Entre cremes e bases: o preço de quebrar o estereótipo masculino
- Yuri Barretto
- 12 de out.
- 2 min de leitura

Nos últimos anos, a indústria da beleza tem testemunhado uma transformação silenciosa, mas significativa: homens estão cada vez mais interessados em maquiagem, skincare e produtos de cuidado corporal. Mas enquanto o mercado celebra essa expansão, a sociedade ainda luta para lidar com o preconceito que envolve esses hábitos.
Quebra de padrões ou ameaça à masculinidade?
Historicamente, a masculinidade foi construída sobre pilares rígidos: força física, resistência emocional e uma certa indiferença à aparência. Demonstrar cuidado com a pele, usar maquiagem ou investir em produtos estéticos sempre foi interpretado como uma ameaça a esse padrão. “Quando um homem começa a se cuidar mais, algumas pessoas encaram como se ele estivesse diminuindo a própria masculinidade”, explica o psicólogo e especialista em gênero Lucas Almeida.
Essa reação, segundo especialistas, não é apenas sobre vaidade, mas sobre insegurança cultural. O olhar crítico não reflete a necessidade do indivíduo, mas a sensação de que alguém está “quebrando regras” da masculinidade tradicional.
Novas vertentes da masculinidade
Mas o cenário está mudando. A masculinidade contemporânea não é mais uma máscara rígida; ela se tornou plural e fluida. Hoje, vulnerabilidade, sensibilidade e autocuidado são cada vez mais reconhecidos como parte da performance masculina. Celebridades, influenciadores e marcas têm ajudado a desconstruir o mito de que maquiagem ou skincare diminuem a virilidade de um homem.
O influenciador digital Rafael Torres, 28 anos, é um exemplo. Ele compartilha rotinas de cuidados com a pele e tutoriais de maquiagem em suas redes sociais. “No início, eu sofria comentários maldosos, mas percebi que cuidar de mim não muda quem eu sou. Pelo contrário, me sinto mais confiante”, conta.
Preconceito ainda existe, mas resistência diminui

O preconceito persiste, especialmente entre gerações mais velhas ou em ambientes mais conservadores. Mas a visibilidade de homens que assumem esses hábitos, combinada com campanhas de marcas de beleza, tem provocado uma mudança de percepção. Cada gesto de autocuidado público desafia a ideia de que masculinidade é uma performance única, obrigatória e inalterável.
Mais do que estética: liberdade e autenticidade
Reprodução: /Foto/Instagram/@brunogomesph/@felipesadrak/@lucasrochaofficial
No fim, o debate não se resume a maquiagem ou creme facial. Trata-se de liberdade e autenticidade. Permitir que homens se cuidem sem julgamento é um passo para desconstruir padrões tóxicos, valorizando a diversidade de expressões da masculinidade. Hoje, ser homem não precisa mais ser sinônimo de dureza ou indiferença à própria imagem — pode ser sinônimo de cuidado, confiança e coragem para ser quem realmente se é.
Yuri Barretto
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