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Irregularidades nas obras do Hospital Regional da Mulher de Três Rios expõem má gestão de recursos públicos

  • Foto do escritor: Ana Soáres
    Ana Soáres
  • 26 de set.
  • 3 min de leitura

Reprodução
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Um hospital que nunca passou das fundações. Um contrato que se arrasta há mais de dois anos. Milhões em repasses públicos que evaporam em aditivos, reajustes e prorrogações sem explicação convincente. Assim se desenha o caso do Hospital Regional da Mulher de Três Rios, uma obra que deveria ser um marco para a saúde materno-infantil na região, mas que hoje simboliza a face mais cruel da má gestão: a promessa não cumprida diante de uma população desassistida.


R$ 12 milhões que não viraram hospital


Documentos oficiais mostram que, em julho de 2022, o governo estadual repassou quase R$ 12 milhões para a construção do hospital (Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro). No entanto, em pleno setembro de 2025, a obra segue restrita às fundações. Não há paredes erguidas, não há alas hospitalares, não há equipamentos instalados. Há apenas concreto abandonado, contrastando com a urgência das mães que continuam a se deslocar para municípios vizinhos em busca de atendimento.


O contrato que nunca entrega


O Contrato nº 018/2023, firmado com a empresa MPE Engenharia e Serviços S/A, foi publicado em 29 de março de 2023 no Boletim Oficial de Três Rios. Desde então, vieram sucessivos aditivos:


de novembro de 2023: alteração no valor do contrato (BIO nº 1985).


6 de março de 2025: prorrogação da vigência por mais 12 meses (BIO nº 2163, publicado em 12 de maio).


A análise financeira revela que, dos valores recebidos, apenas R$ 2,7 milhões foram efetivamente pagos à empresa. Restam R$ 9,2 milhões sem aplicação comprovada. Como se não bastasse, em 2023 houve um reajuste de 15,69% (R$ 3,1 milhões) sem justificativa técnica clara.


A escolha de uma empresa inidônea


A escolha da MPE Engenharia para conduzir um projeto de quase R$ 20 milhões levanta outra questão grave: a empresa já havia sido declarada inidônea pelo Tribunal de Contas da União em 2020, por fraude em licitações (Acórdão 1246/2020 do TCU). Como uma companhia com esse histórico conseguiu novo contrato público em Três Rios? A resposta, até aqui, permanece sem clareza — e expõe falhas no controle de integridade das contratações.


Mulheres à espera, vidas em risco


Enquanto os números se perdem em aditivos e planilhas, a vida real cobra seu preço. O Hospital Regional da Mulher foi anunciado como referência em gestação de alto risco e atendimento neonatal. Na prática, mães e recém-nascidos continuam dependendo de uma rede já sobrecarregada. Cada atraso é uma sentença silenciosa contra mulheres que deveriam ser acolhidas em um espaço pensado para elas.


Uma ferida aberta na saúde pública


O caso de Três Rios não é isolado. Dados do Tribunal de Contas da União e de órgãos de controle estaduais apontam que mais de 40% das grandes obras públicas no Brasil sofrem paralisações por problemas de execução, má gestão ou indícios de corrupção. O resultado é sempre o mesmo: dinheiro público que não se traduz em direitos básicos garantidos.


“O hospital está parado, mas a necessidade não espera. As grávidas continuam chegando, os bebês continuam nascendo, e nós seguimos improvisando”, desabafa uma enfermeira da rede municipal que pediu anonimato.

Reflexão necessária


Se a pedra fundamental de um hospital não se transforma em paredes, leitos e atendimento, é porque a fundação da gestão pública também está rachada. O caso do Hospital Regional da Mulher de Três Rios não é apenas uma denúncia local: é um espelho de como recursos públicos são desviados daquilo que deveria ser prioridade absoluta — a vida.


E diante dessa realidade, fica a pergunta incômoda: até quando aceitaremos que a maternidade e a infância sejam reféns da negligência política?

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