pub-9353041770088088
top of page

SUSTENTABILIDADE NA MODA: Uma moda que não apenas veste o corpo, mas também nutre a alma e respeita o planeta



etiqueta com questões fundamentais para a industria da moda
Imagem: Reprodução/Instagram @fash_rev_brasil

Hoje, trago a macrotendência da sustentabilidade que está em vertiginosa crescente na indústria da Moda, por diferentes perspectivas. Tomarei a liberdade de relacionar com minha experiência como Designer de Moda em minha marca e, também, como entusiasta e consumidora de Moda. Comecemos pelo alarmante problema da poluição pela indústria da Moda. Estima-se que esta ocupa o terceiro lugar no ranking de principais indústrias poluentes do meio ambiente, responsável por 8 a 10% das emissões globais de carbono, em que 20% da poluição industrial da água vem do tingimento e tratamento têxtil e o poliéster sintético libera microplásticos nos oceanos. Ainda mais assustador, pelo apelo visual, são as montanhas de roupas novas descartadas no deserto do Atacama por erros nas modelagens e em outras etapas da confecção.


Imagem: Montanha de roupas descartadas no deserto do Atacama (reprodução/site BBC)


Outra questão de extrema urgência é o exercício do trabalho análogo à escravidão nas confecções de grandes marcas internacionais e populares. O evento emblemático, que marca essa história trágica e obscura da indústria da Moda, foi o desabamento do edifício Rana Plaza, em Bangladesh, no dia 24 de abril de 2013, matando mais de 1.100 trabalhadores têxteis e deixando 2.500 feridos. Sede de muitas fábricas que prestavam serviços para marcas como Benetton, Primark, C&A, Zara e H&M. Prédio em que trabalhadores eram submetidos a rotinas exaustivas, insalubres, infraestrutura precária, recebendo centavos por cada peça de roupa produzida.

Para quem não costura, afirmo que esse trabalho é mental e físico, de precisão, concentração e movimento, que exige técnica, equipamentos e estruturas funcionais e adequados e que pode ser exaustivo. É absurdo pensar nas condições de trabalho impostas nessa indústria e continuar consumindo Moda da mesma forma. A realidade está tão próxima e tão íntima, em nossos corpos e, mesmo assim, tão distante e desconhecida para nós.

Com base nestes dados, vemos grandes movimentos globais surgindo, como é o Fashion Revolution, criado a partir desse dia trágico e que sustenta a grande questão: "quem fez minhas roupas?", inaugurando um grande movimento global pela transparência da indústria da moda, pela justiça climática e social, através de iniciativas coletivas e individuais comunitárias, onde todo aquele que se interessa por sustentabilidade pode e deve unir-se às ações.

O movimento nos lembra que, quando falamos em sustentabilidade, também falamos sobre a dimensão social e antropológica, sobre os trabalhadores de base, que sustentam a sociedade, humanos que compõem o meio ambiente como o algodão, a água, o petróleo, as árvores, os animais e todos os recursos naturais predados violentamente visando o lucro por aqueles poucos que detém a riqueza e os meios de produção e comunicação. Constatada a situação insustentável, podemos observar esse movimento com foco na sustentabilidade em toda a cadeia produtiva. Na indústria, o investimento em novas tecnologias que possibilitam a criação de fibras têxteis de matérias sustentáveis, alternativas ao petróleo e até mesmo do algodão, onde o seu cultivo gasta grande quantidade de água e pesticidas, poluindo o solo e a água.

Surgem os tecidos tecnológicos de materiais reciclados, garrafa pet, cânhamo, cactos, fibra da banana, algodão e linho orgânicos, cupro, Tencel, bambu sustentável e até mesmo outros tecidos e roupas descartadas, como a técnica de desfibração de tecidos. Outro projeto de grande impacto que vale ressaltar é o Atacama RE-commerce, uma iniciativa inovadora que busca combater o desperdício têxtil e conscientizar sobre o impacto ambiental resgatando roupas descartadas no Deserto do Atacama, no Chile, e disponibilizando gratuitamente em uma plataforma online, onde os consumidores pagam apenas pelo frete. É crescente, também, as marcas autorais de produção slow fashion e enfoque na sustentabilidade de sua cadeia de produção, desde as matérias-primas escolhidas até a justa remuneração de seus colaboradores e ambiente de trabalho adequado, com valorização do trabalho artesanal e das mãos que os fazem.



É possível encarar a Moda por uma perspectiva de avanços positivos quando olhamos para estas e tantas outras iniciativas de consciência ambiental, apesar de todo horror causado pela indústria da Moda. A conscientização da população para novas formas de consumo é essencial e cabe a nós, trabalhadores, pesquisadores, intelectuais e disseminadores de cultura participarmos ativamente desse processo, afinal, é só através desse movimento coletivo de propagação que novas consciências e formas de viver surgem.

Tão essencial é entender que a mudança deve partir, principalmente do topo dessa cadeia produtiva. Nada mais sustentável que usar os tecidos e as roupas que já existem, através de reciclagem, upcycling, brechós e bazares, até a nossa cultura de roupas como herança. Um hábito de moda bem estabelecido, principalmente nas periferias, de doação, repasse e troca de roupas entre família, amigos e comunidade.

A preservação em seu guarda-roupa e a reutilização de peças pela customização, transformando-as em outra coisa, revisitando o passado pelos seus gostos e estilos naquela peça de 10 anos atrás, é preservar a sua memória e até a história familiar e comunitária. É, também, reforçar o senso de pertencimento tão presente na Moda, quando as centenas de tendências que surgem diariamente não importam para o seu vestir, o que importa é a história que aquela peça carrega, uma emoção mais duradoura e significativa, que pode unir gerações.

Podemos substituir o prazer imediato de comprar aquela blusinha barata de procedência duvidosa pela consciência de apoiar empreendimentos locais, pequenas marcas que prezam pela sustentabilidade em todo a sua cadeia de produção, desde a matéria-prima até os resíduos têxteis. Investir em sustentabilidade de forma ideal ainda é caro e possui muitos obstáculos, mas podemos começar pelas práticas diárias mudando a realidade no presente, no que nos é alcançável até transformarmos a consciência coletiva e que a preservação ambiental e social seja o senso comum.


Commentaires

Noté 0 étoile sur 5.
Pas encore de note

Ajouter une note
bottom of page
pub-9353041770088088