Tragédias Anunciadas: O Brasil Que Vive impactado por desastres ambientais
- Da redação
- 24 de mai.
- 3 min de leitura
Comemoramos a solidariedade, mas alertamos: um em cada quatro brasileiros já foi impactado por desastres ambientais. E agora, o que vamos fazer com esse dado que grita por mudança?

Você sabia que, entre amigos, colegas e familiares, há uma chance enorme de que pelo menos uma pessoa tenha tido a vida virada do avesso por uma tragédia ambiental? Pois é. Não estamos falando de estatísticas frias que ficam guardadas em planilhas de computador — estamos falando de gente. Gente como eu, como você, como qualquer brasileiro que acorda, toma seu café e, de repente, se vê com a casa tomada pela água, a rua desabando, o ar irrespirável pela fumaça ou o coração apertado ao ver que o vizinho perdeu tudo.
A mais recente pesquisa da Nexus em parceria com o Movimento União BR nos traz um retrato tão real quanto desconfortável: um em cada quatro brasileiros — ou seja, 25% da população — já viveu ou conhece alguém que foi diretamente impactado por tragédias ambientais. Estamos falando de 42 milhões de pessoas. Quarenta e dois milhões. O número é maior que a população inteira do Canadá.
Enchentes e alagamentos lideram a lista de desastres citados, seguidos por tempestades, deslizamentos de terra e queimadas. E por trás de cada uma dessas palavras existe uma história de luta, de perda, de recomeço — ou de abandono.
O Brasil que afunda (literalmente)
A região Sul, marcada pelas trágicas enchentes no Rio Grande do Sul entre abril e maio de 2024, é a que mais se destaca nos dados. Lá, quatro em cada dez pessoas (40%) foram direta ou indiretamente impactadas. Não é coincidência. O desastre que assolou o estado foi uma das maiores catástrofes ambientais da história do país. Casas soterradas, bairros inteiros submersos, milhares de famílias desabrigadas — e um sentimento de que poderia ter sido evitado.
Enquanto isso, o restante do país assiste às cenas com solidariedade, sim — mas também com um certo desconforto. Afinal, se aconteceu lá, pode acontecer aqui. E o pior: está acontecendo com mais frequência. Segundo a pesquisa, 78% dos brasileiros acreditam que as tragédias ambientais estão se tornando mais recorrentes. E eles têm razão.

Clima mudou, e a realidade também
Entre os que perceberam esse aumento, 74% associam diretamente ao avanço das mudanças climáticas. E quando olhamos para quem forma essa opinião, temos um retrato potente: mulheres, pessoas de 41 a 59 anos, com ensino superior e moradores do Sul. Gente que vê, sente e se informa. Gente que está conectada à realidade.
Mas e a preparação? A resposta é um balde de água fria. Literalmente. Sete em cada dez brasileiros nunca fizeram nada para se preparar para desastres. Nem reforçaram suas casas, nem estocaram alimentos. Nada. Apenas 22% disseram já ter tomado alguma medida preventiva — e entre os que já passaram por tragédias, esse número sobe para 42%.
Ou seja: só quem sente na pele começa a se proteger. Mas será que precisamos mesmo esperar a dor bater à nossa porta para agirmos?
A potência da empatia
Apesar de tudo, há algo a ser comemorado: a solidariedade brasileira. É exatamente esse espírito que move o Movimento União BR, como destaca sua presidente, Tatiana Monteiro de Barros:
“Temos acompanhado uma série de transformações sociais e visto como a população brasileira está cada vez mais empenhada em contribuir em contextos adversos.”
A pesquisa, segundo ela, ajuda a entender o comportamento coletivo e a desenhar estratégias mais eficazes de mobilização. Porque, sim, transformar o país passa por entender quem somos — e como reagimos diante do caos.
Um país no limite… e no despertar
O dado que mais me tocou como jornalista foi este: os brasileiros que convivem com pessoas afetadas por tragédias são os que mais buscam se prevenir. Isso revela algo poderoso: a empatia tem o poder de transformar o comportamento social. E é exatamente por isso que precisamos falar mais sobre isso. Precisamos colocar esses dados na roda, nos grupos de WhatsApp, nas salas de aula, nas rodas de conversa. E, principalmente, na mesa dos governantes.
Porque não dá mais para tratar tragédias ambientais como exceção. Elas são, hoje, parte do nosso cotidiano. E se quisermos um futuro diferente, precisamos agir no presente. Com informação, com planejamento, com políticas públicas e — por que não? — com amor ao próximo.
E que essa leitura da Revista Pàhnorama seja um convite: vamos transformar esse país de tragédias em um Brasil de prevenção, cuidado e humanidade?
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