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Semana Fashion Revolution: o que aconteceu no CCBB do Rio de Janeiro

  • Foto do escritor: Renata Freitas
    Renata Freitas
  • 13 de mai.
  • 4 min de leitura
Um movimento que deveria ser feito o ano inteiro

semana fashion revolution rio de janeiro
#nóssomosfashionrevolutionrio (reprodução/intagram @modaconscienterj

O movimento global Fashion Revolution foi elaborado a partir de uma tragédia por negligência que impactou a indústria têxtil. Uma questão de extrema urgência para essa indústria é o exercício do trabalho análogo à escravidão nas confecções de grandes marcas internacionais e populares. O evento emblemático, que marca essa história trágica e obscura da Moda contemporânea, foi o desabamento do edifício Rana Plaza, em Bangladesh, no dia 24 de abril de 2013, matando mais de 1.100 trabalhadores têxteis e deixando 2.500 feridos. Sede de muitas fábricas que prestavam serviços para marcas como Benetton, Primark, C&A, Zara e H&M. Prédio em que trabalhadores eram submetidos a rotinas exaustivas, insalubres, infraestrutura precária, recebendo centavos por cada peça de roupa produzida. Fundado em 2013 pelas duas ativistas britânicas Orsola de Castro, estilista e pioneira da moda sustentável, Carry Somers, fundadora da marca ética Pachacuti. Nasceu como uma campanha global para aumentar a transparência, ética e sustentabilidade na indústria da moda. A principal questão levantada é: "quem fez minhas roupas?", que incentiva os consumidores a questionarem as condições de trabalho e a cadeia de produção. Desde então, mais de 90 países aderiram ao movimento, a partir de organização de ações e campanhas anuais para conscientizar sobre os impactos sociais e ambientais da indústria da moda. Como objetivos centrais, temos a transparência na cadeia de produção, justiça e dignidade para trabalhadores do setor têxtil, consumo consciente e redução do descarte e mudança sistêmica na lógica de produção e consumo de moda.


Semana Fashion Revolution no CCBB RJ (arquivo pessoal)


A Semana Fashion Revolution acontece todos os anos em abril, durante a semana do aniversário do desastre de Rana Plaza. Durante essa semana, ocorrem debates, oficinas e desfiles de moda sustentável, campanhas nas redes sociais e pressão por legislações que responsabilizem grandes marcas. Há impactos, ainda que insuficientes, mas importantes para a indústria, em que mais de 10 mil marcas já responderam às campanhas com maior transparência; também incentivou a criação de leis e políticas de devida diligência, aqueles mecanismos para garantir que empresas sejam responsáveis pelos impactos negativos que causam, direta ou indiretamente, em pessoas e no planeta ao longo de toda a sua cadeia de produção; e fortaleceu marcas independentes e movimentos como slow fashion, upcycling e moda circular.


Semana Fashion Revolution no CCBB RJ (reprodução/instagram @modaconscienterj)


Todo ano um tema é escolhido para guiar todas essas ações e o tema desse ano foi: "Pense global, aja local: quem é o Brasil na Revolução da Moda?". Vários cidades do país participaram do movimento, mas contarei um pouco sobre o que aconteceu pela cidade do Rio. Organizado pela representante local da cidade, Camila Filardi, o evento principal foi no CCBB, um dos maiores centros culturais do Brasil. Além de contar com atividades no Museu da Favela, na faculdade de Designer de Moda da SENAI/Cetiqt e na Praça Nossa Senhora da Paz, em IIpanema. Hoje, concentrarei nas atividades propostas no CCBB, em que tive a imensa felicidade de participar também. Do dia 24 a 27 de abril, as atividades ocorreram durante todo o dia, entre palestras, rodas de conversa, oficinas, exposição de peças, cine debate com curtas de moda e desfile. Foi a primeira vez em que consegui participar desse movimento urgente, que tanto me interessa e ressoa com meus valores pessoais e profissionais. A programação foi composta por nomes importantes da moda carioca e ancestral e temas de extrema importância. Posso afirmar que se trata de um movimento necessário e efetivo, pois, nos dias em que consegui estar presente, tive contato com histórias reais de pessoas reais, que fazem o possível dentro de suas realidades para a produção consciente e consumo sustentável. Entendi, na prática, como é importante ver as experiências locais de sucesso como possibilidades e metas. Tive contato com ideias extraordinárias e saí com muitos questionamentos e pautas para textos e pesquisas. Temas essenciais como inovação tecnológica na indústrias pelo uso de cânhamo e outros materiais orgânicos e biodegradáveis, tingimento natural, o crescimento da moda circular e projetos com iniciativas de troca de produtos, como prolongamento da vida útil dos objetos, técnicas artesanais e ancestrais, semana de moda indígena, mães na moda, inclusão e acessibilidade, culturas marginais e ballroom, marcas de slowfashion e afroempreendedorismo.


Oficina de tingimento natural em Semana Fashion Revolution (reprodução/instagram @modaconscienterj)

Duas experiências, em especial, me marcaram profundamente. A participação em duas oficinas, oficina de tingimento ancestral, facilitada por Mandacaru Karajá, onde consegui produzir um standart de estampas em tintas extraídas de insumos orgânicos e que pretendo reproduzir, em roupas e paredes; e a oficina de macramê indígena, facilitada por Wangleys Wanaó, designer de moda, que compartilhou o processo de feitura de uma das peças de sua nova coleção, o muiraquitã, um amuleto tradicional em formato de sapo, inspirado no mito de fertilidade e proteção. Em um dia reservado para a exposição da perspectiva de povos originários na moda e a criação da primeira edição de pré-lançamento da Indígena Fashion Week, movimento nacional que reúne grandes nomes da moda indígena e que afirma, mais uma vez, a presença destes povos no presente e no futuro. Neste dia, entendi como o processo colonizatório apagou nossas memórias ancestrais destes povos milenares da América e nos impôs a ideia de que são povos que ficaram no passado, ultrapassados e que nós, brasileiros pós colonização somos o futuro civilizado destas culturas. Trazer esta ideia para a consciência e conceituá-la é chocante, porque temos, sim, em nosso imaginário a ideia dos livros do primário em que o "dia do índio" é celebrado de forma racista e folclórica de antepassados infantilizados e selvagens, exterminados pela evolução civilizacional das catequeses e violentos apagamentos de memória. A luta não é apenas política, é também cultural e simbólica, um resgate desses elos ancestrais relembrando que estes povos existem e resistem no presente, na cultura contemporânea, e que suas produções de culturais avançaram nestes 500 anos, apesar da violência sistêmica e cotidiana.

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