Intolerância religiosa: um retrocesso na luta por uma sociedade mais justa e plural
- Syrinx Sycorax Hekatina
- há 6 dias
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A humanidade passou por várias conquistas importantes em diversas áreas. Tivemos a revolução cultural e musical, expansão populacional idosa, corrida espacial, queda do muro de Berlim e muito mais. Entretanto, gostaria de destacar o surgimento do movimento New Age na década dos anos 60.
A palavra New Age em português significa NOVA ERA, e foi um movimento revolucionário cultural e espiritual. O movimento New Age tinha por característica a busca por novas formas de espiritualidade, autoconhecimento e bem-estar fora das estruturas religiosas tradicionais, ou seja, uma espiritualidade alternativa.
No ano de 1950 foi extinta na Inglaterra, a última lei que condenava como crime a prática da bruxaria. Permitindo que as pessoas voltassem a falar abertamente sobre as suas práticas religiosas.
O britânico Gerald Gardner, que era funcionário público, antropólogo e escritor, fundou religião WICCA no ano de 1954. A Wicca, é uma religião neopagã com crenças e práticas pagãs da Europa anteriores ao aparecimento do Cristianismo. Politeísta, a religião possui como centro do seus culto a Deusa Mãe, Deusa cultuada nos períodos Paleolítico e Neolítico.

A religião neopagã teve muitos iniciados, entre eles, Raymond Buckland, que era Doutor em Antrolopogia. Buckland, teve como missão transmitir a Wicca nos Estados Unidos da América.
Já na década dos anos 1960, Buckland encontra um Estados Unidos com muitos movimentos sociais, chamados de contracultura. Nesta agitação tinha hippies (reivindicando a paz), feministas (reivindicando igualdade social), Panteras Negras (lutando contra o racismo e reivindicando igualdade social) e a até então comunidade LGBT (reivindicando direitos de igualdade).
E nesse campo fértil, a Wicca é rapidamente aderida por esses grupos de pessoas que se sentiam excluídas e marginalizadas pelas religiões tradicionais. Esses novos adeptos e ativistas, criaram as suas próprias vertentes que tinham como principais objetivos a liberdade de expressar a sua espiritualidade, cultuar a Grande Deusa, conscientizar a população sobre as preocupações com o meio ambiente e o ativismo político em busca de igualdade social.
Zsuzsanna Budapest e Starhawk são duas figuras fundamentais para o renascimento do neopaganismo e sua interseção com o ativismo político. Budapest, fundadora da Tradição Diânica, foi pioneira em vincular a espiritualidade feminina à resistência política, criando um caminho para a Bruxaria como ferramenta de empoderamento das mulheres. Sua obra The Holy Book of Women’s Mysteries não só resgatou práticas pagãs esquecidas, mas também as transformou em um ato de rebeldia contra estruturas patriarcais e religiosas opressoras.
Starhawk, por sua vez, expandiu esse legado ao integrar a Bruxaria Reclaiming com o ativismo ecológico, antimilitarista e de justiça social. Seu livro The Spiral Dance tornou-se um clássico, mostrando como rituais e magia podem ser usados para transformação coletiva, inspirando gerações de bruxas a lutar por causas como direitos LGBTQ+, ambientalismo e protestos antiguerra. Ambas demonstram que a Bruxaria não é apenas uma prática espiritual, mas também um ato político de resistência e reconstrução de um mundo mais justo e conectado com o sagrado feminino e a Terra.

No Brasil, tivemos como representantes dessa espiritualidade alternativa o cantor e compositor Raul Seixas e o escritor e compositor Paulo Coelho, que juntos compuseram músicas abordando o místico, mas também letras que criticavam o Estado e as desigualdade social.
Pouco mais de 60 anos se passaram e parece que a sociedade regrediu em passos largos, se antes falava-se em liberdade espiritual, atualmente os governos de extrema direita possuem discursos ácidos contra grupos religiosos não cristãos. Alimentando a intolerância religiosa.
Infelizmente no ano de 2024*, no Brasil 1.423 casos de intolerância religiosa foram registrados, e 60,5% deles era contra lideranças religiosas femininas. A sociedade tem demonstrado uma preocupante regressão no que diz respeito à tolerância religiosa. O crescimento do fundamentalismo, aliado a discursos de ódio e polarização, tem alimentado conflitos e discriminação contra grupos religiosos minoritários. Ao invés de celebrar a diversidade espiritual como um direito humano fundamental, muitas pessoas passaram a enxergar a fé alheia como uma ameaça, resultando em violência, perseguição e marginalização. Essa intolerância crescente não só fere os princípios básicos de convivência pacífica, mas também revela um retrocesso na luta por uma sociedade mais justa e plural.
*Dados do Ministério dos Direitos Humanos 2024

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