Povos Indígenas querem voz igual à de chefes de Estado na COP30
- Âmbar Chalub Rani
- 9 de abr.
- 3 min de leitura
ATL 2025 reúne milhares em Brasília e reforça pressão por protagonismo indígena na conferência do clima em Belém

Brasília está vivendo nesta semana uma das mais importantes mobilizações do ano no campo da política climática e dos direitos indígenas. A poucos meses da COP30 — a conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, que acontecerá em novembro, em Belém (PA) —, lideranças indígenas de várias regiões do Brasil e de outros continentes ocuparam a capital federal para fazer um pedido direto e contundente: ter voz e poder de decisão iguais aos chefes de Estado durante a cúpula do clima.
O apelo foi feito durante o Acampamento Terra Livre (ATL) 2025, que reúne milhares de indígenas até sexta-feira (11) em Brasília. A demanda, no entanto, vai muito além da participação simbólica: os povos originários querem a copresidência da COP30 e espaço direto nas mesas onde as decisões mais estratégicas serão tomadas — como aquelas que tratam do fim dos combustíveis fósseis, da transição energética e da proteção das florestas.
“Somos autoridades climáticas. Somos os verdadeiros defensores dos biomas que ainda resistem à destruição. Não queremos só ser ouvidos. Queremos decidir junto”, afirma Toya Manchineri, coordenador-geral da COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira).
Em documento assinado por representantes de povos originários da América Latina, África e Ásia, os indígenas exigem igualdade de legitimidade, poder de decisão e respeito. A declaração foi lida na abertura do ATL, na segunda-feira (7), e vem repercutindo entre ambientalistas, políticos e especialistas em justiça climática.
Marcha histórica pelas ruas de Brasília
Na terça-feira (8), mais de 6 mil indígenas marcharam até o Congresso Nacional, cantando em suas línguas, empunhando cartazes e exibindo uma réplica da Estátua da Justiça com cocar. A manifestação “APIB somos todos nós: nosso futuro não está à venda” chamou atenção do país e marcou o início da série de atos que ocorrerão até o fim do acampamento.
Após a marcha, os representantes participaram de uma sessão solene em homenagem aos 20 anos da APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), na Câmara dos Deputados. A ministra Sonia Guajajara reforçou a luta contra o marco temporal — tese já considerada inconstitucional pelo STF — e defendeu a proibição definitiva da mineração em terras indígenas.
Enquanto isso, Belém se prepara para sediar a COP30
A ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) declarou que o governo brasileiro está empenhado em garantir uma COP histórica. A expectativa é avançar em temas como financiamento climático, metas de redução de emissões e participação ativa da sociedade civil.
“Estamos atuando em todas as frentes, desde a negociação até a mobilização. É uma COP estratégica, e o Brasil tem responsabilidade no seu sucesso”, afirmou Marina em entrevista à CNN Brasil.
Para o físico Paulo Artaxo, membro do IPCC da ONU, a COP30 pode ser a “COP da virada”, com planos concretos para o fim dos combustíveis fósseis. “É hora de estruturar uma sociedade mais sustentável. Não dá para adiar”, disse ele em evento recente, citado pela CBN.
Uma luta que vem de longe — e precisa ser reconhecida
A presença indígena nas discussões sobre o clima não é apenas uma questão de justiça histórica. É uma necessidade urgente. Os dados mostram que as áreas protegidas por povos originários são as que mais resistem ao desmatamento. E mais: o conhecimento tradicional pode ser chave para combater incêndios, preservar espécies e garantir o equilíbrio dos ecossistemas.
A expectativa agora gira em torno da resposta da ONU e dos países-membros à reivindicação da copresidência indígena na COP30. Se concretizada, a medida poderá representar um novo capítulo na luta por uma governança climática mais inclusiva, justa e efetiva.
A COP30 não é só sobre o futuro do planeta. É sobre quem tem o direito de decidir esse futuro. E, como mostraram os milhares de indígenas reunidos em Brasília, essa resposta precisa incluir quem sempre esteve na linha de frente da proteção da natureza.
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