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VIDA IDEAL: Como os influenciadores moldam o padrão de vida perfeita na internet

  • Foto do escritor: Gustavo Rangel
    Gustavo Rangel
  • 9 de set.
  • 3 min de leitura

Influencers digitais exercem papel central na construção de padrões de sucesso, beleza e felicidade nas redes sociais, construindo comportamentos e expectativas de vida.


“Influenciadores digitais ditam padrões de beleza, sucesso e felicidade nas redes sociais, moldando comportamentos e expectativas de vida.”
Foto - Shutterstock

A internet mudou a maneira como nos comunicamos, consumimos e, sobretudo, como percebemos a nós mesmos. Com o crescimento das redes sociais, particularmente nos últimos 15 anos, surgiram personalidades que conquistaram notoriedade e impacto por meio do estilo de vida que apresentam: os influenciadores digitais. Com milhões de seguidores, eles se transformaram em modelos, principalmente para os mais jovens, sobre como ter uma "vida perfeita".


O nascimento da vida perfeita


Embora o termo "influencer" possa parecer moderno, o conceito de personalidades públicas influenciando comportamentos existe há muito antes da era digital. A moda, a beleza e o comportamento sempre foram influenciados por artistas da TV, músicos e até personagens de novelas. A principal diferença é que, por meio das redes sociais, qualquer indivíduo que possua um celular e carisma suficiente pode se transformar em um influenciador.

 

Com plataformas como Instagram, YouTube e TikTok, o contato com a rotina dessas personalidades se tornou frequente. Porém, o que aparenta ser intimidade é, na realidade, uma construção meticulosamente editada. Viagens ao exterior, cafés caros, corpos perfeitos, casas arrumadas e relacionamentos ideais são retratados como rotinas habituais, quando, na verdade, são exceções meticulosamente elaboradas.


“Virginia Fonseca exibe corpo em biquíni durante viagem à Espanha, exemplo da estética de ‘vida perfeita’ retratada por influenciadores digitais.”
Virginia Fonseca em sua viagem à Espanha exibindo sem corpo em um biquíni. Foto: Instagram

O impacto psicológico e a responsabilidade dos influenciadores

 

Essa exposição contínua à "vida perfeita" tem causado efeitos graves. Pesquisas apontam que o uso constante de redes sociais está associado ao crescimento de ansiedade, diminuição da autoestima e depressão, particularmente entre os jovens. De acordo com um estudo conduzido por Keles, McCrae e Grealish (2020), publicado no Journal of Adolescence, há uma forte correlação entre o uso excessivo de mídias sociais e o aumento de sintomas depressivos e ansiosos em adolescentes.


A comparação entre a realidade de quem assiste e o "padrão inalcançável" apresentado leva muitas pessoas a se sentirem inadequadas ou fracassadas, como também demonstrado na pesquisa de Vogel et al. (2014), que identificou que a comparação social nas redes está diretamente ligada à diminuição da autoestima.


“Gráfico mostra diferença de uso de redes sociais entre meninas e meninos adolescentes, destacando impacto acima de 4 horas diárias.”
O gráfico mostra que meninas tendem a passar mais tempo nas redes sociais do que meninos, especialmente acima de 4 horas por dia. - Foto:"Social Media in Adolescents: A Retrospective Correlational Study on Addiction" (2023), publicado na revista Children.

Para especialistas em saúde mental, é fundamental ter em mente que o conteúdo compartilhado por influenciadores é uma vitrine, não um espelho. Os bastidores, os desafios e até os insucessos costumam ser escondidos, gerando a falsa impressão de uma vida perfeita.

Com a popularização do conceito de "influência digital", aumenta também a discussão acerca da responsabilidade desses produtores de conteúdo. Muitos começaram a adotar uma atitude mais aberta, exibindo fragilidades, insucessos e momentos desafiadores. Contudo, a maioria ainda continua a retratar uma imagem de sucesso ininterrupto, consumo excessivo e padrões de beleza inatingíveis.


Algumas nações já estão debatendo leis para exigir a identificação de imagens modificadas digitalmente ou conteúdos patrocinados, a fim de tornar mais evidente o que é real e o que é marketing.


O que é, afinal, uma vida ideal?


“Silhueta de jovens pulando na praia ao pôr do sol, simbolizando busca por felicidade, autenticidade e questionamento da ‘vida ideal’ nas redes.”
Silhueta de um grupo de pessoas pulando na praia - foto: Belle Co / Pixels

A questão que se coloca é: existe uma vida ideal única e válida para todos? A resposta é negativa. O ideal é uma construção subjetiva, moldada pelos valores, experiências e desejos de cada indivíduo. Em um cenário cada vez mais dominado por imagens filtradas e padrões irreais promovidos nas redes sociais, o verdadeiro desafio passa a ser a desconstrução da ideia de perfeição universal. Buscar uma vida que faça sentido pessoalmente livre de comparações, ilusões e pressões externas, tornando-se um ato de resistência e de autenticidade.


Em vez de seguir modelos prontos, talvez o caminho mais saudável seja reconhecer que a vida ideal não é uma meta padronizada, mas uma jornada única, construída de forma consciente e alinhada com aquilo que realmente importa para cada um.

 

 

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