Rosas para quem vai e para quem fica
- Marcelo Teixeira
- 22 de out.
- 3 min de leitura

Um amigo a quem chamarei de Roberto postou o seguinte texto nas redes sociais: “A minha cozinha está toda bagunçada. Já não sei mais onde guardo as coisas e me perdi pelo caminho. Fica difícil, com toda essa turbulência, reencontrar uma tampa para minha panela. A que eu tinha se perdeu há três anos e fica difícil poder cozinhar com uma panela sem tampa. Sem sal. E agora totalmente sem gás para continuar. Apenas vou sobrevivendo, sem fome de viver.”
Roberto está se referindo à perda de um grande amor. O companheiro dele se foi há três anos e, até hoje, Roberto ainda não conseguiu se reerguer. Era uma relação bonita e harmônica que transmitia uma felicidade vestida de tranquilidade e aconchego. Tudo, segundo meu amigo, se perdeu depois que o amor se foi para o outro lado da vida.
Ao ler o lamento de Roberto, fico pensando nas muitas pessoas que também perdem a tampa de suas panelas. Ou, se preferirem outra expressão, a metade da laranja, a alma gêmea etc.
Todos os dias, pessoas amadas se vão e pessoas amadas ficam. Muitas aceitam resignadas e seguem, resolutas, na certeza de um reencontro. Afinal, almas que se amam, mesmo depois da morte, não se perdem de vista. Cedo ou tarde, o reencontro se dará sob bênçãos e felicidade. O outro lado da vida existe, entre outras coisas, para enlaçar novamente os grandes amores.
E há também os que resolvem vestir permanentemente o luto e se portarem como eternos viúvos. Não é legal. A vida segue e precisa ser recomposta. Novos projetos, novas amizades, viagens e – por que não? – novos amores, que decerto não irão ocupar o espaço deixado por quem partiu, mas criarão novos espaços, que preencherão nossas vidas de surpreendentes formas.
O drama de Roberto me remete a uma estória que li há muitos anos num tabloide. À época, nem sonhava em ser jornalista. Era sobre uma jovem senhora chamada Belinha, que havia perdido, devido a um infarto repentino e fulminante, o marido, a quem amava profundamente e com quem se dava tão bem.
Inicialmente, Belinha mergulhou numa tristeza profunda. Vivia chorando pelos cantos da casa e até nas ruas, caso passasse por um local que ambos frequentavam. Até que, um dia, ela sonhou com o falecido esposo. No sonho, ele estava muito apreensivo e pediu para que ela se recompusesse, visto que, toda vez que ela chorava, ele chorava também. Ele, então, propôs a Belinha que, em vez de chorar quando se lembrasse dele, imaginasse uma rosa e a dedicasse à memória dele.
Quando ela acordou e sentiu vontade de, mais uma vez, chorar a ausência do marido, imaginou a rosa, e a vontade de chorar cessou. E assim ela foi fazendo. Passaram-se dias, semanas, meses e Belinha, aos poucos, foi se recompondo, recuperando a alegria de viver. E sempre que se recordava do marido, imaginava uma rosa e a dedicava a ele.
Até que novamente ela sonhou com o marido. Desta vez, ele estava muito feliz e levou Belinha para passear num jardim lindo repleto de rosas. Ele, então, lhe disse que toda vez que ela imaginava uma rosa em homenagem a ele, uma rosa era plantada por ele naquele jardim, que simbolizava o amor eterno que os unia. Por fim, arrematou: “Daqui a alguns meses, Belinha, você receberá um buquê de rosas. Junto com ele, virá um pedido que você deve aceitar”.
Quatro meses depois, conforme o antigo marido preconizara, Belinha recebia um buquê de rosas junto com um pedido de casamento de um antigo admirador. Casou-se novamente e a vida seguiu.
Espero sinceramente que os que procuram pela tampa da panela que se perdeu plantem rosas para poderem, mais adiante, receberem outras tantas rosas que sejam sinônimos de felicidade.
Marcelo Teixeira







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