Por Manu Cárvalho
A aguardada releitura de Nosferatu, dirigida por Robert Eggers, estreia em janeiro de 2025 e promete não apenas homenagear o clássico de 1922, mas também redefinir os padrões visuais do gênero horror. Além da direção de Eggers, conhecida por seu rigor histórico e estético, um dos elementos mais marcantes da produção é o trabalho da figurinista Linda Muir, responsável por trazer autenticidade e simbolismo aos trajes dos personagens.
A importância dos figurinos na narrativa
Linda Muir, colaboradora frequente de Eggers, dedicou-se a uma pesquisa detalhada sobre o século XIX para criar figurinos que fossem fiéis à época e, ao mesmo tempo, carregassem significados que complementassem a narrativa. Segundo a figurinista, cada peça de roupa não apenas reflete a moda do período, mas também se conecta à psique dos personagens, intensificando a atmosfera sombria do filme.
"O figurino em um filme como este não é apenas um adorno, é uma extensão do personagem", explicou Muir em entrevista recente. "Ele ajuda o público a sentir o que o personagem está vivendo e a mergulhar no ambiente em que a história se passa."
O estilo de Ellen Hutter e sua conexão sobrenatural
Um dos figurinos mais comentados do filme é o de Ellen Hutter, interpretada por Lily-Rose Depp. Em uma cena inicial, a personagem aparece em uma camisola branca etérea, escolhida para destacar sua pureza e vulnerabilidade, além de sugerir uma ligação sobrenatural com o Conde Orlok.
A peça, confeccionada com tecidos translúcidos, foi projetada para interagir com a iluminação cuidadosamente planejada, criando um efeito visual de movimento fluido e quase onírico. "Queríamos que a camisola dela tivesse um toque teatral, mas que ainda parecesse real dentro do contexto histórico", detalhou Muir.
Conde Orlok: o horror na elegância
Para o Conde Orlok, vivido por Bill Skarsgård, os figurinos mesclam elementos da nobreza transilvana do século XVI com toques de decadência. A figurinista utilizou tecidos luxuosos e detalhes elaborados para transmitir a dualidade do personagem: uma figura aristocrática envolta em monstruosidade.
"Queríamos que ele tivesse uma aparência imponente, mas que houvesse algo inquietante em sua elegância", explicou Eggers. "Os trajes de Orlok refletem sua longa existência e sua desconexão com o mundo humano."
Camadas de realismo e profundidade
Além de reforçar os aspectos psicológicos dos personagens principais, os figurinos também desempenham um papel essencial na ambientação do filme. Muir desenhou roupas que retratam fielmente as diferentes classes sociais da época, desde os trajes simples dos camponeses até as vestes opulentas da aristocracia. Essa atenção aos detalhes ajuda a criar um mundo coeso e imersivo.
"Os figurinos servem para transportar o público ao universo do filme", destacou Muir. "Eles contam uma história silenciosa sobre os personagens e o contexto em que vivem."
Figurino como ferramenta de horror
A colaboração de Linda Muir com Robert Eggers, consolidada em projetos anteriores como A Bruxa e O Farol, é evidente na harmonia entre figurino, fotografia e direção de arte. Os trajes interagem com a paleta de cores e a iluminação do filme para criar um impacto visual que intensifica o suspense e o terror.
"Em um filme de horror, cada detalhe importa", afirmou Eggers. "O figurino é tão importante quanto o cenário ou os efeitos sonoros para criar a atmosfera certa."
Homenagem ao clássico
Ao mesmo tempo em que apresenta uma nova visão, esta versão de Nosferatu presta homenagem ao clássico de 1922. Os figurinos, assim como outros elementos visuais, respeitam a estética original enquanto incorporam técnicas modernas para enriquecer a experiência do espectador.
O trabalho de Linda Muir exemplifica como o figurino pode ser uma ferramenta poderosa para amplificar a narrativa, especialmente em um gênero como o horror, onde a imersão do público é essencial. Para fãs do cinema clássico e do terror contemporâneo, Nosferatu promete ser uma obra que combina tradição e inovação com maestria.
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