Tabagismo ainda ameaça a saúde pública: entre cigarros eletrônicos, ilusões de modernidade e a luta diária contra o vício
- Ana Soáres
- 29 de ago.
- 3 min de leitura
O ato de acender um cigarro, tragado por milhões de brasileiros todos os dias, continua sendo uma das práticas mais devastadoras para a saúde pública no país. O que antes era visto quase como um ritual social de status, hoje se desdobra como uma epidemia silenciosa, persistente e multifacetada.

Apesar dos avanços significativos das últimas décadas — campanhas de conscientização, leis antifumo e queda expressiva no número de fumantes —, o Brasil ainda convive com as marcas profundas do tabagismo. São doenças crônicas, mortes evitáveis e, mais recentemente, uma nova onda de dependência: a dos cigarros eletrônicos e vapes, embalados em marketing colorido, sabores doces e promessas enganosas de menor risco.
Tabagismo: Entre números e histórias humanas
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas por ano em todo o mundo. No Brasil, estima-se que mais de 160 mil mortes anuais estejam relacionadas ao fumo. Cada dado é, na verdade, um retrato de vidas interrompidas: pais, mães, jovens, profissionais que carregaram na fumaça a sentença de doenças respiratórias, cardiovasculares e cânceres agressivos.
“Quanto mais cedo o indivíduo começa a fumar, maiores são os riscos para a sua saúde a longo prazo. Isso resulta em doenças graves, sendo a principal causa de morte evitável em todo o mundo”, alerta Mariane Barbosa, professora de Enfermagem da Una Itumbiara.
O cigarro eletrônico: uma farsa bem embalada
O apelo dos cigarros eletrônicos e vapes é quase cinematográfico: design moderno, sabores que variam de baunilha a frutas tropicais, promessa de ser “menos nocivo” e até de ajudar na redução do cigarro tradicional. Mas a realidade é bem menos glamourosa.
“O vape não é uma alternativa segura ao cigarro tradicional e não é reconhecido como ferramenta para parar de fumar”, explica Barbosa.
Ao contrário, esses dispositivos carregam altas doses de nicotina, além de substâncias químicas prejudiciais ainda pouco estudadas, mas já associadas a quadros de doenças pulmonares graves em jovens usuários.
É, portanto, uma espécie de greenwashing da saúde: vende-se a imagem de modernidade, mas o produto continua sendo uma engrenagem de dependência e doença.
A química da dependência
O cigarro tradicional contém mais de 7 mil substâncias tóxicas. A curto prazo, causa irritação das vias aéreas, redução da capacidade respiratória e queda da imunidade. A longo prazo, a lista se amplia de forma cruel: bronquite crônica, enfisema, câncer de pulmão, boca, esôfago, além de doenças cardiovasculares e risco aumentado de AVC.

A dependência, entretanto, não é apenas física. É também emocional e social. A nicotina atua no cérebro liberando dopamina, o “hormônio do prazer”, criando um ciclo de recompensa que aprisiona o fumante e dificulta o abandono do hábito.
Caminhos de libertação
Apesar do peso da estatística, existem caminhos para a superação. Estratégias eficazes incluem:
Acompanhamento médico e uso de terapias de reposição de nicotina;
Grupos de apoio que oferecem escuta ativa, orientação e acolhimento;
Mudanças no estilo de vida, como exercícios físicos e alimentação equilibrada;
Rede de suporte familiar e social, essencial para enfrentar recaídas.
“A importância de um grupo de tabagismo reside na sua capacidade de proporcionar apoio mútuo, partilha de experiências e orientação profissional. Esse ambiente de suporte valida a vivência dos participantes e os capacita para um futuro sem fumo”, explica Barbosa.
Vivemos um tempo em que a indústria do tabaco e dos vapes insiste em reinventar velhas armadilhas em novas embalagens. Enquanto isso, sistemas públicos de saúde sobrecarregados arcam com custos bilionários em tratamentos, e famílias inteiras enfrentam a dor de doenças evitáveis.
Até quando vamos permitir que a ilusão de modernidade e a força de um vício tão devastador ditem o destino de milhões de brasileiros?
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