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Silver Marraz

Quanto valem ou é por quilo?

Atualizado: 15 de nov.

A escravatura humana atingiu o seu ponto culminante na nossa época sob a forma do trabalho livremente assalariado.


Por Silver Marraz


Erika Hilton - Créditos: Reprodução/Instagram: @hilton_erika

Certa vez, estava em sala de aula e um aluno parou a aula e me perguntou:

– Mestre, se a escravidão existisse ainda o senhor seria vendido por quanto, e eu?

Na hora, gelei. Respirei, pensei e analisei com calma.

– R$ 1400 mais ou menos.

– Que é isso, mestre?! Só isso? – questionou com surpresa.

– Então, os políticos em sua maioria e a elite precisam de mão de obra barata. Milhares de brasileiros já vivem o novo modelo de escravidão que têm de escolher entre exaustão e remuneração.

Vamos tomar as acaloradas discussões sobre o fim da escala de trabalho 6x1, ou seja, o sistema de seis dias consecutivos de trabalho seguidos por um dia de descanso. Se isso toca diretamente o seu direito de trabalhador e sua luta contra condições de trabalho exaustivas que, muitas vezes, beneficiam a elite econômica do país, você é declaradamente escravo.

É preciso entender que quando pessoas defendem o fim do regime 6x1 é em razão de que este regime de trabalho resulta em uma forma de “escravidão moderna”.  O trabalhador, para manter um salário básico, acaba submetido a uma jornada que prejudica sua saúde física e mental e compromete sua vida social e familiar. Por mais que haja argumentos contrários, a abolição desse modelo é um passo importante na proteção ao direito do trabalhador de não ser explorado, de ter um ambiente de trabalho digno e de viver com qualidade. Para a elite econômica, no entanto, a manutenção desse modelo pode parecer vantajosa, já que garante a produção constante e com menos necessidade de contratação adicional. Isso gera uma relação de subordinação onde o trabalhador fica preso a uma rotina intensa e com pouca margem de escolha.

Do ponto de vista do direito ao descanso e à dignidade, o fim do regime 6x1 seria uma vitória. Esse direito não é apenas uma questão de jornada; ele reflete a luta contra um modelo econômico que privilegia a produtividade a qualquer custo e ignora o bem-estar daqueles que estão na base da pirâmide econômica. Garantir mais folgas e diminuir a carga de trabalho semanal são medidas que, além de beneficiar o trabalhador individualmente, podem ter um impacto positivo na sociedade como um todo. Estudos indicam que condições de trabalho mais humanas aumentam a produtividade, reduzem o absenteísmo e melhoram o clima organizacional, mostrando que a saúde do trabalhador é um ativo importante para qualquer empresa.

O argumento de que um sistema de trabalho mais flexível é economicamente inviável muitas vezes desconsidera o efeito a longo prazo que a sobrecarga traz, tanto para a saúde pública quanto para a própria economia. Trabalhadores que vivem em condições de estresse constante e exaustão tendem a desenvolver problemas de saúde que os afastam do mercado e que custam caro para o sistema público. Ao mesmo tempo, esse modelo desestimula o desenvolvimento profissional, pois o cansaço limita as possibilidades de qualificação e crescimento.

O fim da escala 6x1 é, portanto, uma questão de respeito e de reconhecimento do valor humano dos trabalhadores, independentemente de seu nível social ou função. Uma sociedade mais justa passa pelo reconhecimento de que o trabalhador não deve ser explorado, mas sim valorizado, com uma carga de trabalho que permita equilíbrio entre sua vida profissional e pessoal. Isso é o mínimo que se espera em um país que pretende se desenvolver de maneira justa e igualitária, oferecendo condições para que todos possam crescer e viver dignamente.

A grande questão é que muitos políticos e a elite brasileira não quer a inexistência da abolição da escravatura, e querem incutir na cabeça dos brasileiros que ser lacaio de vampiro é ser seu melhor amigo. Em outras palavras, acabar com a escravidão é destruir a obra e os obreiros da escravidão.

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