A Transformação do Ser: Saúde, Corpo e Mente em uma Jornada de Autoconhecimento
- Cigana Carmem
- 31 de out. de 2024
- 3 min de leitura
Da luta pelos padrões de corpo à aceitação da saúde mental como parte da nossa essência

Hoje, senta que lá vem história – e das boas, porque falar sobre a evolução do corpo e da mente é, no fundo, falar sobre uma revolução. E não falo daquela transformação óbvia, mas sim de uma mudança profunda, quase invisível, que redefine nossa visão sobre o que é ser humano. Ao longo das últimas décadas, assistimos a uma série de ondas, de modas e comportamentos, que nos dizem muito sobre quem somos e como queremos ser vistos.
Quem viveu as décadas de 1980 e 1990 talvez lembre bem da obsessão pelo “corpo perfeito”. As academias se multiplicavam como nunca, a indústria da dieta dominava as prateleiras, e nomes como Jane Fonda, com suas rotinas intensas de aeróbica, se tornaram verdadeiros ícones do movimento fitness. Era um tempo em que se buscava um físico rígido, moldado, que era visto como ideal de saúde e beleza. Mas, ironicamente, enquanto os corpos ganhavam força, a mente nem sempre recebia o mesmo cuidado. Os problemas de saúde mental ainda eram varridos para debaixo do tapete, considerados um “luxo” ou fraqueza.
A partir dos anos 2000, essa visão começou a ser questionada. Com o avanço da internet, o acesso à informação sobre saúde e comportamento explodiu, e a sociedade começou a entender que a saúde do corpo não existia sem a saúde da mente. Com isso, figuras como Brené Brown e Jordan Peterson ganharam espaço, discutindo vulnerabilidade e o poder de assumir as próprias limitações, abrindo um novo espaço para a saúde mental na cultura popular.
A questão dos padrões de corpo também sofreu uma grande transformação. Um exemplo notável é o movimento “body positivity”, que, surgido nos anos 2010, trouxe um novo olhar para corpos diversos, questionando as pressões da mídia e a idealização do corpo magro e musculoso. O body positivity se tornou um sopro de ar fresco para quem, durante anos, se sentiu marginalizado por não caber em um ideal estético quase inatingível. Esse movimento, encabeçado por celebridades como Lizzo e Ashley Graham, levantou a bandeira da aceitação, fazendo com que milhões de pessoas sentissem que finalmente podiam existir e serem vistas sem vergonha ou repressão.

Agora, em pleno 2024, observamos um novo momento de autoconhecimento, o “body neutrality”. Diferente da celebração constante do body positivity, essa nova fase encoraja as pessoas a verem seus corpos de forma neutra – como veículos para viver e experienciar a vida, sem idealizações ou pressões externas. Segundo um estudo do Instituto Ipsos, 64% dos brasileiros relatam que o cuidado com a saúde mental é hoje tão importante quanto o físico. Esse dado fala muito sobre o momento atual, em que vemos as terapias alternativas, como a meditação e a prática de mindfulness, se tornarem populares e acessíveis, levando-nos a um diálogo mais aberto sobre saúde mental e autocompaixão.
Além disso, é interessante observar como os avanços tecnológicos e as redes sociais impactaram nosso comportamento. Hoje, qualquer um pode acessar, de casa, práticas de bem-estar que antes pareciam exclusivas. Desde aplicativos de meditação até consultas de terapia online, temos à nossa disposição uma infinidade de recursos que nos ajudam a cuidar da mente. Isso revela uma mudança de valores: a saúde, agora, é tratada de forma holística, integrando mente e corpo em um equilíbrio nunca antes visto.
Os dados sobre saúde mental refletem bem essa necessidade de atenção integral. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 18 milhões de brasileiros sofrem de ansiedade, e a depressão afeta outros 11,5 milhões. Esse cenário levou a sociedade a refletir sobre o que realmente importa: viver em paz com nós mesmos, em nossos corpos, livres de padrões inalcançáveis e exigências que só geram frustração e dor.
Não podemos esquecer que essa jornada ainda é desafiadora. Vivemos em uma sociedade onde a exposição é constante, onde as redes sociais nos bombardeiam com ideais inatingíveis e pressões externas. Mas, apesar disso, a busca pela saúde mental e pelo autoconhecimento só aumenta, provando que estamos mais conscientes sobre a importância de um corpo e mente saudáveis.

A grande mudança aqui é que, diferente de épocas anteriores, nossa geração não busca mais se encaixar em moldes externos. Queremos encontrar nossa paz interior, construir um estado de saúde que vá além do físico e ressoe com nosso verdadeiro ser. Essa é a nossa revolução: um retorno à essência humana, que une corpo e mente em uma dança harmoniosa, repleta de desafios, sim, mas também de autodescoberta e plenitude.
Essa jornada é só nossa, e ninguém poderá trilhá-la em nosso lugar. E, em tempos tão confusos, onde cada passo conta, o melhor que podemos fazer é seguir em frente, buscando cada dia mais o equilíbrio, seja no corpo, na mente ou na alma.
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