Semana de Moda de Paris inaugura edição “histórica” com novos nomes e promessas de revolução
- Ana Soáres
- 29 de set.
- 3 min de leitura

Paris acorda nesta segunda-feira (29) com ares de ruptura. A Semana de Moda de Paris, ápice do calendário fashion internacional, abre sua temporada primavera-verão 2026 sob a promessa de ser uma edição histórica, marcada por mudanças profundas no comando de algumas das maiores maisons do mundo.
Depois de Nova York, Londres e Milão, agora é a vez da capital francesa receber mais de 100 grifes até o dia 7 de outubro, em um momento decisivo para um setor de luxo que enfrenta desafios econômicos e comerciais.
“Estamos começando um novo capítulo. Não é apenas sobre o que é uma ‘fashion week’, mas sobre o que a moda será nos próximos dez anos”, resume Pierre Groppo, editor-chefe de moda e lifestyle da Vanity Fair França.
O início: frescor e experimentação
A abertura ficou por conta do francês Victor Weinsanto e da belga Julie Kegels, que estreou no calendário oficial com uma coleção marcada por transparências, tecidos acetinados e brilhos suaves, em tons pastel. Blusas abertas, amarradas na cintura e ombros recortados desafiaram convenções. As meias criadas por Kegels, que deixam calcanhares expostos e se prendem nos dedos, viraram peça comentada entre críticos.
O cenário também trouxe inovação: as modelos desfilaram em uma estação de metrô de superfície em Paris, com a presença da cantora Rosalía, reforçando o casamento entre moda, música e comportamento urbano.
O peso da tradição sob novos olhares
Ainda no primeiro dia, a noite promete impacto com o desfile da Saint Laurent, que ocupa o Trocadero, em frente à Torre Eiffel — uma das passarelas mais icônicas da temporada. Já a L’Oréal Paris prepara um espetáculo democrático: um desfile aberto ao público, na praça da Prefeitura, estrelado por suas embaixadoras globais, como Eva Longoria, Jane Fonda e Viola Davis.
Mas os olhos da indústria se voltam, sobretudo, para duas estreias que movimentam conversas de bastidores:
Matthieu Blazy na Chanel (6 de outubro), após deixar a Bottega Veneta. Ele assume o posto de Virginie Viard, sucessora e braço direito de Karl Lagerfeld, e carrega a missão de redefinir os rumos da maison após quatro anos de transição.
Jonathan Anderson na Dior (1º de outubro), que após 11 anos revolucionando a Loewe, agora é chamado a rejuvenescer a maison francesa.
Enquanto isso, a Loewe será redesenhada pela dupla americana Jack McCollough e Lazaro Hernandez, fundadores da Proenza Schouler, que enfrentam o desafio de manter o brilho de uma marca que Anderson transformou em fenômeno global.
Entre artesanato e espetáculo
A história da Loewe, que nasceu em Madrid em 1846 e hoje integra o grupo francês LVMH, sempre combinou artesanato de couro com ousadia vanguardista. Sob Anderson, a marca se tornou ponto de encontro de estrelas do cinema como Timothée Chalamet, Pedro Almodóvar e Tilda Swinton. A dúvida agora é: será que o novo comando conseguirá sustentar esse magnetismo cultural?
Moda que atravessa a passarela
A Semana de Moda de Paris não é apenas um desfile de tendências — é um termômetro da economia criativa global. Ao mesmo tempo em que busca encantar com tecidos, cores e silhuetas, carrega o peso de redefinir o papel da moda em um mundo em crise climática, em transformação digital e em instabilidade social.
Como lembrou Claire Thomson-Jonville, diretora editorial da Vogue França:
“Podemos falar de uma fashion week histórica”.
A pergunta que ecoa, ao final do primeiro dia, é inevitável: será que esta Paris Fashion Week conseguirá traduzir os ventos de mudança em algo que vá além do luxo, tornando a moda uma lente crítica para pensar o nosso tempo?
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