precisa de autorização quando você vai regravar a obra. Porque aí tem a editora, os compositores, né? Ela, na verdade, não era compositora. Ela não é compositora, ela é só intérprete como eu sou, né, quer dizer, eu componho, mas ela não compunha. Então você pede autorização para os compositores, entendeu? No caso de gravação. Aí isso você tem que pedir.
RP: Agora, qual a música preferida da Gina na voz de Gal Costa?
GG: Vou te falar, tem muitas, mas tem uma no meu espetáculo que eu até falo isso na hora. O subtítulo do meu espetáculo chama Gina Canta Gal, Sua Voz, Minha Vida. Porque a música que ela canta chama Minha Voz, Minha Vida, que o Caetano fez para ela. Então eu digo que é sua voz porque é a voz dela na minha vida, o tanto que ela me compôs como cantora, entendeu? Então eu fiz esse trocadilho com o nome da música para poder simbolizar.
RP: Uma participação com a sua filha era cantar com você Gal ou só você?
GG: Não, hoje não vai rolar porque Gloria está lá em Petrópolis hoje fazendo show e amanhã tem Pauline em outra cidade, mas eu terei Kell Smith cantando comigo e Marcelo Mariano também que vai fazer uma grande participação tocando.
RP: Projeto para cantar outras, ícones da nossa música?
GG: Meu Deus, existe um monte, eu quero cantar várias, ícones, vários cantores e cantores, outros compositores que eu amo, Ivan Lins, Milton Nascimento, Gonzaguinha, tanta gente, a Nana que acabou de ir, por exemplo, que faleceu hoje, ontem, tem muita gente que ainda quer interpretar. Então acho que num futuro eu ainda vou fazer muita coisa nesse estilo, Gina canta alguma coisa.
RP: E qual o significado da perda da Nana?
GG: A Nana é um ícone da música brasileira, vindo da família que ela vem, Dori Caymmi, Danilo, todos os irmãos, a família é muito musical, a mãe dela é uma grande cantora também, enfim, mas ela, pra música brasileira, acho que representa demais e a gente tá perdendo os nossos ícones, né? É essa a sensação que eu tenho. Que dá pra gente de, meu Deus, tá ficando cada vez menor, sabe? Cercado assim dos valores que a gente tem, tanto compositores quanto intérpretes. Então, dói, sempre dói pra gente, né, isso.
RP: Precisamos de uma nova geração, que surja, para quem sabe um dia ser páreo para esses grandes monstros, digamos assim?
GG: Assim, a gente espera, né, já temos bastante gente no cenário chegando, mas que apareça cada vez mais, por que daqui a 20 anos nós vamos falar de quem? De quem que nós vamos falar? Ah, fulano. Lembra, fez essa composição lá em 2024, entende? Então que a gente tenha essas pessoas, esses compositores, esses artistas pra poder tá fazendo essa história que eles já fizeram há 30, 40, 50 anos atrás.
A noite foi mais do que um tributo — foi um reencontro com memórias afetivas, referências musicais e o legado de uma das maiores vozes do Brasil. Em cada canção escolhida por Gina Garcia, havia a alma de uma fã que foi moldada pela arte de Gal Costa. Com sensibilidade, ela compartilhou não só interpretações potentes, mas também um testemunho pessoal sobre a influência de Gal em sua trajetória.
A ausência da filha, Glória Groove, no palco, não apagou o brilho da apresentação, que contou com convidados como Kell Smith e Marcelo Mariano, ampliando o calor da homenagem. E quando questionada sobre o futuro, Gina não titubeou: quer continuar celebrando ícones da nossa música, como Ivan Lins, Milton Nascimento, Gonzaguinha e tantos outros.
Diante da perda de figuras como Nana Caymmi, Gina também refletiu sobre a urgência de uma nova geração capaz de sustentar o peso da nossa história musical. “Daqui a 20 anos, de quem vamos falar?”, questionou com lucidez. Sua esperança, no entanto, é clara: que novas vozes floresçam, compondo o futuro com a mesma intensidade dos que vieram antes.
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