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Setembro Azul: o silêncio que pode custar perda auditiva

  • Foto do escritor: Da redação
    Da redação
  • 5 de set.
  • 3 min de leitura

O silêncio pode ser traiçoeiro. Ele se instala devagar, quase imperceptível, mas deixa rastros profundos no corpo, na mente e na vida de quem o carrega. Em setembro, o Setembro Azul, mês dedicado à visibilidade da saúde auditiva e da comunidade surda, ilumina uma realidade preocupante: a perda auditiva pode levar até sete anos para ser diagnosticada, e nesse intervalo, oportunidades, relações e saúde se perdem silenciosamente.

a perda auditiva pode levar até sete anos para ser diagnosticada
Divulgação

No Brasil, mais de 10,7 milhões de pessoas têm algum grau de deficiência auditiva, segundo dados do Instituto Locomotiva. A grande maioria sequer utiliza aparelhos auditivos, seja por custo, desinformação ou estigma social. O resultado é um país que convive com o silêncio sem perceber que ele tem preço.

O diagnóstico tardio e suas consequências

“Há um desconhecimento generalizado sobre os fatores que aceleram a perda auditiva”, explica a fonoaudióloga Christiane Nicodemo, especialista do Hospital Paulista. “Pessoas com diabetes, hipertensão, obesidade e até fumantes estão mais propensas a desenvolver alterações auditivas silenciosas. Mas muitos não fazem exames regulares, e quando percebem o problema, já se passaram anos.”

O efeito não é apenas físico. Estudos recentes mostram que a falta de estímulos auditivos aumenta o risco de declínio cognitivo e demência precoce, especialmente na terceira idade. A perda auditiva não tratada afeta a comunicação, o convívio social, o desempenho profissional e a autoestima, gerando uma cadeia de impactos invisíveis.

Audiometria: simples, barata e essencial

Apesar de simples, indolor e de baixo custo, a audiometria ainda é negligenciada. Dra. Christiane reforça:

“O exame avalia de forma detalhada a capacidade auditiva e permite identificar precocemente problemas, antes que se tornem irreversíveis. Detectar cedo significa intervir e preservar qualidade de vida.”

A otorrinolaringologista Bruna Assis, também do Hospital Paulista, lembra que o desafio é global. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2050, cerca de 900 milhões de pessoas terão perda auditiva.

“O impacto econômico da deficiência auditiva não tratada chega a quase US$ 1 trilhão por ano, entre produtividade perdida, isolamento social e cuidados médicos adicionais. É um problema invisível, mas de proporções gigantescas.”

O cenário brasileiro: números que chocam

No Brasil, os dados revelam uma realidade preocupante:

  • 87% dos brasileiros com deficiência auditiva não usam aparelhos auditivos;

  • 57% têm mais de 60 anos, evidenciando a relação com o envelhecimento;

  • Entre 2017 e 2020, o SUS realizou 26,7 milhões de procedimentos auditivos, mas apenas 8,4% frequentam serviços de reabilitação;

  • A presbiacusia, perda auditiva relacionada à idade, afeta de 36% a 64% dos idosos segundo o Conessp.

Esses números mostram que o Brasil convive com uma epidemia silenciosa, negligenciando prevenção, diagnóstico e tratamento, enquanto milhões de pessoas continuam isoladas do mundo sonoro ao seu redor.

Perda auditiva: prevenir é escutar

Para ambas as especialistas, a conscientização é a primeira medida de proteção.

“Recomendo que pessoas a partir dos 50 anos ou com fatores de risco realizem audiometrias anuais, mesmo sem sintomas aparentes”, alerta Dra. Bruna.

O cuidado auditivo não é apenas sobre ouvir melhor. É sobre manter conexões sociais, cognitivas e emocionais, sobre garantir autonomia e qualidade de vida. Cada exame feito a tempo é um passo contra o isolamento silencioso que a perda auditiva impõe.

Em tempo

O Setembro Azul nos lembra que a saúde auditiva é um direito, não um luxo, e que o silêncio, quando ignorado, tem custo real: emocional, social e econômico. Estamos preparados para escutar o corpo antes que ele se cale? Ou continuaremos a conviver com uma epidemia silenciosa, deixando que o tempo e a negligência definam destinos?

No fim, ouvir não é apenas um sentido: é uma escolha consciente de cuidado e presença na vida.

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