“Topa Tudo por Dinheiro” volta à TV no comando de Patricia Abravanel e reacende memórias de um Brasil que cabia dentro de um auditório
- Ranielson Cambuim

- 29 de ago.
- 3 min de leitura
Neste domingo, 31 de agosto, o público brasileiro será transportado de volta a uma das eras mais icônicas da televisão nacional. O “Topa Tudo por Dinheiro”, clássico apresentado entre 1991 e 2001 por Silvio Santos (1930–2024), vai estrear uma nova versão dentro do “Programa Silvio Santos”, agora sob o comando de sua filha Patricia Abravanel, em celebração aos 44 anos do SBT.

A promessa é simples, mas carregada de história: devolver ao palco as brincadeiras que marcaram gerações e transformar o auditório, mais uma vez, em termômetro da cultura popular brasileira.
A fórmula do riso e do risco
Quem viveu os domingos dos anos 1990 sabe: “Topa Tudo” não era só um programa de auditório, era um espelho divertido — e muitas vezes cruel — de um país que buscava leveza em meio às crises políticas e econômicas.
A cada edição, participantes se dispunham a topar desafios absurdos em troca de dinheiro. Era entretenimento direto, sem filtros, que misturava o riso fácil, a vergonha alheia e uma dose de improviso que só Silvio sabia orquestrar.
Agora, Patricia promete manter os quadros clássicos:
Esteira Puxa-Puxa
Xampu de Ovo
Sim ou Não
Jogo dos Dados
Jogo do Dominó

E claro, não poderiam faltar as Câmeras Escondidas — desta vez até nos camarins, já com uma pegadinha especial envolvendo casais na estreia.
O mito Silvio e a herança televisiva de Patricia Abravanel
O “Topa Tudo por Dinheiro” nasceu da fusão de dois formatos anteriores — “Topa Tudo” (1982) e “Tudo por Dinheiro” (1986–1989) — e se consolidou como o coração do Programa Silvio Santos nos anos 1990.
Foram dele os momentos antológicos que até hoje circulam no imaginário coletivo: a queda no tanque de água, o escorregão na esteira, os aviõezinhos de notas de 10, 50 e 100 reais lançados ao público com o bordão imortalizado:
“Quem quer dinheiro?”
Mais que humor, o programa revelava uma estética popular que dialogava com moças, rapazes, casais, crianças e artistas. Era a síntese de um Brasil que ria de si mesmo — ainda que, muitas vezes, risse também da humilhação do outro.
Da “Câmera Indiscreta” ao fenômeno das “Câmeras Escondidas”
Outro pilar da atração foi a reinvenção da pegadinha na TV. O quadro surgiu em 1980, como “Câmera Indiscreta”, mas ganhou força em 1986 no “Tudo por Dinheiro”, já com o nome “Câmeras Escondidas”.
Ivo Holanda se tornou o “rei das pegadinhas”, e figuras como Carlinhos Aguiar e Celso Portiolli tiveram espaço aberto a partir dali. Até hoje, os vídeos circulam nas redes sociais, resistindo ao tempo como um dos maiores legados do humor popular televisivo.
O desafio do retorno em 2025
O relançamento de “Topa Tudo por Dinheiro” em 2025 não será apenas um resgate nostálgico. Será também um teste: como esse formato, nascido em outra época, dialogará com uma sociedade mais conectada, crítica e consciente de pautas como humilhação pública, representatividade e ética do entretenimento?

Patricia Abravanel, que já reviveu outros clássicos como “Qual É a Música” e “Show do Milhão”, aposta no carisma e na força da memória afetiva para conquistar novas audiências sem perder o público fiel.
“O SBT tem uma história com a família brasileira. O ‘Topa Tudo’ é parte dessa história e vai voltar para emocionar, divertir e também celebrar o legado do meu pai”, declarou Patricia em nota oficial.
A televisão como espelho social
Rever o “Topa Tudo” é revisitar o Brasil dos anos 90 — com suas filas intermináveis, a plateia animada, o improviso das gincanas e a promessa do dinheiro fácil. É também se perguntar que tipo de espetáculo o público de hoje está disposto a consumir.
Numa era em que as redes sociais ditam tendências instantâneas e a audiência se fragmenta em múltiplas telas, trazer de volta um programa desse porte será mais do que um ato nostálgico: será um experimento cultural sobre memória, humor e identidade nacional.
Afinal, topamos o quê por dinheiro?
O retorno do “Topa Tudo por Dinheiro” talvez seja mais que entretenimento. Pode ser um convite para refletirmos sobre o quanto ainda estamos dispostos a transformar vulnerabilidades em espetáculo — e o quanto seguimos seduzidos pelo bordão que ecoa há mais de três décadas:
“Quem quer dinheiro?”







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