Resistir também é vestir: Dendezeiro apresenta sua alfaiataria de rua
- Yuri Barretto
- há 15 minutos
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A marca baiana transforma o terno em manifesto e o moletom em símbolo de fé.
A força do vestir enquanto manifesto volta a pulsar na nova coleção da Dendezeiro. Sob o comando criativo de Hisan Silva e Pedro Batalha, a marca baiana — já reconhecida por traduzir identidade afro-brasileira em forma de moda — apresenta uma coleção que entrelaça streetwear, alfaiataria e resistência política de maneira poderosa e sensível.
O lançamento, que aconteceu em Salvador, foi mais do que um desfile: foi um ato de celebração e denúncia. “A moda precisa continuar sendo instrumento de voz e pertencimento. O que a gente faz é sobre ocupar, resistir e recontar nossa história”, disse Hisan, ao final da apresentação.
Entre o asfalto e o axé
As novas criações da Dendezeiro partem do encontro entre o urbano e o ancestral. Em um diálogo entre o concreto e o sagrado, a coleção traz referências às ruas de Salvador, ao candomblé, à cultura black e à força dos corpos negros que constroem o estilo brasileiro autêntico.
Cores como amarelo-dendê, vermelho-vivo, azul-marinho e marrom-terra aparecem em composições ousadas, que refletem a energia das ladeiras e do litoral baiano. Nos tecidos, a mistura também é resistência: linho, sarga, moletom premium e tricôs leves convivem lado a lado, provando que o conforto e a elegância não são opostos, mas aliados.
A nova alfaiataria
Reprodução: /Foto/Instagram/@prazerbatalha
Um dos grandes destaques da coleção é a releitura da alfaiataria. Paletós com recortes geométricos, calças amplas e coletes com zíper substituem o tradicional terno engessado por um visual livre, de caimento solto e gesto firme.
“Queríamos tirar a alfaiataria do pedestal branco e masculino, e trazê-la para o nosso corpo, com nossa medida, nosso ritmo e nossa cor”, explica Pedro Batalha.
Essa intenção se reflete nas silhuetas fluidas e nos detalhes feitos à mão — bordados, nervuras e botões de cerâmica produzidos por artesãos locais.
Do streetwear à espiritualidade
O streetwear da Dendezeiro não é uma tendência, é território. Moletons oversized, calças cargo e camisetas estampadas com frases de empoderamento dividem espaço com mantos e túnicas que evocam espiritualidade. O destaque vai para as estampas inspiradas nos orixás, que aparecem de forma sutil em desenhos abstratos e símbolos bordados.
As peças “Ogun veste Moletom” e “Exu Tailored” são dois dos hits da coleção: unem a força dos arquétipos afro-brasileiros à linguagem urbana contemporânea. Segundo os estilistas, o objetivo é que cada roupa conte uma história e convoque quem veste a se reconhecer no espelho.
Moda como resistência
Reprodução :/Foto/Instagram/@prazerbatalha
Mais do que uma coleção, o que a Dendezeiro propõe é uma conversa sobre poder, negritude e futuro. A marca reafirma sua vocação em criar uma moda que não se encaixa em moldes eurocentrados, mas que traduz as experiências de um Brasil plural.
“Resistir é vestir-se com consciência. É entender que o nosso corpo é território político e afetivo”, diz Hisan.
E é justamente nesse encontro entre estética e discurso que a Dendezeiro se mantém como uma das marcas mais relevantes da atualidade — não apenas no cenário nacional, mas em um diálogo crescente com a moda global.
Com essa coleção, a Dendezeiro reafirma que se vestir é um ato de fé, de afirmação e de futuro. Que a alfaiataria pode nascer do asfalto, que o streetwear pode ter axé — e que a resistência, costurada em cada tecido, continua sendo o verdadeiro luxo brasileiro.






























