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JOGO DO TIGRINHO: QUEM É VOCÊ QUANDO NINGUÉM ESTÁ TE OLHANDO?

  • Foto do escritor: Érica Corrêa
    Érica Corrêa
  • há 6 horas
  • 5 min de leitura

A TENTAÇÃO DOS ANÚNCIOS DE JOGOS DO TIGRINHO E OUTRAS BETS


Reprodução do desenho do Jogo do Tigrinho Fortune Tiger: um Tigre feliz com óculos escuros na cabeça, jaqueta de mangas curtas vermelha, segurando três cartas vermelhas com símbolos dourados, em um fundo vermelho com moedas e as palavras Fortune Tiger em dourado
Reprodução do desenho do Jogo do Tigrinho Fortune Tiger

Jogos de azar são bem mais que uma brincadeira e podem ser catastróficos para os jogadores. A dependência em si está ligada a diversas combinações, como ao perfil do jogador: hereditariedade, elementos viciantes do ambiente e estratégias usadas no jogo para encantar e atrair os participantes. Os jogos parecem fazer parte da essência humana visto que fizeram parte de inúmeras civilizações. A aludopatia (Transtorno da obsessão pelo jogo) já reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma categoria de danos à saúde mental caracterizada pela impossibilidade de resistir ao impulso de jogar, mesmo diante de consequências negativas para a vida pessoal e familiar do indivíduo.


A atuação das bets no Brasil foi autorizada por lei federal, aprovada em 2018. A nova legislação regulamentou o setor de apostas online e promoveu alterações nas Leis 5.768/71 e 13.756/18. Levantamento realizado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostrou que entre junho de 2023 e junho de 2024, os brasileiros gastaram R$ 68 bilhões em apostas nas bets.  De acordo com o Google Trends, o interesse partiu de zero em abril de 2023 para alcançar o pico de cem pontos possíveis em dezembro do mesmo ano, mantendo-se acima dos 50 pontos desde então. Em Junho de 2024, o Banco Santander publicou um relatório onde revela que as bets (aposta em um jogo de azar) passaram de 0,8% da renda familiar em 2018 para um índice de 1,9% a 2,7% em 2024.


Mais importante, jogos de azar são considerados pelos especialistas de saúde coletiva uma ameaça ao bem-estar de jovens e adultos. Um exemplo de Jogos de azar é o “tigrinho" e outras bets realizada na internet e já considerado uma questão de saúde pública no Brasil. A navegação pela Internet tornou-se uma espécie de diversão, principalmente para as novas gerações que cresceram com o espaço virtual como parte de suas vidas. Os jogos de azar não apenas um passo tempo, visto que o jogo pode levar a dependência emocional e preocupa a pais, educadores e aos especialistas em saúde mental. O Jogo do Tigrinho tem um funcionamento viciante e perigoso, facilmente encontrado na Interne; e à ausência de regulamentações específicas para esses jogos facilitam o surgimento de comportamento de risco.


É visível a atuação de mecanismos de dependência observados no Jogo do Tigrinho, existe uma lógica perversa de reforço constante a continuação do jogo , ou seja, recompensas variáveis e imprevisíveis que mantêm o jogador engajado por longos períodos Agravando a situação influenciadores digitais sem escrúpulos, indiferentes ao sofrimento do vício em jogos de azar; indicam o Tigrinho como investimento barato e seguro. Infelizmente muitas pessoas entram em jogos de azar pela primeira vez por recomendação de influencies que seguem. Os Influencers alegam que as pessoas são livres para entrar ou não. Não consigo ver liberdade num espaço capitalista onde a consciência é adormecida, com mecanismos constantes de manutenção da ilusão. O Jogo desde o início já informa o valor que o jogador ganhará, valores bem atrativos que mantém o jogador ligado ao jogo por um tempo significativo do seu dia. A dependência de jogos de azar atinge principalmente jovens (entre 18 e 35 anos) e pessoas de baixa renda, seduzidos pela ilusão de lucros fáceis. Uma vez instalado o vício na psique agem como drogas levando os dependentes a enfrentarem sérias dificuldades emocionais e financeiras.


O jogo do Tigrinho como qualquer outro jogo de azar pode levar famílias inteiras perderem a noção do real a se endividarem seriamente. As cores vibrantes, personagens caricaturados e sons atraentes diminuem no jogador a sensação de risco. Tornando o Jogo do Tigrinho um caça-níquel digital. No Whatsapp, o número do usuário pode ser adicionado em um grupo para divulgar o jogo, sem qualquer permissão deste; aumentando a possibilidade de assédio e destruição do jogador. Muitas cidades como Atlantic City, Las Vegas, Punta Del Leste, são retratadas pela mídia como lugares caros, sofisticados, aumentando no jogador a sensação do jogador de estar ligado a esses espaços. Uma construção de um espaço longe da sua vida rotineira e muitas vezes sem expectativas. Um espaço localizado entre a vida real e um espaço virtual onde os sentidos, a lógica, e a consciência do jogador estão alterados.


Os vícios afetam as relações familiares e sociais, assujeitando o indivíduo, esse adere sem perceber os valores e funcionamento do jogo, tornando a ilusão real. Sua vida é mediada por conflitos permanentes, desconfiança, violência doméstica, causando sofrimento emocional e família e aos amigos. Como qualquer outra dependência, o vício abala a saúde mental dos viciados, se deteriora rapidamente, em sintomas como ansiedade: depressão, insônia e pensamentos suicidas à medida que as perdas se avolumam. O pensamento fixo no jogo e a aposta compulsiva provoca exclusão social, aumentado seu isolamento e dependência do jogo, à medida que o dependente se isola, perde oportunidades sociais e profissionais e se afasta da família e dos amigos. Para manter a rotina do jogo, várias pessoas adotam comportamentos prejudicais, como fazer empréstimos altos, vender itens essenciais ou se envolver em atividades ilícitas para sustentar o vício. Em viciados com o transtornos bipolar eleva as consequências do vício, levando pessoas a armadilhas como aumentar o número de apostas e se afundar ainda mais em comportamentos predatórios. No ciclo do otimismo tóxico, apostam o dinheiro que dispõem, tendo certeza que aquela aposta vai mudar sua situação financeira, em outro ciclo entram em profundo desespero ao tomarem consciência que o prejuízo material está ainda maior.


O Sistema Único de Saúde (SUS) tem experimentado um aumento na demanda por serviços de apoio psicológico e psiquiátrico para as vítimas de jogos de azar - enquanto a oferta ainda é insuficiente para lidar com a magnitude do problema. A produtividade nacional é negativamente afetada pelo absenteísmo, desemprego e incapacitação dos afetados. Organizações de saúde enfatizam a necessidade urgente de regulamentações mais rigorosas, campanhas educativas e a expansão de centros especializados para tratamento da dependência em jogos de azar.


Recentemente entraram em contato comigo para que eu divulgasse em meu perfil literário uma plataforma de jogos online. Era um valor tentador, R$ 1000 a R$ 8000 por dia. Resolveria muito dos meus problemas financeiros. No entanto, seria contribuir com uma situação doentia que arrasa tantos indivíduos e famílias!

Fiquei tentada, confesso. É um dinheiro que resolveria boa parte dos meus problemas, no entanto ajudaria na destruição de muitas vidas.


Recusei.


Quando comentei sobre essa proposta em um grupo das redes sociais, me foi contada a história de uma influencer que aceitou a proposta de uma empresa estrangeira, bloqueou eles e falou que no próximo storys publicaria o link e que não era para ninguém entrar e apostar. Desbloqueou, divulgou e o dinheiro caiu na conta dela e pagou as contas e então bloqueou a empresa.


Uma boa estratégia, mas nem me passou pela cabeça. Não tenho o “tchãn” dos negócios escusos, mais que ter lucro, nossa ética ao escrever deve ser uma estética de respeito ao coletivo e a sua saúde mental.


Prefiro dormir com a consciência leve, sabendo que minha palavra não foi instrumento de dor alheia. Quero que cada conquista seja motivo de orgulho genuíno, não de vergonha disfarçada e secreta (ou não tão secreta, nesse caso). Minha voz tem valor exatamente porque é livre de compromissos que traem meus princípios. E isso, nenhuma quantia ou tentação poderá comprar, ou corromper.

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