Skincare é político: a estética negra em pauta
- Caroline Lardoza
- 14 de jul.
- 2 min de leitura

A crescente variedade de produtos para peles negras não é só tendência de mercado, é um reflexo (e resultado) de lutas constantes por pertencimento, visibilidade e valorização estética dentro de uma cultura marcada pelo apagamento de peles negras, cultura afro-brasileira e dos traços negroides.
Ao analisarmos contextos socioculturais ao longo da história, é simples identificar que o cuidado com a pele foi vendido como vaidade, algo fútil, feminino, e por muitas vezes elitizado. Mas quando pensamos que quando uma mulher negra abre um frasco de hidratante e encontra um tom que respeita sua cor, ou um ácido que considera suas necessidades reais, não é só sobre beleza. É sobre existir com dignidade num corpo que por muito tempo foi marginalizado e em decádas de luta, consegue espaço para ser visto, interpretado e cuidado.

Com as redes sociais, vemos o debate ser ampliado e rostos serem colocados como destaques dessa representantividade nos tapetes globais de moda e fama. Mas trago aqui a urgência da valorização da estética negra que não pode acontecer só no tapete vermelho, mas precisa ser presente e acessível na farmácia da esquina do seu bairro.
Os produtos pensados para pele retinta, oleosa, com manchas(realidades comuns à pele negra brasileira) ainda não são tão expressivos e por muitas vezes, são caros.
Mas em uma crescente importante, destaco algumas marcas como Sallve, SkinSoul, Negra Rosa e B.URB estão mudando a narrativa.
Na análise da composição desses novos produtos de skincare, os ativos como niacinamida, vitamina C, ácidos clareadores e filtros solares invisíveis podem revelar uma revolução para quem cresceu ouvindo que não precisava cuidar da pele ou usar protetor pelo fato de ser negro.
No entanto, é importante sempre estar atento e crítico algumas questões que ainda surgem. Como estar ciente que o racismo estético não acaba porque há 3 tons a mais nas bases e que a pele negra ainda sofre com falta de representatividade nos testes clínicos, acesso elitizado aos tratamentos, medicalização e intevenções de traços naturais.
No mais, é de extrema importância perceber que quando essa pele historicamente foi invisibilizada, apagada, chamada de “difícil”, agora ganhas novas possibilidades de cuidado, essa atmosfera de produtos e skincare ganha contorno político. Porque revela nas entrelinhas a afirmação:
“eu existo, eu me valorizo, eu não vou mais aceitar o mínimo.”
Especialmente porque a pele carrega memórias, traços, ancestralidade. Ela é passagem do tempo, barreira, escudo, vitrine e identidade. Quando marcas finalmente desenvolvem produtos para corpos negros, não estão apenas ganhando clientes.
Estão, ou deveriam estar, reparando uma ausência histórica. A skincare negra é revolucionária quando acolhe, inclui e liberta.







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